São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2011

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Ex-traficante sai da cadeia direto para as passarelas

Diego Santos, 26, foi solto há duas semanas e já sonha com a nova carreira

Jovem entrou para o crime aos 16 anos; status na favela, mulheres e dinheiro fácil foram os atrativos

ANTÔNIO GOIS
DO RIO

Quando decidiu se entregar ao perceber que, daquela vez, a polícia finalmente entraria para valer no Complexo do Alemão, Diego da Silva Santos, 26, o "Mister M", fez questão de escolher sua melhor camisa. "Falei assim: Pô, tenho que me entregar na moda, bonitão, com a roupa que eu mais gosto."
Sua prisão teve grande repercussão no meio do noticiário da ocupação do Alemão, em novembro do ano passado, pois fora levado pessoalmente pela mãe, Nilza dos Santos, para o 6º DP.
Usava uma camisa polo azul, da grife Reserva. Vários jornais estamparam sua foto, em que aparece bem vestido e sorrindo, o que foi interpretado como sinal de deboche.
"Sabe por que eu tava rindo? É que dois fotógrafos chegaram correndo na delegacia, e um tropeçou no outro. Daí todo mundo riu."
Ele chegou à delegacia sem saber o que o esperava. Era suspeito de envolvimento no assassinato de Antônio Ferreira, o Tota, chefe do tráfico no Alemão até 2008. "Foi o Mister M que executou o Tota", diz o refrão de um funk.
"Não sabia o que estava devendo na Justiça, mas decidi me entregar. Pensei: seja o que Deus quiser. E fui. O escrivão puxou minha ficha e falou que eu ia sair rapidinho. Ele disse que não tinha nada. Só associação ao tráfico."
Diego entrou para o crime aos 16 anos. Até os 25, idade que tinha ao se entregar, não saiu do Alemão nem uma vez. Comprava as roupas de grife que gostava por encomenda.
Os traficantes lhe ofereceram R$ 150 para carregar mochilas e fazer pequenos favores. Aceitou. Ainda não pegava em armas, mas foi ganhando a confiança.
Aos 18, assumiu a função de segurança do chefe do tráfico, passou a andar armado e a receber R$ 500 semanais.
Além do dinheiro, a nova posição lhe trazia status. E mulheres."É uma das coisas que mais te prendem lá. Era muita mulher mesmo. Cada dia aparecia uma mais bonita, mais gostosa."

MUDANÇA
José Júnior, coordenador da ONG AfroReggae, conheceu Diego há quatro anos. "Tem cara que nasceu para o crime. Não era o caso dele."
Diego deixou o presídio de Bangu 3 há duas semanas. Foi absolvido da acusação. Começou a trabalhar no AfroReggae, e terá uma posição de destaque em um novo projeto que a ONG articula com a grife Reserva, a da blusa azul que ele usava no dia em que foi preso.
A empresa lançará o selo AR. As roupas serão vendidas nas lojas da Reserva, e a renda revertida para o AfroReggae. Ele foi escolhido para ser o símbolo desta parceria.
"Mister M" mudou de vida e será modelo. Uma reviravolta para quem, até então, só posara para fotógrafos dentro de uma delegacia.


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