São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2004

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CLIMA

Em visita a áreas atingidas por enchentes no Nordeste, presidente prometeu alimentos e remédios para desabrigados

Flagelados são "vítimas de descaso", diz Lula

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Presidente visita vila Mocambinho, em Teresina, acompanhado do governador do Piauí, Wellington Dias (à dir.)


WILSON SILVEIRA
ENVIADO ESPECIAL

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TERESINA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu ontem providenciar, "com a maior rapidez", água potável, comida e medicamentos para os habitantes dos municípios do Nordeste atingidos pelas chuvas, além da recuperação de vias de acesso para cidades que se encontram isoladas. Essa é, segundo Lula, a "obrigação mínima" do governo federal.
Quanto à recuperação de casas destruídas ou danificadas, disse que os desabrigados precisarão esperar. "Seria uma irresponsabilidade colocar um cimentozinho e dizer que o problema já está resolvido. Aí chega março e tem outra chuva e vocês vão perceber que a coisa não estava arrumada."
Acompanhado de seis ministros e dos governadores da Bahia, Paulo Souto (PFL), e de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), Lula visitou ontem de manhã os municípios de Juazeiro e Petrolina, na divisa dos dois Estados, que foram alagados pela cheia do rio São Francisco.
Depois, foi a Teresina (PI), onde disse que o poder público é responsável pela situação enfrentada pelas vítimas das cheias.

Vítimas do descaso
"Estou vindo aqui, primeiro, para dizer que vocês, como outros tantos milhões de brasileiros, são vítimas do descaso que o poder público historicamente tem com o povo pobre", afirmou, em discurso a 34 famílias desabrigadas, alojadas provisoriamente em um ginásio de esportes localizado na vila Mocambinho, um dos bairros mais carentes da cidade.
"O poder público nunca tratou com a decência necessária a parte pobre da população, e os problemas se acumularam de tal ordem que não tem milagre que a gente possa fazer, que a gente possa dizer que, num toque de mágica, pode resolver. E vocês sabem disso", declarou.
Apesar das críticas ao descaso do poder público, o próprio governo Lula também acabou não liberando recursos para as áreas de governo que deveriam buscar as soluções para garantir um tratamento decente para a parcela mais carente da população.
No ano passado, o Ministério da Integração Nacional pôde gastar 9,22% de seu orçamento (R$ 188,6 milhões de R$ 2,046 bilhões). O Ministério das Cidades, R$ 414 milhões de R$ 2,2 bilhões.
Ambas as pastas seriam responsáveis por implantar projetos para reduzir os danos causados, por exemplo, pelas chuvas de verão.
Para fechar 2003, com suas contas no azul, a equipe econômica de Lula liberou apenas R$ 509 milhões dos R$ 1,4 bilhão previstos para obras de saneamento básico.
Em seu discurso, o presidente tentou mostrar familiaridade com o assunto. Assim como faz quando o flagelo é a seca, disse às vítimas que já enfrentou enchentes parecidas no passado.
"Quando saí de Santos para São Paulo, morei na Vila Carioca, onde qualquer chuva que dava enchia de água", afirmou. Lula citou ainda mais dois bairros onde morou e foi atingido pelas águas -Ponte Preta e Vila São José.
"Tomei três enchentes nas costas. Tinha de levantar à meia-noite para tirar a mãe, tirar fogão, tirar colchão, tirar a cama", declarou. "Estou dizendo isso só para lembrar a vocês que não sou um estranho à situação."
O presidente anunciou ainda que estabeleceu compromissos com os governantes para planejar a recuperação e a reconstrução, em regiões seguras (longe de córregos e rios), das casas afetadas pelas enchentes.

Clima de campanha
Aplaudido, Lula repetiu cenas da campanha política e do início de seu governo: abraçou pessoas, conversou com alguns e acenou para a multidão que aguarda do lado de fora do ginásio, cujo acesso foi restrito e controlado.
Em Juazeiro e Petrolina, Lula visitou duas escolas que hoje acolhem desabrigados. Ao discursar, em Petrolina, calculou que precisarão ser reconstruídas cerca de 50 mil casas para desabrigados. Segundo ele, essas famílias terão prioridade no programa da Caixa Econômica Federal, que prevê construir 6 milhões de moradias nos próximos anos.
O governador Jarbas Vasconcelos disse que se queixou a Lula da lentidão da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para liberar cestas básicas. "O governo federal libera as cestas, mas elas não estão chegando aos interessados por causa da burocracia."


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