São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

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CRIME NO BROOKLIN

Em depoimento ontem à Justiça, um culpou o outro pelo planejamento do assassinato dos pais dela

Suzane e o namorado trocam acusações

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Suzane Louise von Richthofen, 19, e seu namorado, Daniel Cravinhos de Paula e Silva, 21, apresentaram ontem versões diferentes sobre a morte do casal Marísia e Manfred von Richthofen, pais da estudante. Um culpou o outro pelo duplo assassinato e nenhum dos dois assumiu a idéia da autoria do crime.
Para Suzane, Daniel foi o autor da idéia e planejou o crime. Ela teria sido "seduzida" e "convencida" pelo namorado a participar do crime. "Ele foi plantando essa semente." Para Daniel, foi Suzane quem teve a idéia do crime. E, segundo ele, teria decidido matar por "birra", pois não conseguia ir a barzinhos e namorar.
As versões contrastantes dos namorados de três anos foram ouvidas ontem, no 1º Tribunal do Júri, onde tramita o processo. Marísia e Manfred foram mortos a pancadas quando dormiam em casa, no Brooklin (zona sul de SP), no dia 30 de outubro.
Suzane, Daniel e Cristian Cravinhos de Paula e Silva, 27, irmão de Daniel, confessaram o crime nove dias depois. Eles foram ouvidos ontem separadamente.
De tranças -nos depoimentos à polícia, ela sempre encobria o rosto com o cabelo- e vestindo saia, camiseta e tênis, Suzane foi a primeira a falar. Mesmo chorando, ela foi logo defendendo uma tese previsível, segundo o promotor de Justiça Roberto Tardelli.
Ela disse que Daniel virou uma "obsessão" e que ele, aos poucos, a convenceu a matar seus pais. "Ele me convenceu que era o meu príncipe encantado e que tudo seria perfeito", afirmou Suzane.
Ela falou que o namorado resolveu arrumar uma arma e matar o casal em maio, quando ela recebeu um tapa no rosto dado pelo pai durante uma discussão. Segundo ela, teria sido a primeira vez que o pai a agrediu. Os pais eram contra o namoro porque, segundo ela, Daniel "não tinha o mesmo nível social e cultural".
Foi em julho, quando os pais viajaram e os namorados ficaram na casa da família, que o crime teria sido definido. "Ele colocou uma bifurcação: ou ficava com meus pais sem ele ou ficava com ele sem os meus pais", afirmou.
Suzane também disse que foi Daniel quem a estimulou a usar maconha. "Usava maconha para fugir. Eu amava muito os meus pais e estava desesperada", disse. Mas ela negou ter participado do planejamento do crime.
A estudante disse que soube na tarde anterior que seus pais seriam mortos. A notícia teria sido dado a ela na casa de Daniel. "Relatou a idéia e eu obedeci."
No final do depoimento, Suzane tentou mostrar que estava arrependida -uma das teses da defesa para amenizar a pena. "Daniel, que se dizia o meu príncipe encantado, só trouxe coisas ruins para mim", disse.

Sem submissão
Os depoimentos de Daniel e Cristian, no entanto, negam que Suzane tenha sido submissa. Daniel relata uma jovem decidida, que teve a idéia de matar os pais.
Segundo ele, Suzane estava tão decidida a cometer o crime que, ao entrar na casa para matar o casal, chegou a mandar que Daniel e o irmão fizessem silêncio. Os dois tinham batido a porta do carro e feito barulho ao entrar na casa.
Daniel e Cristian falam que Suzane relatava que os pais bebiam muito. Cristian chegou a falar que a estudante relatou a ele uma suposta tentativa de estupro cometida pelo próprio pai. Essa informação não estava no processo e foi considerada improvável pelo promotor e pelos advogados dela.
Daniel tentou amenizar a responsabilidade do irmão. Ele disse que convidou Cristian a participar do crime, mas que não ofereceu dinheiro. "Eu disse: se você não for, eu vou sozinho."
Ele também negou ter pensado na herança da família von Richthofen. "Não foi pelo dinheiro e sim pela liberdade que teríamos", afirmou Daniel. No depoimento à polícia, Daniel disse que a herança também pesou no crime.
A versão de Suzane de que teria sido "seduzida" a participar do crime não convenceu o promotor Roberto Tardelli. "Os três agiram conscientemente. Quem deu a idéia, quem botou o primeiro ovo, para nós não interessa", disse. Para ele, os depoimentos confirmam a autoria dos crimes e não amenizam a situação de Suzane.
"Foi uma tentativa desesperada de amenizar a situação dela, que não mudará a sua situação", afirmou o advogado Alberto Zacharias Toron, contratado pela família de Marísia para atuar como assistente de acusação, referindo-se ao depoimento de Suzane.
Os advogados dos dois irmãos não falaram com a imprensa. Oito testemunhas de acusação serão ouvidas no próximo dia 19.


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