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AMBIENTE
Na Estação Ecológica Juréia-Itatins, a vegetação que existia numa área de cerca de 136 hectares já foi destruída
Patrimônio mundial é desmatado em SP
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
LUIZ CARLOS MURAUSKAS
REPÓRTER FOTOGRÁFICO
Após 75 minutos de "escalada"
rumo ao topo de um morro no
paraíso ecológico da Juréia, o verde da mata atlântica se transforma numa mistura de cinza, marrom e preto. A floresta dá lugar a
uma imensa clareira com árvores
centenárias ao chão, queimadas.
O cenário desmatado tem quase
o equivalente a três campos de futebol. Destruído nos últimos meses, aumentou o débito com a Estação Ecológica Juréia-Itatins, que
já chega a 190 campos desde 2004.
A região é considerada Sítio do
Patrimônio Natural Mundial pela
Unesco. Localizada no Vale do Ribeira (SP), possui uma área total
de 80 mil hectares que atinge quatro municípios diferentes: Miracatu, Itariri, Peruíbe e Iguape.
Em tese, apenas pesquisadores e
grupos autorizados pelo Instituto
Florestal (IF) podem fazer uso do
local, além das famílias que já moravam ali antes da criação da estação ecológica, em 1987. Segundo o
último levantamento, em 1990,
seriam 365, todas elas em precárias condições de vida.
Mas suspeita-se de que fazendeiros situados em seu entorno
têm invadido a área para ampliar
o cultivo da monocultura da banana. Tanto que, em meio ao cinza-marrom-preto da clareira, já é
possível visualizar pés de banana
em crescimento.
Por meio de sobrevôos e trabalhos de campo, o IF tenta mapear
e combater a devastação na Juréia. Trabalho difícil para quem
possui apenas 43 funcionários no
local, sendo 32 vigias.
Muitos moradores auxiliam na
vigilância. "Não é justo que os
moradores da área sejam proibidos de tudo e pessoas de fora acabem desmatando. Exijo que as
autoridades façam o reflorestamento", disse o agricultor Roberto Oyaizu, 48.
Ele diz que, em razão dos desmatamentos, uma nascente já secou e outra está nesse mesmo caminho. Segundo Oyaizu, os moradores só perceberam esse último ponto de desmatado porque
os criminosos, além de cortar a
vegetação, colocaram fogo.
Segundo o engenheiro florestal
Joaquim de Marco Neto, responsável do IF pela Juréia, a área sofre
grande pressão externa (das cidades do entorno e fazendeiros) e
interna (dos moradores do local).
De acordo com ele, suspeita-se
de que pessoas de São Paulo e
Santos contratem os moradores
da região para desmatar o local
com a promessa de que depois
trabalharão como meeiros na comercialização da banana.
Os assentados em Vista Grande,
região limítrofe à estação, também são suspeitos de tentar ampliar sua área de plantio de banana para dentro da Juréia.
Fiscalização
Na entrada da estação pelo bairro Despraiado há placas com o
seu nome. Porém, não há nenhum guarda-parque no local
-a casa que era usada como base
está completamente abandonada.
Segundo o engenheiro, isso se
deve à "falta de pessoal" no IF. Ele
estima que, para melhorar a fiscalização, deveria haver mais quatro
postos de vigilância dentro da estação. E considera Despraiado o
ponto prioritário para uma base.
O governador Geraldo Alckmin
(PSDB) autorizou em julho a realização de um concurso público
para a contratação de 120 vigias
para o preenchimento de cargos
vagos no IF -mas não está definido ainda quantos dos futuros
contratados irão para a Juréia.
Na opinião do diretor da SOS
Mata Atlântica, Mario Mantovani, como os guarda-parques não
podem andar armados, só sua
presença não resolveria o problema. "A barra é pesada na Juréia. A
falta do poder público na região
fez com que isso ocorresse. Agora,
é preciso uma ação emergencial,
fazer uma fiscalização maior e,
principalmente, um trabalho de
inteligência para descobrir os
mandantes dos desmatamentos."
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