São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008

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Oscar Freire é eleita a 8ª área mais luxuosa do planeta

Rua ficou à frente da Champs-Élysées, em Paris, e da praça do Cassino, em Mônaco

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A loja Maria Bonita Extra da rua Oscar Freire vai oferecer aos clientes no dia 11 sessões de shiatsu e sorvetes. A loja vende roupas. Na Dior, próximo dali, o cliente que comprar alguma peça até o Natal ganha de brinde uma estola ou um "kitizinho de cremes da marca". É comum no comércio da região, o mais luxuoso do Brasil, que as clientes passem a tarde conversando com as vendedoras, de quem se tornam amigas de infância, trocando intimidades e tomando champanhe.
O hábito de paparicar a compradora e tratá-la com uma informalidade que não se vê no mercado de varejo em parte alguma do mundo são alguns dos principais motivos que levaram a rua Oscar Freire a ser eleita, pela segunda vez, a oitava região mais luxuosa do planeta, à frente de lugares como a avenida Champs-Élysées (16ª), em Paris, e a praça do Cassino (12ª), em Mônaco.
A pesquisa que relacionou as regiões foi feita por uma rede de empresas de marketing ligadas à francesa Presénce, criadora do programa Excellence Mystery Shopping, que analisou sem se identificar 500 lojas em 16 cidades, entre as quais Los Angeles, Madri, Nova York e Dubai. Beverly Hills, em Los Angeles, ficou em primeiro lugar. Além da Oscar Freire, o Brasil foi representado pela avenida Faria Lima, onde fica o shopping Iguatemi.
Pergunta: como ser imparcial em uma pesquisa que avalia, ao mesmo tempo, uma avenida visitada por turistas do mundo todo e uma região de São Paulo cujo público é local?
"O método usado é o mesmo. Não levamos em conta faturamento e, sim, o contexto de cada país e os hábitos de consumo da população", diz a coordenadora da pesquisa no Brasil, Cristiane Sand, da empresa Market Analysis.
Cristiane freqüentou incógnita as regiões analisadas, focando nos serviços, no aspecto físico da região (infra-estrutura, características da rua) e também no ambiente, programas de treinamento e -o dado que fez a diferença aqui- a "venda do sonho".
Ela diz que o Brasil se destacou no serviço denominado "welcome". "Nossos vendedores se mostram reconhecidos pela presença do cliente, ao contrário de Milão ou Bruxelas. Sugerem que ele volte, nunca deixam de atendê-lo", diz.
Para o consultor Carlos Ferreirinha, especialista em luxo, "embora o comércio da região seja insignificante em relação ao varejo do luxo no mundo, a prestação de serviços é infinitamente melhor".
"A informalidade aqui é fora do comum. A cliente convida a vendedora para passar o fim de semana em Angra, desabafa com ela. Isso não existe em Paris, Genève ou Amsterdã."
A designer francesa Alice Pecatte, 23, que casualmente passeia com uma amiga brasileira na Oscar Freire, se diz impressionada: "Se eu entrasse com essa roupa em uma butique de luxo em Paris, iam me olhar feio. Jamais ficariam de papo e me ofereceriam chocolatinhos como acabaram de fazer".
Tatiane Juliano, 28, que a acompanha, diz que já foi "vítima do champanhe" em uma loja de roupas importadas.
"Eu e umas amigas ficamos altinhas na loja e compramos muuuito", ri.
A presidente da Associação de Lojistas da Oscar Freire, Rosângela Lyra, diretora-geral da Dior Brasil, explica que, diferentemente das outras lojas da grife no mundo, a daqui é a única que divide o pagamento em várias vezes. Ela discorda da rua avaliada pela pesquisa em Paris. "Eles deveriam ter pegado a avenue Montagne e não a Champs-Élysées, que é cheia de turistas. O vendedor que recebe aquela japonesada é mais um atendente. Ele nunca mais vai ver aquele cliente, não tem o menor vínculo com ele", diz.
Ela conta que a associação vai presentear cada um dos 130 lojistas que a integram com 30 nécessaires para serem oferecidos a clientes especiais.
A chamada fidelização na região é tão importante que, segundo a assistente de marketing da Maria Bonita, Letícia Engel, trocar a equipe de vendedores pode ser uma operação perigosa -uma vez que a cliente quer ser atendida, e lembrada, pela Fulana de Tal.
Letícia conta que manda flores no aniversário de clientes especiais e ganha presentes também. "Este celular eu ganhei de uma cliente", diz.
Para o coordenador do curso avançado de Marketing de Luxo da ESPM, Ismael Rocha, é preciso levar em conta que o número de consumidores de luxo no Brasil é muito menor que em centros de consumo na Europa e nos EUA.
"Precisamos ter mais serviços agregados, para criar um processo de aproximação."
Ele mesmo dá um exemplo de "serviço agregado". "Outro dia estive em uma loja em que uma vendedora ofereceu um lencinho umedecido para a cliente passar no pé antes de experimentar um sapato. Depois, a própria vendedora pegou o lencinho e se encarregou de jogá-lo no lixo."
Realmente, para ter serviço assim em Paris só evocando as mucamas de Maria Antonieta.


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