São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2004

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Feirante gasta R$ 800 por mês para alimentar gatos

DA REPORTAGEM LOCAL

Toda noite, a feirante Satiko Motoie Simmio, 56, vai ao parque Tenente Siqueira Campos, o Trianon, na av. Paulista (zona oeste de SP), alimentar os gatos que vivem no local -cerca de 25, diz ela. O ritual dura 15 anos, apesar das críticas dos que acham que atitudes como a dela estimulam o abandono de animais em parques. "Muitos falam que não posso colocar alimento, ameaçam chamar o Centro de Controle de Zoonoses. Aprendi a não me incomodar, não sou eu quem vai matá-los. Agindo assim, sinto-me útil."
A feirante resolveu que iria alimentar animais abandonados quando ainda era criança. "Decidi que, quando começasse a trabalhar, dedicaria os primeiros 15 anos a ajudar pessoas, especialmente crianças, e fiz isso, com doações e trabalho voluntário. Depois, iria ajudar os animais. E é isso que estou fazendo", diz a feirante, que costuma gastar R$ 800 por mês em ração e remédios.
Na comida dos gatos, ela inclui anticoncepcional e antibióticos, de modo a evitar que eles adoeçam e se reproduzam. Devido a esses cuidados, diz que os bichos não representam nenhum problema aos usuários do parque.
Nem todos, porém, possuem a mesma opinião. "Principalmente para quem tem criança, a presença desses animais é um incômodo", afirma a dentista Ana Maria Dezordi, 59, que no sábado passeava com a família no parque da Aclimação (zona sul). Enquanto seu neto brincava no parquinho, ela reclamava do cheiro da areia. "Com certeza tem gato andando por aqui à noite. Minha neta chegou a ficar doente por brincar em areia contaminada em parques."
A pesquisadora Patrícia Pena, 39, teve um problema parecido. "Minha filha pegou uma dermatite em um parque, a sola do pé descascou toda. O médico disse que era uma contaminação por fezes de gatos", afirma.
Mas a feirante Satiko também tem apoiadores, como a operária Ana Cristina Borba, 37. "Sem dúvida a gente tem que alimentá-los. Não posso ver animal com cara de fome por perto. Morro de dó."

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