São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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COMPORTAMENTO

Usada no início por xamãs mexicanos, "Salvia divinorum" é vendida na internet como alucinógeno

SP tem droga que foi moda no verão europeu

DO "AGORA"

Em sintonia com a tendência européia de usar drogas naturais ao invés de sintéticas, chegou à cidade de São Paulo a Salvia divinorum, planta de origem mexicana com poderosos efeitos alucinógenos, a exemplo do mais conhecido LSD, o ácido lisérgico.
Embora não haja registro de problemas de saúde atribuídos ao uso da droga, as conseqüências da ação da planta no organismo ainda são desconhecidas. No Brasil, a droga não é ilegal nem para consumo nem para venda, daí a facilidade de encontrar a planta.
A exemplo de outras substâncias de efeito semelhante, a droga faz com que o usuário perca a consciência e, a princípio, poderia causar sérios danos à saúde.
Como a pessoa perde os sentidos, teria problemas para atividades normais, como dirigir.
"Parece um pouco com sonho, mas muito mais vívido, "real" e significativo. Já experimentei outros alucinógenos (como LSD e psilocibina) e, com certeza, a Salvia divinorum foi o mais forte e assustador", relata um usuário, que preferiu o anonimato.
Um dos primeiros a se manifestar sobre essa tendência no país e a escrever sobre a Salvia divinorum foi o juiz aposentado e ex-secretário nacional Antidrogas Walter Maierovitch, uma das maiores autoridades do país em entorpecentes ilegais.
"Vinte e sete jovens morreram na Europa porque usaram drogas impuras, de laboratórios de fundo de quintal. Elas [as sintéticas] continuam imbatíveis lá, mas existe uma grande busca por produtos naturais." disse.
Segundo Maierovitch, o verão europeu -que coincide com o inverno no Brasil- sempre apresenta novas tendências mundiais no consumo de drogas.
"Essas novas drogas acabam chegando ao Brasil, mas com atraso e de uma maneira um pouco diferente", afirmou o juiz.

Internet
Um dos sinais de início de consumo da planta no país é a criação da comunidade Salvia divinorum Brasil, no Orkut (rede virtual de relacionamentos).
Até a última sexta-feira, o grupo tinha 348 membros. Na comunidade, os integrantes trocam informações sobre como adquirir a droga e relatam as experiências que tiveram com ela.
A droga é vendida pela internet em sites hospedados no exterior. O único registro de venda no Brasil encontrado pela reportagem foi no site de leilões virtuais Mercado Livre.
No último dia 28, um usuário registrado como "Salviabrasil" vendeu cinco gramas de folhas secas de Salvia divinorum por R$ 45. A direção do site afirma ter ficado sabendo da venda da nova droga por meio da reportagem.
"Temos uma equipe de 25 pessoas que se dedica a monitorar e a filtrar os anúncios ilegais. Muitas vezes vamos além das leis", afirmou o diretor-presidente do Mercado Livre, Stelleo Tolda.
"Esse [Salvia divinorum] não é o tipo de produto que nos interessa. Agora que ficamos sabendo do que se trata, não haverá mais [venda]", afirmou.
Os sites encontrados pela reportagem vendem a droga, falam das propriedades do produto e fazem ainda alguns alertas, entre eles o de jamais tomar o entorpecente desacompanhado. Também há endereços na internet que tratam do uso da droga para transes supostamente religiosos.

Legislação
A droga é legal na maioria dos países, inclusive no Brasil. As exceções são a Itália e a Austrália, onde a droga é ilegal para uso e também para venda. No Japão, na Dinamarca, na Finlândia e na Coréia do Sul, a droga é proibida apenas para comercialização.
A Polícia Federal informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que só são consideradas ilegais algumas substâncias citadas na portaria 344 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A salvidorina, princípio ativo da Salvia divinorum, não está na lista. (LÍVIA SAMPAIO)


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