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MISTÉRIO NO RIO
Juíza exige que crianças permaneçam no país até prestar depoimento; quebra de sigilo telefônico é autorizada
Filhos de executivo são impedidos de viajar
MURILO FIUZA DE MELO
MICHEL ALECRIM
DA SUCURSAL DO RIO
Os dois filhos mais velhos do
executivo da Shell Zera Todd Staheli, assassinado no último domingo no Rio de Janeiro, e um casal de amigos americanos que
prestou assistência às crianças
após o crime não poderão deixar
o país enquanto não prestarem
depoimento em juízo, marcado
para amanhã, às 13h.
A decisão foi tomada ontem pela juíza Maria Angélica Guedes,
da 4ª Vara do Tribunal do Júri do
Rio, a pedido das promotoras
Monica di Piero e Marcele Navega, do Ministério Público Estadual, e do delegado Marcus Henrique Alves, da 16ª Delegacia de
Polícia. A juíza também autorizou
a quebra do sigilo telefônico da família e de pessoas ligadas a ela.
Staheli, 39, morreu ao ser atingido por um objeto corto-contudente -machado ou cutelo-
enquanto dormia. Sua mulher,
Michelle, 34, ferida na cabeça com
uma arma do mesmo tipo, está
em coma irreversível, no hospital
Copa D'Or (Copacabana, zona
sul). Os quatro filhos -três meninas de 13, sete e três anos e um
menino de dez- nada sofreram.
Pelo artigo 225 do Código de
Processo Penal, depoimentos em
juízo podem ser tomados ainda
na fase de inquérito policial se
houver perigo de testemunhas se
ausentarem durante a investigação de um crime.
Neste caso, será a juíza da 4ª Vara que tomará os depoimentos
dos filhos de 13 e dez anos e do casal de amigos, Jeff e Caroline Turner, que teria sido chamado à casa
da família, em um condomínio na
Barra da Tijuca, logo depois do
crime. Os depoimentos serão
acompanhados por um tradutor.
"A autoridade policial alegou o
perigo de perder essas provas
porque são crianças, não são brasileiros, têm naturalidade americana e a qualquer momento podem voltar ao país de origem, assim como o casal de amigos americanos", disse a promotora Marcele Navega.
Segundo Navega, outro motivo
alegado pela polícia foi a "barreira
da língua". Ela disse que os policiais tentaram ouvir oficialmente
os dois filhos mais velhos de Staheli no dia seguinte ao crime, mas
não conseguiram.
Segundo a promotora, o casal
de amigos chegou à casa do executivo antes da polícia. A filha
mais velha dos Staheli teria ligado
para eles ao encontrar os pais agonizando. O casal chegou em dez
minutos e levou as crianças para a
sua casa, disse Navega.
A Shell informou que o Consulado dos Estados Unidos no Rio
teria providenciado um advogado
para cuidar dos assuntos pessoais
da família. O consulado, entretanto, não revelou o nome do advogado. A representação diplomática norte-americana não quis comentar ontem a determinação judicial para que as crianças sejam
mantidas no Brasil para depor.
O delegado Carlos Henrique
Machado, da Delegacia de Homicídios, disse que a filha mais velha
é a principal testemunha do caso.
Ela teria sido a última pessoa da
casa a ir dormir na noite do crime.
Machado afirmou que a polícia
não encontrou qualquer vestígio
de sangue pela casa, mesmo depois de usar luminol, substância
capaz de revelar sinais de sangue
mesmo depois de o lugar ter sido
lavado. "Os peritos nunca viram
um crime tão difícil de ser solucionado", disse. Além do computador pessoal de Todd Staheli e de
um laptop da filha mais velha, a
polícia apreendeu, ontem, o computador usado pelo executivo na
sede da Shell no Rio.
Estado crítico
A mulher de Staheli, Michelle,
34, permanece internada em estado crítico. Segundo o diretor-médico do hospital Copa D'or, João
Pantoja, o quadro é de coma profundo e irreversível.
Michelle apresenta diversas fraturas na face, com aprofundamento da órbita ocular, nasal e
maxilar e permanece dependente
de respiração artificial.
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