|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HABITAÇÃO
Lideranças de dois dos principais grupos de moradia popular de São Paulo trabalham para parlamentares do PT
Político paga R$ 5,3 mil a líder sem-teto
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem-teto líderes do Fórum dos
Cortiços e da União dos Movimentos de Moradia (UMM), dois
dos principais movimentos organizados da cidade de São Paulo,
ganham até R$ 5.300 no gabinete
do deputado estadual Henrique
Pacheco e do vereador José Laurindo de Oliveira, ambos do PT.
Apesar de alguns já terem até vivido em prédios invadidos, os líderes empregados pelos políticos
possuem casa, carro zero-quilômetro e outros confortos que nenhum dos "companheiros" que
se aventuram, com eles, a invadir
imóveis sonha ter.
Dados da Apoio Associação de
Auxílio Mútuo, organização não-governamental que dá suporte a
associações populares pró-moradia, mostram que a renda média
dos sem-teto em São Paulo é de
R$ 200 por mês. Cerca de 90%
têm renda inferior a R$ 540.
A cooptação de lideranças é
condenada pela secretária nacional de Movimentos Populares do
PT, Sônia Hypolito. "O partido
defende a autonomia dos movimentos. Não há problemas em
contratar militantes, desde que
por sua competência. Ele pode
exercer sua militância, mas fora
do horário de trabalho. A mistura
de funções no gabinete é desaprovada. Os partidos de direita é que
costumam fazer isso", afirma.
De acordo com Sônia, não existe nenhuma acusação contra Pacheco ou Laurindo na Comissão
de Ética do partido. "Não conheço a história deles a fundo para
poder comentá-la."
Dentro do PT, Pacheco é da corrente Democracia Radical, considerada moderada, na qual figuram o deputado federal José Genoino e o secretário municipal da
Saúde, Eduardo Jorge.
Coordenação
Atualmente, são cinco os principais movimentos de sem-teto em
São Paulo. Juntos, eles mantêm
cerca de 12,5 mil famílias cadastradas e 15 prédios ocupados. A
UMM atua como coordenadora
geral desses grupos.
Evaniza Lopes Rodrigues e Donizete Fernandes de Oliveira, que
respondem pela UMM, são contratados como secretária parlamentar e assessor especial de
Henrique Pacheco. O salário inicial desses cargos, na Assembléia
Legislativa, é de R$ 3.081,31 e R$
5.347, respectivamente.
Donizete tem ainda um reforço
no orçamento vindo do salário da
mulher, Vera Eunice Rodrigues
da Silva, que trabalha como secretária assistente parlamentar (salário inicial de R$ 1.000) para o vereador José Laurindo.
Apesar da boa renda familiar, o
casal mora em um apartamento
construído em mutirão no Residencial Vila Verde, na região de
Parada de Taipas (zona norte).
Os prédios foram erguidos em
convênio com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São
Paulo). Para alguém adquirir um
imóvel da companhia, é necessário comprovar uma renda familiar de, no máximo, dez salários
mínimos (cerca de R$ 1.800).
Os prédios foram entregues há
três anos. O casal trabalha para os
políticos, pelo menos, desde 1996.
De acordo com a CDHU, os nomes de Vera e Donizete não constam do cadastro de mutuários. Os
dois coordenavam o cadastramento das famílias interessadas
em formar cooperativas de mutirões naquela região.
Nove de Julho
Além de Evaniza e Donizete, o
deputado estadual Henrique Pacheco emprega mais duas lideranças de sem-teto: Veronika
Kroll, coordenadora-geral do Fórum dos Cortiços, e a ex-freira
Maria Inês Volpato, que também
integra o Fórum. Ele tem o total
de 13 funcionários.
Veronika e Maria Inês ocupam
o cargo de auxiliar parlamentar,
cujo salário inicial, na Assembléia
Legislativa, é de R$ 2.248,29. O vereador José Laurindo emprega
outros dois sem-teto, além de Vera, mas de menor influência.
A coordenadora Veronika, por
exemplo, foi responsável pela
mais conhecida e conturbada invasão da cidade, a do prédio do
INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), na avenida Nove de Julho, no centro de São Paulo.
No dia 2 de novembro de 1997,
um exército de cerca de mil sem-teto invadiu o edifício de 14 andares, onde vivem hoje 90 famílias.
Em 1999, a líder foi retirada da
coordenação por seus antigos seguidores, que a acusam de ter desviado R$ 63 mil do "condomínio"
do prédio ocupado. Ninguém
provou o desvio até hoje.
A invasão é considerada a maior
da América Latina. No início deste ano, o prédio seria visitado pelo
primeiro-ministro francês, Lionel
Jospin, que acabou desmarcando
o compromisso em cima da hora.
Depois da saída de Veronika, o
prédio foi assumido pelo MSTC
(Movimento dos Sem-teto do
Centro), que surgiu de um grupo
de ex-líderes do Fórum.
Veronika é uma personagem
polêmica entre os sem-teto. Já
morou em várias invasões, mas
possui, na verdade, um sobrado
na Vila Industrial e outra casa e
um comércio em construção na
região do Jardim Iguatemi, ambos na zona leste de São Paulo.
Texto Anterior: Incêndio: Funcionário morre em explosão de destilaria Próximo Texto: Outro lado: Para envolvidos, acusações são "impertinentes" Índice
|