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RAIMUNDO EVALDO PONTE (1921-2008)
O "velho sabiá" dos tribunais do Ceará
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
"O Tribunal do Júri está de
luto", disse o poético colega
de Evaldo Ponte. Já não se
ouve "seu canto doce e mavioso, que encantou a tribuna do júri, advogados, juízes,
promotores e as platéias cativas por mais de 40 anos
"nas comarcas do Ceará".
Homem de olhos castanhos pequenos, que apertava
quando falava em defesa do
réu, "era bem mais de defender do que de acusar", diz a
viúva. "Gostava era do júri."
Até atuou como promotor de
Justiça, mas logo enveredou
pela defensoria pública.
Desde que abriu o escritório homônimo, em 1945, viveu da defesa criminal, bastião que era da "advocacia romântica", feita mais pela oratória do que pelos códigos.
"Foi destes advogados que
brotaram do chão nordestino, crescendo como um cacto: sem muitos recursos, mas
com uma vontade incrível de
vencer", diz o amigo. O chão
era o de Granja (CE), onde
nasceu e cresceu, filho do dono do cinema -o que "escolhia os filmes que a cidade inteirinha ia ver", como conta a
viúva. De lá saiu para estudar
em Fortaleza, direito, e ficou
de vez na cidade grande.
Advogou por quase 60
anos, sempre de paletó, óculos e uma postura mansa "de
lorde inglês", que "de afobado não tinha nada". Como
diz o amigo, "as palavras jorravam da boca, mas provinham do coração". Advogou
"enquanto a saúde deixou".
Morreu quarta, de embolia
pulmonar, aos 87. Foi quando, como disse o poético amigo, "o velho sabiá silenciou".
obituario@folhasp.com.br
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