São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2004

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AMBIENTE

Área verde, que completou 65 anos, faz amanhã 18 de tombamento

Aclimação celebra datas de seu parque

MAYRA STACHUK
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Amanhã, o parque da Aclimação, na zona sul de São Paulo, completa 18 anos de seu tombamento, que o integrou ao patrimônio histórico do Estado. No último sábado, houve a comemoração dos 65 anos de sua criação.
Antes de ser parque, a área era privada, criada pelo médico Carlos José Botelho. Inspirado no modelo parisiense Jardin d'Acclimation, o espaço era destinado à criação e aclimatação de gado.
A utilização pelo público começou em 1900 e, na década de 20, já tinha um grande número de freqüentadores que lá praticavam atividades como remo e natação.
Em 1939, na gestão de Prestes Maia, a área foi adquirida pela prefeitura. Segundo registro da arquiteta Rosa Grena Kliass no livro "Parques Urbanos de São Paulo", após a compra, ficou em estado letárgico até 1955, quando a reforma, que construiu a concha acústica e colocou iluminação, voltou a atrair a população.
Segundo o professor de paisagismo Silvio Macedo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, o parque da Aclimação vai além dos papéis fundamentais das áreas verdes urbanas (espaço de lazer e preservação de reservas naturais). "Ele cumpre a função das praças, ausentes naquela região. É um ponto de encontro, referência do bairro", diz Macedo, autor do livro "Parques Urbanos no Brasil". "O Aclimação tem como diferencial o perfil romântico. Ele mantém o charme, mesmo tendo sido modernizado."
Hoje, passam pelo parque durante a semana cerca de 1.500 pessoas por dia, segundo a administração. Nos fins de semana e feriados, esse número chega a 5.000.
A aposentada Maria da Glória Garcia Coelho, 68, que mora no bairro há 40 anos, diz que caminha no parque todas as manhãs. "É um lugar muito agradável, a principal área verde que temos. Me sinto em paz aqui."
O autônomo Mario Cesar Leite, 36, costuma correr à tarde. "É difícil respirar ar puro na Aclimação. Se não fosse esse parque, eu teria de pegar o carro e ir para áreas verdes mais distantes."
Há oito anos, o músico Elias Muniz da Silva, 52, enche as manhãs do parque da Aclimação com os sons de jazz e blues que ele tira do seu velho trompete, da marca Cohn.
Para ele, a prática não passa de um exercício de repasse das notas. "Fico três, quatro horas treinando, no meio das árvores. No final, o som está vibrante e harmonioso. É um momento intimista, nem sinto a presença das pessoas."
Mas, na opinião de alguns dos freqüentadores do parque, os acordes do trompetista já viraram parte do espaço público.
"Sinto falta quando não ouço o som", diz a aposentada Ana Clara Guimarães, 65, que diz ter mudado o horário da sua caminhada só para coincidir com o momento em que o músico está no parque.
"É muito melhor caminhar ouvindo um jazz ou um blues, mesmo que, às vezes, haja bastante interrupção", diz Ana, referindo-se às paradas que os músico dá entre um exercício e outro.
Carioca de Niterói, onde tocava na banda municipal, Silva está há 15 anos em São Paulo. Vive das aulas de música que ministra e das apresentações que faz em festas e igrejas evangélicas.

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