São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIOLÊNCIA

Secretário determina investigação sobre ação da polícia no morro do Pavão-Pavãozinho, onde 3 moradores morreram

Morto em tiroteio era inocente, diz Garotinho

MARIO HUGO MONKEN
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O secretário de Segurança Pública do Rio, Anthony Garotinho, reconheceu ontem que um dos três rapazes mortos no tiroteio da noite de anteontem no morro do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana (zona sul), era inocente.
Ele determinou que o inspetor-geral de polícia, coronel João Carlos Ferreira, investigue o que ocorreu na favela, já que a Polícia Militar apresentou versões contraditórias sobre o episódio.
O tiroteio, que durou três horas, assustou os moradores de Copacabana vizinhos ao Pavão-Pavãozinho. Após as mortes, cerca de 300 moradores da favela desceram pela ladeira Saint Roman e, com caixotes e pneus incendiados, bloquearam a rua Sá Ferreira e o túnel que liga a rua Barata Ribeiro à Raul Pompéia, três das principais vias do bairro.
O túnel ficou pelo menos 20 minutos fechado. Os manifestantes atiraram pedras e tijolos nos policiais. Em quatro anos, foi a primeira vez que a comunidade protestou no asfalto contra a polícia.
Ontem à tarde, depois de reunião com representantes do Pavão-Pavãozinho, Garotinho disse que Alexandre Firmiano de Souza, 27, um dos mortos, não tinha envolvimento com tráfico e teria sido morto por uma bala perdida.
O rapaz era faxineiro em um prédio no Leblon (zona sul) e não tinha antecedentes criminais, segundo a Polícia Civil.
Segundo o secretário, as outras duas vítimas, André da Conceição Oliveira, 26, e Estevan Laureano Martins, 17, seriam traficantes. A família de Martins afirma que ele trabalhava com o pai na feira da artesanato de Copacabana.
Na noite de anteontem, o comandante do 19º Batalhão (Copacabana), coronel Dario Cony, informou que o tiroteio fora iniciado por quadrilhas rivais que disputam o tráfico no morro.
Ontem, o comandante do Gpae (Grupamento de Policiamento em Áreas Especiais) do Pavão-Pavãozinho, major Marco Aurélio dos Santos, apresentou outra versão. Segundo ele, o grupamento recebeu às 15h30 um chamado de moradores dizendo que traficantes de favelas dominadas pelo Comando Vermelho e um grupo de angolanos estariam no local para tramar uma invasão à favela da Rocinha (São Conrado, zona sul).
Santos afirmou que, quando os PMs chegaram à localidade conhecida como 5ª Estação, foram cercados por traficantes armados com fuzis, revólveres e pistolas.
O comandante do Gpae, em documento enviado a Garotinho, disse que os três mortos eram traficantes e que com eles foram apreendidas duas pistolas e um revólver. "O confronto foi entre policiais e traficantes. Não se sabe de onde partiram os tiros que mataram os três homens."
Moradores dizem que policiais subiram o morro atirando. Um grupo disse, no velório dos rapazes, ontem à tarde, que oito policiais desceram de helicóptero no local conhecido como Vietnã no início da tarde. "Eles ficaram na mata por umas quatro horas e depois desceram para começar a confusão", disse o soldado do exército Rodrigo Brandão, 18.
Uma jovem disse à Folha que Firmiano de Souza foi morto a pauladas. "Depois que levou um tiro, os policiais botaram um saco plástico preto na cabeça dele e começaram a dar pauladas."
"Só posso dizer que a polícia executou o meu irmão", disse um irmão de Firmiano no velório.
Ontem, o Pavão-Pavãozinho foi ocupado por cerca de cem policiais. Apesar da presença da polícia, o comércio na favela permaneceu fechado o dia todo.


Texto Anterior: MG: Polícia investiga fitas que mostram prefeito de Alfenas dando dinheiro a vereadores
Próximo Texto: Entidade fez queixa há duas semanas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.