|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Oscar Freire é eleita a 8ª área mais luxuosa do planeta
Rua ficou à frente da Champs-Élysées, em Paris, e da praça do Cassino, em Mônaco
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A loja Maria Bonita Extra da
rua Oscar Freire vai oferecer
aos clientes no dia 11 sessões de
shiatsu e sorvetes. A loja vende
roupas. Na Dior, próximo dali,
o cliente que comprar alguma
peça até o Natal ganha de brinde uma estola ou um "kitizinho
de cremes da marca". É comum
no comércio da região, o mais
luxuoso do Brasil, que as clientes passem a tarde conversando com as vendedoras, de quem
se tornam amigas de infância,
trocando intimidades e tomando champanhe.
O hábito de paparicar a compradora e tratá-la com uma informalidade que não se vê no
mercado de varejo em parte alguma do mundo são alguns dos
principais motivos que levaram
a rua Oscar Freire a ser eleita,
pela segunda vez, a oitava região mais luxuosa do planeta, à
frente de lugares como a avenida Champs-Élysées (16ª), em
Paris, e a praça do Cassino
(12ª), em Mônaco.
A pesquisa que relacionou as
regiões foi feita por uma rede
de empresas de marketing ligadas à francesa Presénce, criadora do programa Excellence
Mystery Shopping, que analisou sem se identificar 500 lojas
em 16 cidades, entre as quais
Los Angeles, Madri, Nova York
e Dubai. Beverly Hills, em Los
Angeles, ficou em primeiro lugar. Além da Oscar Freire, o
Brasil foi representado pela
avenida Faria Lima, onde fica o
shopping Iguatemi.
Pergunta: como ser imparcial em uma pesquisa que avalia, ao mesmo tempo, uma avenida visitada por turistas do
mundo todo e uma região de
São Paulo cujo público é local?
"O método usado é o mesmo.
Não levamos em conta faturamento e, sim, o contexto de cada país e os hábitos de consumo
da população", diz a coordenadora da pesquisa no Brasil,
Cristiane Sand, da empresa
Market Analysis.
Cristiane freqüentou incógnita as regiões analisadas, focando nos serviços, no aspecto
físico da região (infra-estrutura, características da rua) e
também no ambiente, programas de treinamento e -o dado
que fez a diferença aqui- a
"venda do sonho".
Ela diz que o Brasil se destacou no serviço denominado
"welcome". "Nossos vendedores se mostram reconhecidos
pela presença do cliente, ao
contrário de Milão ou Bruxelas.
Sugerem que ele volte, nunca
deixam de atendê-lo", diz.
Para o consultor Carlos Ferreirinha, especialista em luxo,
"embora o comércio da região
seja insignificante em relação
ao varejo do luxo no mundo, a
prestação de serviços é infinitamente melhor".
"A informalidade aqui é fora
do comum. A cliente convida a
vendedora para passar o fim de
semana em Angra, desabafa
com ela. Isso não existe em Paris, Genève ou Amsterdã."
A designer francesa Alice Pecatte, 23, que casualmente passeia com uma amiga brasileira
na Oscar Freire, se diz impressionada: "Se eu entrasse com
essa roupa em uma butique de
luxo em Paris, iam me olhar
feio. Jamais ficariam de papo e
me ofereceriam chocolatinhos
como acabaram de fazer".
Tatiane Juliano, 28, que a
acompanha, diz que já foi "vítima do champanhe" em uma loja de roupas importadas.
"Eu e umas amigas ficamos
altinhas na loja e compramos
muuuito", ri.
A presidente da Associação
de Lojistas da Oscar Freire, Rosângela Lyra, diretora-geral da
Dior Brasil, explica que, diferentemente das outras lojas da
grife no mundo, a daqui é a única que divide o pagamento em
várias vezes. Ela discorda da
rua avaliada pela pesquisa em
Paris. "Eles deveriam ter pegado a avenue Montagne e não a
Champs-Élysées, que é cheia
de turistas. O vendedor que recebe aquela japonesada é mais
um atendente. Ele nunca mais
vai ver aquele cliente, não tem o
menor vínculo com ele", diz.
Ela conta que a associação vai
presentear cada um dos 130 lojistas que a integram com 30
nécessaires para serem oferecidos a clientes especiais.
A chamada fidelização na região é tão importante que, segundo a assistente de marketing da Maria Bonita, Letícia
Engel, trocar a equipe de vendedores pode ser uma operação
perigosa -uma vez que a cliente quer ser atendida, e lembrada, pela Fulana de Tal.
Letícia conta que manda flores no aniversário de clientes
especiais e ganha presentes
também. "Este celular eu ganhei de uma cliente", diz.
Para o coordenador do curso
avançado de Marketing de Luxo da ESPM, Ismael Rocha, é
preciso levar em conta que o
número de consumidores de
luxo no Brasil é muito menor
que em centros de consumo na
Europa e nos EUA.
"Precisamos ter mais serviços agregados, para criar um
processo de aproximação."
Ele mesmo dá um exemplo
de "serviço agregado". "Outro
dia estive em uma loja em que
uma vendedora ofereceu um
lencinho umedecido para a
cliente passar no pé antes de
experimentar um sapato. Depois, a própria vendedora pegou o lencinho e se encarregou
de jogá-lo no lixo."
Realmente, para ter serviço
assim em Paris só evocando as
mucamas de Maria Antonieta.
Texto Anterior: Ex-cortiço no centro recebe prêmio de US$ 100 mil Próximo Texto: Frase Índice
|