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PERDIDOS NA SELVA
Até novembro, a PM retirou 126 pessoas da serra do Mar; maioria são adolescentes que se aventuram nas férias
Polícia abre temporada de resgate na mata
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles saem preparados para um
filme de aventura e acabam assistindo a tragédias. É o que ocorre
com jovens e adolescentes que fazem trilhas ecológicas e acampam
no Parque Estadual da Serra do
Mar, localizado entre a Grande
São Paulo e o litoral do Estado.
Segundo o Comando de Operações Especiais (COE), da Polícia
Militar, a temporada de perdidos
na mata começa em janeiro e se
estende até o feriado do Carnaval.
Depois, os casos ficam mais raros,
já que a neblina e o frio típicos da
região inibem os aventureiros.
De janeiro a novembro do ano
passado, foram registradas 48
ocorrências de desaparecimento
na região, a maioria na chamada
alta temporada. Foram resgatadas 126 pessoas -praticamente
uma a cada dois dias do ano. O comando ainda não fechou estatísticas a respeito de mortes na serra.
Mesmo assim esses números
tratam apenas dos casos mais graves. "A maioria dos grupos perdidos é localizada pelo Corpo de
Bombeiros da região ou consegue
encontrar a saída da mata sozinha, depois de horas. Nós somos
acionados quando o resgate é
mais complicado", afirma o primeiro-tenente do COE Iron Sérgio Ferreira da Silva.
A faixa etária das pessoas resgatadas pelo comando varia de 12 a
18 anos. Nem sempre a história
tem final feliz. Há casos de morte
por afogamento, choque térmico,
queda de precipício, hipotermia e
mutilação em atropelamentos
por trens da estrada de ferro Santos-Jundiaí, que corta a região.
"O início geralmente é o mesmo: irresponsabilidade, guias
despreparados, quando há guias,
e uso excessivo de drogas e álcool", afirma o primeiro-tenente.
As mortes por afogamento e por
choque térmico são as mais comuns, segundo o COE. Ao iniciar
uma trilha de seis horas, os adolescentes cortam rios e cachoeiras
rasos. Porém, na serra, as chuvas
são frequentes. Por isso eles são
pegos de surpresa pelo aumento
rápido do volume das águas.
Há dois anos, conta o primeiro-tenente, o corpo de um adolescente foi resgatado em Cubatão,
após ter sido arrastado pela correnteza dos rios da serra do Mar
desde a região de São Bernardo.
"O corpo dos afogados é geralmente resgatado dessa forma."
O choque térmico, que provoca
morte por parada cardíaca, ocorre quando os adolescentes decidem se refrescar do suor da caminhada com um banho de cachoeira ou poço. "Eles se esquecem
que, na serra, a temperatura da
água é baixíssima", diz.
As mutilações em acidentes na
estrada de ferro, mais raras, acontecem na trilha Rio Branquinho,
na altura da Vila Evangelista de
Souza, divisa dos municípios de
São Paulo e São Bernardo. Os
adolescentes sofrem acidentes ao
pegar carona no trem de carga
que corta a região.
Camping
O número de visitantes despreparados no Parque Estadual da
Serra do Mar fez com que a organização não-governamental
Olhos da Mata, que atua no local,
exigisse providência do governo
na Justiça, com o auxílio do Ministério Público Estadual.
Na ação civil pública de número
75, de 2000, a ONG narra tragédias juvenis no parque. Um dos
números refere-se a mortes por
afogamento. De 1987 a 2000, 26
adolescentes morreram em poços, cachoeiras e prainhas de um
dos pontos do parque, o do bairro
Barragem (zona sul da capital).
"Os responsáveis dizem que lá
não é muito visitado, o que não é
verdade. Em um ano, nós contamos 1.500 praticantes de camping
na região do bairro", afirma o ambientalista Adilson Rodrigues,
conselheiro da entidade.
A Olhos da Mata alega que o Estado não tem uma política de ecoturismo na região. Por enquanto
vencem os argumentos do governo de que não interessa explorar o
parque, extenso demais para ser
monitorado de perto.
Com cinco amigos, o estudante
Fabiano Alves, 22, era mais um a
engrossar as estatísticas da Olhos
da Mata. No dia 27 do mês passado, o grupo caminhava rumo à região da estrada de ferro, em Barragem, onde acampariam até o
Ano Novo. Na bagagem, refresco
em pó e macarrão instantâneo.
"Nunca tive problemas. Não é tão
difícil assim", afirmou Alves.
Com planos de ficar apenas um
dia caminhando, um grupo de 27
adolescentes resolveu, no último
dia 10, fazer a trilha das Torres,
que sai de São Bernardo.
Ao pararem um pouco para trocar as roupas por outras de banho, 12 jovens -a maioria garotas- se perderam do restante do
grupo. Resultado: foram encontradas 30 horas depois, pelo COE,
com desidratação e hipotermia.
"Quando escureceu, entramos
em desespero. Tivemos de racionar o único pacote de bolacha que
tínhamos. Dormimos uma agarrada na outra", diz Silvana, 17, que
participou da aventura.
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