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Lula determina que Exército ajude o Rio
Decisão ocorre após União alegar falta de estrutura para alojar e deslocar agentes da Força Nacional rapidamente ao Estado
Ofício não explica como será atuação das Forças Armadas; agentes da Força Nacional não participarão de ações em favelas e em áreas com risco
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atendeu ontem à noite ao pedido do governador do
Rio, Sérgio Cabral Filho
(PMDB), e determinou que as
Forças Armadas ajudem a combater a escalada da violência no
Estado dos últimos dias.
O governo federal não divulgou, no entanto, quando e de
que forma será feita essa ajuda.
Um dos participantes da
reunião com Lula, que durou
cerca de duas horas, disse que, a
princípio, está descartada a
participação das Forças Armadas no patrulhamento das ruas
da cidade.
Após reunião com os ministros Waldir Pires (Defesa), Luiz
Paulo Barreto (interino da Justiça) e Jorge Félix (Gabinete de
Segurança Institucional), foi
divulgado ofício em que o presidente "determinou a efetiva
participação das Forças Armadas no Gabinete de Gestão Integrada da Segurança Pública
em implantação no Rio".
O ofício fala também na "intensificação da atuação na proteção de suas áreas [das Forças
Armadas] no Estado", o que deve significar uma presença
mais ostensiva dos militares
nas proximidades dos quartéis.
A decisão ocorre após o recuo
do próprio governo federal em
enviar, de imediato, os 7.600
integrantes da Força Nacional
ao Estado.
A alegação é que faltam estrutura e até recursos para deslocar e acomodar os agentes. Só
em fevereiro, um mês após o
pedido do governador Sérgio
Cabral Filho, a Força irá enviar
cerca de 500 homens (6,5% do
efetivo).
Eles tampouco serão autorizados pelo comando da Força a
participar de operações em favelas e em áreas onde haja risco
de confrontos com grupos criminosos. A princípio, irão agir
apenas nas divisas do Estado.
A razão para a limitação é que
nem todos os profissionais da
Força Nacional receberam treinamento adequado para a ação
repressiva em favelas. Apenas
800 (10,5%) dos agentes que integram a tropa passaram por
curso específico, ministrado
em 2006 pela PM do Rio.
A principal alegação da Força
Nacional é que não haveria como, com rapidez, providenciar
passagens aéreas dos agentes
para Brasília e daí para o Rio.
Seria preciso pedir aviões à Aeronáutica. Os veículos da Força
teriam que ser levados ao Rio.
Também não haveria onde
abrigar os agentes -que pertencem a forças policiais estaduais- de um dia para o outro.
Faltaria dinheiro também para
pagamento de diárias pelo governo federal. A vila olímpica,
onde os 7.600 agentes ficarão
alojados para fazer a segurança
dos jogos Pan-Americanos, só
deve ficar pronta em abril.
Os argumentos foram passados pelo secretário nacional de
Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, ao governador
durante reunião anteontem.
Essas alegações, porém, nunca foram citadas pelo ministro
da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos. Em julho, quando a
União ofereceu ajuda ao Estado
de São Paulo após os ataques da
facção criminosa PCC, ele disse
que "a Força Nacional é um esforço cooperativo da federação.
São policiais de todos os Estados que podem ser chamados a
qualquer momento".
A decisão do comando da
Força de não vir imediatamente -no momento em que o Estado está em crise- contraria
Cabral, que pensava que a tropa
poderia agir logo no Rio.
Desde o final do ano passado,
criminosos estão atacando prédios e carros policiais. Ônibus
têm sido queimados. No total,
12 pessoas morreram nesses
ataques e sete na reação policial
aos supostos agressores.
A intenção de Cabral era ter a
Força Nacional na região metropolitana, justamente para
intimidar os criminosos. Na
reunião, da qual também participaram comandantes regionais do Exército, Marinha e Aeronáutica e representantes das
polícias estaduais e federais,
Corrêa argumentou que não teria como vir logo nem colocar
seus homens em confronto
aberto com a criminalidade.
Ficou decidido, então, que as
primeiras ações da Força serão
nas divisas do Estado. A opção
do governo federal de posicioná-los nas estradas, neste primeiro momento, permite ainda
quebrar um grande empecilho
à atuação do grupo: a resistência das polícias estaduais.
Mas, se não há como transferir todo o efetivo de 7.600 em
um momento de crise, por que
treinar tanta gente? Por meio
da assessoria, o Ministério da
Justiça informou que o grupo
não é formado necessariamente para atuar de uma vez, previsão que, por ora, havia sido feita
apenas para o Pan-Americano.
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