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Gratagliano, o pracinha
WILLIAN VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando Vicente Gratagliano entrou naquele navio com
os outros pracinhas pensou
que iria para a Bahia fazer
exercícios militares -e nem
imaginava que passaria 14
dias vomitando, ao atravessar o Atlântico com a Força
Expedicionária Brasileira
rumo à guerra.
O palmeirense nascido no
Brás passou a infância jogando bola, indo pouco à escola e
trabalhando como engraxate. Era vendedor de peixes
quando foi chamado pelo
Exército, em 1944 e partiu
para a Itália no primeiro pelotão da primeira companhia
do primeiro batalhão do sexto regimento.
"Todos morriam de medo,
mas ao mesmo tempo a gente tentava mostrar valentia
diante dos companheiros,
para não parecer fraco", dizia, sempre que encontrava
ouvidos pródigos. Cada médico do hospital, nos últimos
meses, sabia de suas histórias com detalhes. A preferida era a da medalha -quando foi premiado por ter matado dois alemães em uma
engenhosa emboscada no
meio da neve.
Mas ele não se orgulhava
dos tiros e preferia não fazer
as contas que quantas "vidas
inimigas" tirara na guerra.
Orgulhava-se, porém, do
amor por uma italiana, que
até hoje azeda a memória da
família. Voltou para o Brasil
e foi feirante até 1977. Desde
então dedicava-se a fazer casinhas de papelão para as
crianças do bairro.
Quando delirava, já internado na UTI, reclamava do
tamanho da trincheira em
que havia sido colocado -
"não vai caber os outros soldados", balbuciava. Morreu
pensando na guerra, no hospital em São Paulo, aos 88
anos.
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