São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

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TRANSPORTE

Sindicalistas da oposição dizem que colega morto havia denunciado fraudes trabalhistas e que receberam ameaças

Após crime, motoristas pedem proteção à PF

DA REPORTAGEM LOCAL

Dois dias depois do assassinato de um sindicalista que denunciou fraudes trabalhistas, integrantes da oposição ao atual comando do sindicato dos motoristas e cobradores de São Paulo foram à Polícia Federal pedir proteção. Eles afirmam que têm sofrido constantes ameaças de morte.
Na terça-feira, José Roberto Vieira Brito, 28, foi morto a tiros quando saía de sua casa. Segundo os sindicalistas que estiveram na Polícia Federal ontem, ele foi uma das seis pessoas que denunciaram ao Ministério Público Federal as fraudes trabalhistas de viações de ônibus, realizadas com o apoio do sindicato. A Procuradoria também confirma essa informação.
A advogada Kátia Gomide, da CUT (Central Única dos Trabalhadores) de São Paulo -que faz oposição à atual liderança do sindicato-, disse que entregou os nomes de cinco diretores envolvidos com as ameaças.
Gomide mora em Campinas e disse ter sido abordada há dez dias por dois homens armados, mas conseguiu fugir. Um sindicalista que a acompanhava ontem afirmou que recebeu, por intermédio de parentes, um "recado" de que é o "próximo da lista".
Eleito em novembro do ano passado, o atual presidente do sindicato, Luiz Gonçalves, se defendeu e afirmou que "os companheiros da oposição ainda não conseguiram perceber que a eleição acabou".
Segundo ele, o sindicalista assassinado -embora o Ministério Público afirme que ele era ligado à oposição- apoiava o seu grupo e foi morto por outras questões. "Esse rapaz estava havia sete meses na "caixa" [afastado com auxílio-doença]. Parece que era em virtude de problemas neurológicos, parece que ele estava meio misturando as coisas."
Além disso, diz o presidente do sindicato, "tem um boato de que ele tinha problema de envolvimento com agiotas, problemas de limpar nomes de pessoas no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) sem pagar a dívida". Para Gonçalves, "a morte dele está relacionada a esse tipo de coisa".
Os acordos trabalhistas considerados fraudulentos vinham sendo feitos desde 2003 e estabeleceram a demissão de motoristas e cobradores, que seriam readmitidos em viações criadas com nomes diferentes se abrissem mão da multa de 40% do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e aceitassem um parcelamento das verbas rescisórias.
A estratégia visava "limpar" pendências trabalhistas dos maiores grupos, que, para participar da última licitação, criaram empresas "novas" (ao menos a razão social), embora frota, donos e funcionários sejam iguais aos das antigas, que acumulam dívidas.
O presidente do sindicato diz que o acordo foi "a proposta máxima que conseguimos arrumar". Gonçalves diz que procurou ajuda do Ministério Público e da prefeitura antes de firmar os acordos, mas "ninguém quis ajudar".


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