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ZONEAMENTO
Liminar congela mudanças em antiga área residencial com 50 quadras na zona sul de SP; urbanista vê medida inédita
TJ suspende uso comercial no Campo Belo
ALENCAR IZIDORO
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma decisão do Tribunal de
Justiça suspendeu as mudanças
no zoneamento de uma área com
aproximadamente 50 quadras do
Campo Belo, na zona sul de São
Paulo, onde as novas licenças para a instalação de comércios e serviços já começaram a ser congeladas pela gestão José Serra (PSDB).
A medida liminar -provisória- foi concedida pelo desembargador Samuel Júnior no final
de dezembro, em resposta à ação
judicial do MoviBelo, movimento
de moradores da região. Ela determina que, por enquanto, a prefeitura só autorize a construção de
residências no local e não dê alvarás de funcionamento a "atividades que não guardem relação com
área estritamente residencial".
A decisão não afeta as licenças já
concedidas anteriormente, mas
sim as que tramitam e as futuras.
A região havia passado por mudanças na nova Lei de Zoneamento, que entrou em vigor em fevereiro de 2005, conforme definido
na gestão Marta Suplicy (PT) e
aprovado na Câmara Municipal.
Uma parte das 50 quadras que
era exclusivamente residencial
passou a ser considerada zona
mista -que, além de não limitar
a altura de prédios, permite empreendimentos comerciais, educacionais e até pequenas fábricas,
além de serviços de administração pública, atividades técnicas de
confecção e manutenção, serviços
pessoais e profissionais, associações culturais e esportivas e estabelecimentos de hospedagem.
Outro pedaço passou a permitir
maior concentração de casas
-elevando de uma para quatro a
quantidade máxima construída
em 250m2.
Área preservada
A decisão pela suspensão dos
usos permitidos pelo novo zoneamento é considerada inédita pela
urbanista Lucila Lacreta, do movimento Defenda São Paulo. Os
moradores alegam que a mudança no zoneamento fere um artigo
do Plano Diretor, pelo qual a região, residencial, seria preservada.
A prefeitura já entrou com recurso, que deve ser julgado na semana que vem. O mérito da contestação ainda não foi discutido
pela Justiça, cuja decisão temporária visa somente evitar os danos
ambientais e urbanísticos irreparáveis, de acordo com a advogada
Berenice Martin, do MoviBelo.
A posição do TJ, em segunda
instância, se deu após a ação civil
pública da entidade ser rejeitada
na primeira instância sob a alegação de que a questão deveria ser
alvo de outra contestação jurídica
-uma ação direta de inconstitucionalidade. Se a liminar for mantida, ela voltará a ter seu mérito
avaliado na primeira instância.
Um levantamento da Subprefeitura de Santo Amaro, que tomou
conhecimento da decisão em 24
de janeiro, identificou no local
três solicitações de licenças para
estabelecimentos comerciais ou
de serviços de um ano para cá.
Dessas, uma já tinha sido concedida, sem ser afetada pela liminar,
enquanto as outras duas foram
suspensas. O subprefeito José Antonio Barros Munhoz disse que
será feito um levantamento em
todos os estabelecimentos não-residenciais que existem na região
para averiguar se eles estão regulares. São permitidos, por exemplo, imóveis que se instalaram antes de 1972 -data da lei anterior.
A área é circundada por vias de
tráfego intenso, como as avenidas
Bandeirantes e Santo Amaro, onde atividades comerciais e de serviço já eram permitidas. No entorno é possível encontrar consultórios, escritórios de advocacia e
unidades de educação infantil,
além de bufês, mercados e até
mesmo uma casa de swing.
A preocupação dos moradores
é que esse "anel" de comércios e
serviços se expanda, invada e
adense a antiga área residencial.
O anúncio de venda de uma casa na rua Jesuíno Maciel resume
as transformações no local. A faixa da imobiliária informa que a
via é um corredor de serviços. Os
demais imóveis do quarteirão, entretanto, são residenciais.
O presidente da Movibelo, Antonio Cunha, diz que, no último
ano, um lava-rápido abriu na região, mas outros estabelecimentos já existiam na área, instalados,
segundo ele, de forma irregular.
O dono do lava-rápido, que se
identificou apenas como João
Carlos, disse que abriu quando a
região passou a ser considerada
como mista e, como tem alvará da
prefeitura, não pretende sair.
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