São Paulo, domingo, 05 de março de 2006

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SAÚDE/AUDIÇÃO

Forma de terapia ajuda a desenvolver a linguagem e o ritmo da voz do paciente

Música ainda é pouco usada na reabilitação dos surdos

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Para alguns pode parecer impossível, mas os surdos são capazes de sentir vibrações musicais e de perceber a intensidade do som. Isso graças à musicoterapia -tratamento auxiliar tido como uma das principais formas de ensinar o deficiente auditivo a lidar com as questões sonoras.
"A fonoterapia é fundamental, mas a musicoterapia é uma excelente opção coadjuvante. Ela melhora o desenvolvimento da linguagem e o ritmo da voz. E é uma ótima forma de aumentar a auto-estima do surdo", diz Paulo Porto, otorrinolaringologista e coordenador do serviço de implantes cocleares do HC da Unicamp.
Apesar dos efeitos positivos na reabilitação auditiva, a musicoterapia para surdos ainda está "engatinhando" no país porque há poucos profissionais capacitados. O Instituto Nacional de Educação de Surdos, por exemplo, vinculado ao Ministério da Educação, suspendeu o programa de musicoterapia porque os professores especializados se aposentaram.
"Ainda há um certo receio das pessoas em trabalhar a surdez por meio da música. A idéia da musicoterapia é ensinar o surdo a se expressar por meio do som", disse o músico profissional Armando Fernandes Bugalho Filho.
Bugalho acompanhou os efeitos da música em pacientes surdos que foram monitorados por eletrodos e eletroencefalograma. "Tocamos os instrumentos sem que os pacientes vissem os aparelhos. O cérebro registrou o estímulo sonoro de acordo com a intensidade do som, assim como ocorre com pessoas que ouvem normalmente", explicou.
Para Bugalho, a confirmação da atividade cerebral nos surdos foi fundamental para o desenvolvimento de novas estratégias de atuação entre o musicoterapeuta e o surdo. "Além de ser eficiente, a música eleva a auto-estima e faz com que o deficiente auditivo perca o medo de se expressar."
A musicoterapeuta Cristiane Amorosino, professora da FMU e especialista em surdez, diz que a música também faz com que os surdos aprendam a perceber o próprio corpo. "Eles aprendem a identificar o som do batimento cardíaco, por exemplo." Além disso, o deficiente auditivo aprende a distinguir a intensidade, a freqüência e os timbres.
Cristiane exemplifica: "Como tem dificuldade para se expressar, o surdo chega a ter episódios de grito por causa da falta de controle e percepção. A musicoterapia ensina o surdo a entender as intensidades. Com isso, é possível melhorar a comunicação".
A musicoterapeuta Mirian Moritz trabalhou a técnica em uma surda oralizada que realizou cirurgia de implante coclear (aparelho colocado no ouvido que faz a pessoa voltar a ouvir). "O papel da musicoterapia é integrar esse paciente ao mundo sonoro. Utilizamos os instrumentos musicais como objetos intermediários entre o surdo e o mundo sonoro", disse.
O paciente recém-introduzido no mundo sonoro pode ter problemas psicológicos e emocionais se não for reabilitado corretamente. "Quando o surdo começa a ouvir, não tem parâmetros de sons. É necessário ambientar essa pessoa. A musicoterapia faz isso." Cada sessão custa cerca de R$ 80.


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