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São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2003

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MISTÉRIO NO RIO

Juíza exige que crianças permaneçam no país até prestar depoimento; quebra de sigilo telefônico é autorizada

Filhos de executivo são impedidos de viajar

MURILO FIUZA DE MELO
MICHEL ALECRIM
DA SUCURSAL DO RIO

Os dois filhos mais velhos do executivo da Shell Zera Todd Staheli, assassinado no último domingo no Rio de Janeiro, e um casal de amigos americanos que prestou assistência às crianças após o crime não poderão deixar o país enquanto não prestarem depoimento em juízo, marcado para amanhã, às 13h.
A decisão foi tomada ontem pela juíza Maria Angélica Guedes, da 4ª Vara do Tribunal do Júri do Rio, a pedido das promotoras Monica di Piero e Marcele Navega, do Ministério Público Estadual, e do delegado Marcus Henrique Alves, da 16ª Delegacia de Polícia. A juíza também autorizou a quebra do sigilo telefônico da família e de pessoas ligadas a ela.
Staheli, 39, morreu ao ser atingido por um objeto corto-contudente -machado ou cutelo- enquanto dormia. Sua mulher, Michelle, 34, ferida na cabeça com uma arma do mesmo tipo, está em coma irreversível, no hospital Copa D'Or (Copacabana, zona sul). Os quatro filhos -três meninas de 13, sete e três anos e um menino de dez- nada sofreram.
Pelo artigo 225 do Código de Processo Penal, depoimentos em juízo podem ser tomados ainda na fase de inquérito policial se houver perigo de testemunhas se ausentarem durante a investigação de um crime.
Neste caso, será a juíza da 4ª Vara que tomará os depoimentos dos filhos de 13 e dez anos e do casal de amigos, Jeff e Caroline Turner, que teria sido chamado à casa da família, em um condomínio na Barra da Tijuca, logo depois do crime. Os depoimentos serão acompanhados por um tradutor.
"A autoridade policial alegou o perigo de perder essas provas porque são crianças, não são brasileiros, têm naturalidade americana e a qualquer momento podem voltar ao país de origem, assim como o casal de amigos americanos", disse a promotora Marcele Navega.
Segundo Navega, outro motivo alegado pela polícia foi a "barreira da língua". Ela disse que os policiais tentaram ouvir oficialmente os dois filhos mais velhos de Staheli no dia seguinte ao crime, mas não conseguiram.
Segundo a promotora, o casal de amigos chegou à casa do executivo antes da polícia. A filha mais velha dos Staheli teria ligado para eles ao encontrar os pais agonizando. O casal chegou em dez minutos e levou as crianças para a sua casa, disse Navega.
A Shell informou que o Consulado dos Estados Unidos no Rio teria providenciado um advogado para cuidar dos assuntos pessoais da família. O consulado, entretanto, não revelou o nome do advogado. A representação diplomática norte-americana não quis comentar ontem a determinação judicial para que as crianças sejam mantidas no Brasil para depor.
O delegado Carlos Henrique Machado, da Delegacia de Homicídios, disse que a filha mais velha é a principal testemunha do caso. Ela teria sido a última pessoa da casa a ir dormir na noite do crime.
Machado afirmou que a polícia não encontrou qualquer vestígio de sangue pela casa, mesmo depois de usar luminol, substância capaz de revelar sinais de sangue mesmo depois de o lugar ter sido lavado. "Os peritos nunca viram um crime tão difícil de ser solucionado", disse. Além do computador pessoal de Todd Staheli e de um laptop da filha mais velha, a polícia apreendeu, ontem, o computador usado pelo executivo na sede da Shell no Rio.

Estado crítico
A mulher de Staheli, Michelle, 34, permanece internada em estado crítico. Segundo o diretor-médico do hospital Copa D'or, João Pantoja, o quadro é de coma profundo e irreversível.
Michelle apresenta diversas fraturas na face, com aprofundamento da órbita ocular, nasal e maxilar e permanece dependente de respiração artificial.


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