São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mais um dirigente do presídio de Bangu 1 é assassinado

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

O subdiretor da penitenciária de segurança máxima Bangu 1 (zona oeste do Rio), Wagner Vasconcelos da Rocha, 37, foi assassinado a tiros ontem de manhã na estrada São João Caxias, em São João de Meriti (Baixada Fluminense). Esta seria a última semana de Rocha no presídio: ele havia pedido afastamento da função porque estaria sendo ameaçado de morte.
Ele é o quarto dirigente do complexo de presídios assassinado nos últimos quatro anos. Uma das hipóteses para o crime, sustentada pelo governo do Estado, seria uma represália de presos contra o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) imposto nos presídios Bangu 1, 2 e 3.
Ontem, Rocha dirigia para o trabalho quando, por volta das 8h, uma moto, com duas pessoas, e um carro se aproximaram do seu Corsa. O homem que estava na garupa da moto disparou contra Rocha, que foi atingido por dois tiros no braço e no tórax.
O carro do subdiretor foi atingido na porta. No local foram encontradas quatro cápsulas de pistola, recolhidas pela polícia.
PMs que passavam pelo local o levaram para o Hospital Duque de Caxias, mas ele não resistiu.
O titular da 64ª DP, Jorge Luiz Dieguez Cavalcanti, disse que "tudo leva a crer que a morte do subdiretor tenha acontecido em razão da política do Estado de implantar um regime disciplinar que acaba com as regalias dos presos". Ele vai investigar se algum preso encomendou o crime.

Atentado
Em 21 de janeiro, Rocha havia sofrido um atentado. Ele voltava de Bangu 1 para casa, quando dois homens em uma moto dispararam contra ele. Seu carro foi atingido por dois tiros. Ele conseguiu se esconder dentro de uma cabine da Polícia Rodoviária Federal.
Segundo o diretor de Bangu 1, major Danilo Nascimento da Silva, logo após o episódio, ele pediu férias. Rocha voltou ao trabalho anteontem e esperava apenas os trâmites burocráticos para deixar o cargo e atuar fora do complexo.
Agente penitenciário desde 1997, Rocha trabalhava desde 99 em Bangu 1. Foi nomeado subdiretor em março do ano passado.
O diretor de Bangu 1 afirmou desconhecer que Rocha estaria sendo ameaçado e disse que ele alegara "estresse" quando pediu para ser exonerado do cargo.
O presidente eleito do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Francisco Rodrigues, no entanto, afirmou que o subdiretor protocolou na Secretaria de Administração Penitenciária um pedido para ser acompanhado por um segurança, logo depois do atentado. Só depois de não ser atendido é que ele pedira férias.
De acordo com a secretaria, o pedido não chegou ao secretário, Astério Pereira dos Santos. A Folha apurou que a secretaria tinha conhecimento das ameaças que ele sofria, mas que, como ele decidira tirar férias, o pedido de Rocha não foi atendido.
Em nota divulgada pela assessoria, o secretário disse considerar o trabalho na área penitenciária "altamente arriscado, especialmente num momento em que o governo do Estado busca organizar o sistema penitenciário, retirando regalias e implantando regimes disciplinares mais rigorosos".
No entanto, afirmou que "as ações para organizar o sistema penitenciário fluminense não vão retroceder" em razão do crime.


Texto Anterior: Vizinho dorme no corredor do prédio
Próximo Texto: Governo diverge e atribui crime a diferentes prisões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.