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CRIME NO BROOKLIN
Em depoimento ontem à Justiça, um culpou o outro pelo planejamento do assassinato dos pais dela
Suzane e o namorado trocam acusações
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Suzane Louise von Richthofen,
19, e seu namorado, Daniel Cravinhos de Paula e Silva, 21, apresentaram ontem versões diferentes
sobre a morte do casal Marísia e
Manfred von Richthofen, pais da
estudante. Um culpou o outro pelo duplo assassinato e nenhum
dos dois assumiu a idéia da autoria do crime.
Para Suzane, Daniel foi o autor
da idéia e planejou o crime. Ela teria sido "seduzida" e "convencida" pelo namorado a participar
do crime. "Ele foi plantando essa
semente." Para Daniel, foi Suzane
quem teve a idéia do crime. E, segundo ele, teria decidido matar
por "birra", pois não conseguia ir
a barzinhos e namorar.
As versões contrastantes dos
namorados de três anos foram
ouvidas ontem, no 1º Tribunal do
Júri, onde tramita o processo. Marísia e Manfred foram mortos a
pancadas quando dormiam em
casa, no Brooklin (zona sul de
SP), no dia 30 de outubro.
Suzane, Daniel e Cristian Cravinhos de Paula e Silva, 27, irmão de
Daniel, confessaram o crime nove
dias depois. Eles foram ouvidos
ontem separadamente.
De tranças -nos depoimentos
à polícia, ela sempre encobria o
rosto com o cabelo- e vestindo
saia, camiseta e tênis, Suzane foi a
primeira a falar. Mesmo chorando, ela foi logo defendendo uma
tese previsível, segundo o promotor de Justiça Roberto Tardelli.
Ela disse que Daniel virou uma
"obsessão" e que ele, aos poucos,
a convenceu a matar seus pais.
"Ele me convenceu que era o meu
príncipe encantado e que tudo seria perfeito", afirmou Suzane.
Ela falou que o namorado resolveu arrumar uma arma e matar o
casal em maio, quando ela recebeu um tapa no rosto dado pelo
pai durante uma discussão. Segundo ela, teria sido a primeira
vez que o pai a agrediu. Os pais
eram contra o namoro porque,
segundo ela, Daniel "não tinha o
mesmo nível social e cultural".
Foi em julho, quando os pais
viajaram e os namorados ficaram
na casa da família, que o crime teria sido definido. "Ele colocou
uma bifurcação: ou ficava com
meus pais sem ele ou ficava com
ele sem os meus pais", afirmou.
Suzane também disse que foi
Daniel quem a estimulou a usar
maconha. "Usava maconha para
fugir. Eu amava muito os meus
pais e estava desesperada", disse.
Mas ela negou ter participado do
planejamento do crime.
A estudante disse que soube na
tarde anterior que seus pais seriam mortos. A notícia teria sido
dado a ela na casa de Daniel. "Relatou a idéia e eu obedeci."
No final do depoimento, Suzane
tentou mostrar que estava arrependida -uma das teses da defesa para amenizar a pena. "Daniel,
que se dizia o meu príncipe encantado, só trouxe coisas ruins
para mim", disse.
Sem submissão
Os depoimentos de Daniel e
Cristian, no entanto, negam que
Suzane tenha sido submissa. Daniel relata uma jovem decidida,
que teve a idéia de matar os pais.
Segundo ele, Suzane estava tão
decidida a cometer o crime que,
ao entrar na casa para matar o casal, chegou a mandar que Daniel e
o irmão fizessem silêncio. Os dois
tinham batido a porta do carro e
feito barulho ao entrar na casa.
Daniel e Cristian falam que Suzane relatava que os pais bebiam
muito. Cristian chegou a falar que
a estudante relatou a ele uma suposta tentativa de estupro cometida pelo próprio pai. Essa informação não estava no processo e foi
considerada improvável pelo promotor e pelos advogados dela.
Daniel tentou amenizar a responsabilidade do irmão. Ele disse
que convidou Cristian a participar do crime, mas que não ofereceu dinheiro. "Eu disse: se você
não for, eu vou sozinho."
Ele também negou ter pensado
na herança da família von Richthofen. "Não foi pelo dinheiro e
sim pela liberdade que teríamos",
afirmou Daniel. No depoimento à
polícia, Daniel disse que a herança
também pesou no crime.
A versão de Suzane de que teria
sido "seduzida" a participar do
crime não convenceu o promotor
Roberto Tardelli. "Os três agiram
conscientemente. Quem deu a
idéia, quem botou o primeiro
ovo, para nós não interessa", disse. Para ele, os depoimentos confirmam a autoria dos crimes e não
amenizam a situação de Suzane.
"Foi uma tentativa desesperada
de amenizar a situação dela, que
não mudará a sua situação", afirmou o advogado Alberto Zacharias Toron, contratado pela família de Marísia para atuar como assistente de acusação, referindo-se
ao depoimento de Suzane.
Os advogados dos dois irmãos
não falaram com a imprensa. Oito
testemunhas de acusação serão
ouvidas no próximo dia 19.
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