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VIOLÊNCIA
Secretário determina investigação sobre ação da polícia no morro do Pavão-Pavãozinho, onde 3 moradores morreram
Morto em tiroteio era inocente, diz Garotinho
MARIO HUGO MONKEN
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O secretário de Segurança Pública do Rio, Anthony Garotinho,
reconheceu ontem que um dos
três rapazes mortos no tiroteio da
noite de anteontem no morro do
Pavão-Pavãozinho, em Copacabana (zona sul), era inocente.
Ele determinou que o inspetor-geral de polícia, coronel João Carlos Ferreira, investigue o que
ocorreu na favela, já que a Polícia
Militar apresentou versões contraditórias sobre o episódio.
O tiroteio, que durou três horas,
assustou os moradores de Copacabana vizinhos ao Pavão-Pavãozinho. Após as mortes, cerca de
300 moradores da favela desceram pela ladeira Saint Roman e,
com caixotes e pneus incendiados, bloquearam a rua Sá Ferreira
e o túnel que liga a rua Barata Ribeiro à Raul Pompéia, três das
principais vias do bairro.
O túnel ficou pelo menos 20 minutos fechado. Os manifestantes
atiraram pedras e tijolos nos policiais. Em quatro anos, foi a primeira vez que a comunidade protestou no asfalto contra a polícia.
Ontem à tarde, depois de reunião com representantes do Pavão-Pavãozinho, Garotinho disse
que Alexandre Firmiano de Souza, 27, um dos mortos, não tinha
envolvimento com tráfico e teria
sido morto por uma bala perdida.
O rapaz era faxineiro em um
prédio no Leblon (zona sul) e não
tinha antecedentes criminais, segundo a Polícia Civil.
Segundo o secretário, as outras
duas vítimas, André da Conceição
Oliveira, 26, e Estevan Laureano
Martins, 17, seriam traficantes. A
família de Martins afirma que ele
trabalhava com o pai na feira da
artesanato de Copacabana.
Na noite de anteontem, o comandante do 19º Batalhão (Copacabana), coronel Dario Cony, informou que o tiroteio fora iniciado por quadrilhas rivais que disputam o tráfico no morro.
Ontem, o comandante do Gpae
(Grupamento de Policiamento
em Áreas Especiais) do Pavão-Pavãozinho, major Marco Aurélio
dos Santos, apresentou outra versão. Segundo ele, o grupamento
recebeu às 15h30 um chamado de
moradores dizendo que traficantes de favelas dominadas pelo Comando Vermelho e um grupo de
angolanos estariam no local para
tramar uma invasão à favela da
Rocinha (São Conrado, zona sul).
Santos afirmou que, quando os
PMs chegaram à localidade conhecida como 5ª Estação, foram
cercados por traficantes armados
com fuzis, revólveres e pistolas.
O comandante do Gpae, em documento enviado a Garotinho,
disse que os três mortos eram traficantes e que com eles foram
apreendidas duas pistolas e um
revólver. "O confronto foi entre
policiais e traficantes. Não se sabe
de onde partiram os tiros que mataram os três homens."
Moradores dizem que policiais
subiram o morro atirando. Um
grupo disse, no velório dos rapazes, ontem à tarde, que oito policiais desceram de helicóptero no
local conhecido como Vietnã no
início da tarde. "Eles ficaram na
mata por umas quatro horas e depois desceram para começar a
confusão", disse o soldado do
exército Rodrigo Brandão, 18.
Uma jovem disse à Folha que
Firmiano de Souza foi morto a
pauladas. "Depois que levou um
tiro, os policiais botaram um saco
plástico preto na cabeça dele e começaram a dar pauladas."
"Só posso dizer que a polícia
executou o meu irmão", disse um
irmão de Firmiano no velório.
Ontem, o Pavão-Pavãozinho foi
ocupado por cerca de cem policiais. Apesar da presença da polícia, o comércio na favela permaneceu fechado o dia todo.
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