São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2008

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RAIMUNDO EVALDO PONTE (1921-2008)

O "velho sabiá" dos tribunais do Ceará

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"O Tribunal do Júri está de luto", disse o poético colega de Evaldo Ponte. Já não se ouve "seu canto doce e mavioso, que encantou a tribuna do júri, advogados, juízes, promotores e as platéias cativas por mais de 40 anos "nas comarcas do Ceará".
Homem de olhos castanhos pequenos, que apertava quando falava em defesa do réu, "era bem mais de defender do que de acusar", diz a viúva. "Gostava era do júri." Até atuou como promotor de Justiça, mas logo enveredou pela defensoria pública.
Desde que abriu o escritório homônimo, em 1945, viveu da defesa criminal, bastião que era da "advocacia romântica", feita mais pela oratória do que pelos códigos.
"Foi destes advogados que brotaram do chão nordestino, crescendo como um cacto: sem muitos recursos, mas com uma vontade incrível de vencer", diz o amigo. O chão era o de Granja (CE), onde nasceu e cresceu, filho do dono do cinema -o que "escolhia os filmes que a cidade inteirinha ia ver", como conta a viúva. De lá saiu para estudar em Fortaleza, direito, e ficou de vez na cidade grande.
Advogou por quase 60 anos, sempre de paletó, óculos e uma postura mansa "de lorde inglês", que "de afobado não tinha nada". Como diz o amigo, "as palavras jorravam da boca, mas provinham do coração". Advogou "enquanto a saúde deixou". Morreu quarta, de embolia pulmonar, aos 87. Foi quando, como disse o poético amigo, "o velho sabiá silenciou".

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