São Paulo, sexta-feira, 05 de janeiro de 2001

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Anhembi atrasa salários e demite

JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Foco de denúncias de contratações irregulares e de fantasmas na administração passada e alvo de apurações da polícia e do Ministério Público, a Anhembi Turismo tem dívidas acumuladas em R$ 93 milhões, começa hoje a atrasar o pagamento de cerca de 700 funcionários e fará demissões que poderão atingir 30% do pessoal.
As dívidas quase chegam ao dobro do Orçamento de R$ 49,5 milhões que a empresa de economia mista terá neste ano.
Ou seja, a empresa da qual a Prefeitura de São Paulo tem 77,16% das ações teria que economizar cada centavo de seu Orçamento durante dois anos para pagar suas dívidas.
Só em tributos municipais e federais, são R$ 31,6 milhões. "Se fossemos da iniciativa privada, teríamos que fechar as portas. Temos até R$ 1,5 milhão em títulos protestados", disse ontem Antônio Augusto do Poço Pereira, 46, diretor financeiro, administrativo e comercial da empresa.
As dívidas são referentes a pagamentos que deixaram de ser feitos desde 1995. Mesmo assim, a empresa ainda teve um prejuízo no ano passado que deverá chegar a R$ 20 milhões, segundo Pereira.
A partir de hoje, a Anhembi deixará de pagar cerca de R$ 900 mil aos funcionários por falta de recursos. "Recebemos a empresa com caixa zerado, embora tenhamos repasses a receber para aumento de capital e por prestação de serviços para a prefeitura."
Com tributos, a folha de pagamento, referente a 60% dos salários de dezembro, chegará a R$ 1,8 milhão.
O atraso nos salários foi informado ontem pelo novo presidente da empresa, Eduardo Sanovicz, aos funcionários. O pagamento deve ser feito na semana que vem.
A dificuldade em acertar a folha ocorre principalmente devido ao número de funcionários deixados para a atual administração.
Nos governos dos ex-prefeitos Paulo Maluf (93-96) e Celso Pitta (97-00), houve um aumento de 70% no número de funcionários.
Eram 483 empregados efetivos no último mês da gestão da ex-prefeita Luiza Erundina (89-92). Em fevereiro do ano passado, a empresa chegou a ter 972 funcionários. Há dois meses, no penúltimo mês da gestão de Celso Pitta, ainda havia 823 funcionários, mas o quadro foi reduzido para 696, no mês passado.
Se a demissão de cerca de 30% dos funcionários se confirmar, ficarão cerca de 490 funcionários, número semelhante ao que havia no fim do governo Erundina (ex-PT, atual PSB).
A Polícia Civil e o Ministério Público suspeitam de que a Anhembi era usada como cabide de emprego para cerca de 250 funcionários, indicados na maioria por vereadores paulistanos.
"Até parente de senador da República recebia salário aqui sem trabalhar", disse o diretor Pereira, sem revelar o nome do suposto parente ou do senador.
A polícia ainda não concluiu o inquérito que apura as supostas irregularidades na empresa.
Na gestão Pitta, a empresa foi incluída em estudo que previa a privatização da Anhembi, do estádio do Pacaembu e do autódromo de Interlagos.
Na atual gestão, a prefeita Marta Suplicy (PT) descartou a possibilidade de a empresa ser privatizada apenas para os recursos que seriam obtidos com a venda serem usados para pagamento de dívidas da prefeitura.



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