São Paulo, sexta-feira, 05 de janeiro de 2007

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Lula determina que Exército ajude o Rio

Decisão ocorre após União alegar falta de estrutura para alojar e deslocar agentes da Força Nacional rapidamente ao Estado

Ofício não explica como será atuação das Forças Armadas; agentes da Força Nacional não participarão de ações em favelas e em áreas com risco

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atendeu ontem à noite ao pedido do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), e determinou que as Forças Armadas ajudem a combater a escalada da violência no Estado dos últimos dias.
O governo federal não divulgou, no entanto, quando e de que forma será feita essa ajuda. Um dos participantes da reunião com Lula, que durou cerca de duas horas, disse que, a princípio, está descartada a participação das Forças Armadas no patrulhamento das ruas da cidade.
Após reunião com os ministros Waldir Pires (Defesa), Luiz Paulo Barreto (interino da Justiça) e Jorge Félix (Gabinete de Segurança Institucional), foi divulgado ofício em que o presidente "determinou a efetiva participação das Forças Armadas no Gabinete de Gestão Integrada da Segurança Pública em implantação no Rio".
O ofício fala também na "intensificação da atuação na proteção de suas áreas [das Forças Armadas] no Estado", o que deve significar uma presença mais ostensiva dos militares nas proximidades dos quartéis.
A decisão ocorre após o recuo do próprio governo federal em enviar, de imediato, os 7.600 integrantes da Força Nacional ao Estado.
A alegação é que faltam estrutura e até recursos para deslocar e acomodar os agentes. Só em fevereiro, um mês após o pedido do governador Sérgio Cabral Filho, a Força irá enviar cerca de 500 homens (6,5% do efetivo).
Eles tampouco serão autorizados pelo comando da Força a participar de operações em favelas e em áreas onde haja risco de confrontos com grupos criminosos. A princípio, irão agir apenas nas divisas do Estado.
A razão para a limitação é que nem todos os profissionais da Força Nacional receberam treinamento adequado para a ação repressiva em favelas. Apenas 800 (10,5%) dos agentes que integram a tropa passaram por curso específico, ministrado em 2006 pela PM do Rio.
A principal alegação da Força Nacional é que não haveria como, com rapidez, providenciar passagens aéreas dos agentes para Brasília e daí para o Rio. Seria preciso pedir aviões à Aeronáutica. Os veículos da Força teriam que ser levados ao Rio.
Também não haveria onde abrigar os agentes -que pertencem a forças policiais estaduais- de um dia para o outro. Faltaria dinheiro também para pagamento de diárias pelo governo federal. A vila olímpica, onde os 7.600 agentes ficarão alojados para fazer a segurança dos jogos Pan-Americanos, só deve ficar pronta em abril.
Os argumentos foram passados pelo secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, ao governador durante reunião anteontem.
Essas alegações, porém, nunca foram citadas pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Em julho, quando a União ofereceu ajuda ao Estado de São Paulo após os ataques da facção criminosa PCC, ele disse que "a Força Nacional é um esforço cooperativo da federação. São policiais de todos os Estados que podem ser chamados a qualquer momento".
A decisão do comando da Força de não vir imediatamente -no momento em que o Estado está em crise- contraria Cabral, que pensava que a tropa poderia agir logo no Rio.
Desde o final do ano passado, criminosos estão atacando prédios e carros policiais. Ônibus têm sido queimados. No total, 12 pessoas morreram nesses ataques e sete na reação policial aos supostos agressores.
A intenção de Cabral era ter a Força Nacional na região metropolitana, justamente para intimidar os criminosos. Na reunião, da qual também participaram comandantes regionais do Exército, Marinha e Aeronáutica e representantes das polícias estaduais e federais, Corrêa argumentou que não teria como vir logo nem colocar seus homens em confronto aberto com a criminalidade.
Ficou decidido, então, que as primeiras ações da Força serão nas divisas do Estado. A opção do governo federal de posicioná-los nas estradas, neste primeiro momento, permite ainda quebrar um grande empecilho à atuação do grupo: a resistência das polícias estaduais.
Mas, se não há como transferir todo o efetivo de 7.600 em um momento de crise, por que treinar tanta gente? Por meio da assessoria, o Ministério da Justiça informou que o grupo não é formado necessariamente para atuar de uma vez, previsão que, por ora, havia sido feita apenas para o Pan-Americano.


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