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PERNAMBUCO
Quadrilha teria vendido pelo menos 30 rins, extraídos de pessoas aliciadas em áreas carentes; 11 foram presos
Tráfico de órgãos abastecia Europa e África
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
A Polícia Federal suspeita que a
quadrilha internacional acusada
de traficar órgãos humanos, desarticulada anteontem em Pernambuco, abastecia parte da Europa e África do Sul.
Em um ano, período em que estaria agindo, segundo a PF, o grupo já teria vendido pelo menos 30
rins, extraídos de pessoas aliciadas em comunidades carentes.
Para atrair interessados em vender órgãos, informou a PF, os acusados negociavam o pagamento
de quantias que variavam de US$
6.000 a US$ 10 mil (de R$ 17,7 mil
a R$ 29,5 mil).
As cirurgias para a retirada dos
órgãos eram feitas em Durban, na
África do Sul. Os pacientes viajavam com todas as despesas pagas
e, após a operação e o período de
recuperação, retornavam ao Brasil. A PF afirma que muitos deles
passaram a trabalhar como aliciadores para a quadrilha.
Segundo o superintendente da
PF em Pernambuco, Wilson Damázio, quase todas as pessoas que
venderam um de seus rins à quadrilha já foram identificadas.
Até ontem, dois israelenses e
nove brasileiros -entre eles três
mulheres- haviam sido presos.
Eles foram transferidos ontem da
sede da PF em Recife para o centro de triagem da Secretaria da
Justiça e o presídio feminino Bom
Pastor.
Estrutura
De acordo com Damázio, há indícios de que os israelenses estariam envolvidos em outros tipos
de crimes no Brasil, como falsificação de documentos.
Os estrangeiros seriam os líderes da suposta quadrilha de traficantes de órgãos no país e responsáveis pela montagem da estrutura do negócio e aliciamento dos
"doadores" no Estado.
A PF acionou a Interpol (polícia
internacional) e a Embaixada da
África do Sul, em Brasília, para
tentar descobrir, além de eventuais conexões em outros países,
quem seriam os médicos e os hospitais envolvidos na rede.
Em Recife, as investigações
também se estenderam aos laboratórios e profissionais da área
médica responsáveis pelos exames preliminares dos pacientes.
Antes de viajar para a África do
Sul, os interessados em vender
um rim eram submetidos, na capital pernambucana, a testes de
saúde e de compatibilidade sanguínea.
"Precisamos saber como esses
exames eram requisitados e quem
fazia os testes", disse o superintendente da PF. Nenhum dos 11
presos está ligado à área médica,
afirmou o policial.
Operação bisturi
A investigação que resultou na
desarticulação da quadrilha suspeita de tráfico internacional de
órgãos humanos teve início há
nove meses e foi batizada pela PF
de "Operação Bisturi".
O trabalho começou a partir de
uma denúncia anônima, feita à
superintendência da Polícia Federal de Pernambuco por meio de
correio eletrônico.
Na apuração inicial, nomes e
endereços levantados pelos policiais coincidiram com os dados
fornecidos pelo denunciante. A
PF decidiu então abrir inquérito e
avisou o Ministério Público Federal sobre a ação.
Sigilo
Na terça-feira, cumprindo determinação da juíza federal
Amanda Torres de Lucena, policiais realizaram buscas em quatro
residências e prenderam os 11
suspeitos.
Seus nomes não foram divulgados porque o processo tramita em
segredo de Justiça. Os acusados
foram encontrados em Bonito
(120 km de Recife) e na capital
pernambucana.
Segundo a PF, foi o maior número de pessoas presas até hoje
no país por suposto envolvimento
nesse tipo de crime.
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