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São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2003

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PERNAMBUCO

Quadrilha teria vendido pelo menos 30 rins, extraídos de pessoas aliciadas em áreas carentes; 11 foram presos

Tráfico de órgãos abastecia Europa e África

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

A Polícia Federal suspeita que a quadrilha internacional acusada de traficar órgãos humanos, desarticulada anteontem em Pernambuco, abastecia parte da Europa e África do Sul.
Em um ano, período em que estaria agindo, segundo a PF, o grupo já teria vendido pelo menos 30 rins, extraídos de pessoas aliciadas em comunidades carentes.
Para atrair interessados em vender órgãos, informou a PF, os acusados negociavam o pagamento de quantias que variavam de US$ 6.000 a US$ 10 mil (de R$ 17,7 mil a R$ 29,5 mil).
As cirurgias para a retirada dos órgãos eram feitas em Durban, na África do Sul. Os pacientes viajavam com todas as despesas pagas e, após a operação e o período de recuperação, retornavam ao Brasil. A PF afirma que muitos deles passaram a trabalhar como aliciadores para a quadrilha.
Segundo o superintendente da PF em Pernambuco, Wilson Damázio, quase todas as pessoas que venderam um de seus rins à quadrilha já foram identificadas.
Até ontem, dois israelenses e nove brasileiros -entre eles três mulheres- haviam sido presos. Eles foram transferidos ontem da sede da PF em Recife para o centro de triagem da Secretaria da Justiça e o presídio feminino Bom Pastor.

Estrutura
De acordo com Damázio, há indícios de que os israelenses estariam envolvidos em outros tipos de crimes no Brasil, como falsificação de documentos.
Os estrangeiros seriam os líderes da suposta quadrilha de traficantes de órgãos no país e responsáveis pela montagem da estrutura do negócio e aliciamento dos "doadores" no Estado.
A PF acionou a Interpol (polícia internacional) e a Embaixada da África do Sul, em Brasília, para tentar descobrir, além de eventuais conexões em outros países, quem seriam os médicos e os hospitais envolvidos na rede.
Em Recife, as investigações também se estenderam aos laboratórios e profissionais da área médica responsáveis pelos exames preliminares dos pacientes.
Antes de viajar para a África do Sul, os interessados em vender um rim eram submetidos, na capital pernambucana, a testes de saúde e de compatibilidade sanguínea.
"Precisamos saber como esses exames eram requisitados e quem fazia os testes", disse o superintendente da PF. Nenhum dos 11 presos está ligado à área médica, afirmou o policial.

Operação bisturi
A investigação que resultou na desarticulação da quadrilha suspeita de tráfico internacional de órgãos humanos teve início há nove meses e foi batizada pela PF de "Operação Bisturi".
O trabalho começou a partir de uma denúncia anônima, feita à superintendência da Polícia Federal de Pernambuco por meio de correio eletrônico.
Na apuração inicial, nomes e endereços levantados pelos policiais coincidiram com os dados fornecidos pelo denunciante. A PF decidiu então abrir inquérito e avisou o Ministério Público Federal sobre a ação.

Sigilo
Na terça-feira, cumprindo determinação da juíza federal Amanda Torres de Lucena, policiais realizaram buscas em quatro residências e prenderam os 11 suspeitos.
Seus nomes não foram divulgados porque o processo tramita em segredo de Justiça. Os acusados foram encontrados em Bonito (120 km de Recife) e na capital pernambucana.
Segundo a PF, foi o maior número de pessoas presas até hoje no país por suposto envolvimento nesse tipo de crime.


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