São Paulo, domingo, 04 de outubro de 2009

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Estado prevê criação de anel hidroviário pelo rio Tietê

Licitação para estudar a viabilidade de Hidroanel Metropolitano já foi lançada

Projeto, com custo estimado de R$ 2 bilhões, inclui o rio Pinheiros e represas Billings e Guarapiranga para transporte de cargas e passageiros

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo do Estado tirou da gaveta um projeto que pretende transformar o poluído e malcheiroso rio Tietê em uma via navegável repleta de barcos e balsas para o transporte de passageiros e cargas.
A ligação do Tietê ao Pinheiros e às represas Billings e Guarapiranga (zona sul de São Paulo) formaria o Hidroanel Metropolitano de São Paulo, um plano ambicioso, para mais de uma década, já estimado em cerca de R$ 2 bilhões.
O primeiro passo foi dado na semana passada, com a abertura da licitação, de R$ 1,7 milhão, para contratar estudos da viabilidade técnica, econômica e ambiental do hidroanel.
Para o governo, a conclusão da ampliação da calha do Tietê e o andamento de programas de despoluição desse rio e do Pinheiros abrem a possibilidade de se pensar no transporte de passageiros. Hoje, o Tietê tem 41 km navegáveis, entre Santana de Parnaíba e a barragem da Penha, em São Paulo. A Penha ganhará uma eclusa, que estenderá o percurso em mais 14 km, até São Miguel Paulista.
Na outra ponta, zona oeste de São Paulo, o plano integra mais 25 km do Pinheiros, o que exigirá transposições no Retiro e na barragem da Traição. Há previsão ainda de incorporar a Billings, com mais 30 km, e depois a região do reservatório Taiaçupeba, via canal artificial.
Além do transporte fluvial de passageiros, serviço que já tem interesse de ao menos uma empresa de ônibus de São Paulo, o governo pretende atrair para o hidroanel o transporte de lixo urbano, de produtos hortifrutigranjeiros movimentados na Ceasa, de areia para construção civil e do lodo que a Sabesp retira de estações de tratamento.

Ramal de cargas
Transportar pessoas pelos rios Tietê e Pinheiros tem um obstáculo muito reconhecido pelos paulistanos: o cheiro.
É uma opinião compartilhada pelos engenheiros Rui Carlos Botter, professor titular de Transportes e Logística da USP, e Dario Rais Lopes, ex-secretário de Estado dos Transportes de São Paulo e atualmente consultor privado.
"É possível montar uma infraestrutura eficiente, mas o maior obstáculo é o cheiro do rio. Em 2007, tentei fazer uma visita ao Tietê com um grupo durante um congresso internacional, mas não deu. Ninguém suportaria", afirma Botter.
Para se tornar viável, os barcos de passageiros exigem uma velocidade competitiva com a dos trens e ônibus. "Depende muito de rapidez, mas, como percorre as marginais, que são lentas, pode ser possível. E, no futuro, caberia uma exploração turística", diz o professor.
Dario Rais afirma que a proposta, "à primeira vista, não parece ortodoxa. Só que São Paulo, do jeito que as coisas estão, não pode ser descartar nenhum tipo de meio de transporte".
Segundo Rais, só com uma integração entre diversos meios é que a estrutura urbana da cidade avançará. "Com uma melhor capacidade de transporte, podemos pensar em não tapar ainda mais a marginal, como está sendo feito hoje."


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