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SAÚDE/AUDIÇÃO
Forma de terapia ajuda a desenvolver a linguagem e o ritmo da voz do paciente
Música ainda é pouco usada na reabilitação dos surdos
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Para alguns pode parecer impossível, mas os surdos são capazes de sentir vibrações musicais e
de perceber a intensidade do som.
Isso graças à musicoterapia
-tratamento auxiliar tido como
uma das principais formas de ensinar o deficiente auditivo a lidar
com as questões sonoras.
"A fonoterapia é fundamental,
mas a musicoterapia é uma excelente opção coadjuvante. Ela melhora o desenvolvimento da linguagem e o ritmo da voz. E é uma
ótima forma de aumentar a auto-estima do surdo", diz Paulo Porto, otorrinolaringologista e coordenador do serviço de implantes
cocleares do HC da Unicamp.
Apesar dos efeitos positivos na
reabilitação auditiva, a musicoterapia para surdos ainda está "engatinhando" no país porque há
poucos profissionais capacitados.
O Instituto Nacional de Educação
de Surdos, por exemplo, vinculado ao Ministério da Educação,
suspendeu o programa de musicoterapia porque os professores
especializados se aposentaram.
"Ainda há um certo receio das
pessoas em trabalhar a surdez por
meio da música. A idéia da musicoterapia é ensinar o surdo a se
expressar por meio do som", disse o músico profissional Armando Fernandes Bugalho Filho.
Bugalho acompanhou os efeitos
da música em pacientes surdos
que foram monitorados por eletrodos e eletroencefalograma.
"Tocamos os instrumentos sem
que os pacientes vissem os aparelhos. O cérebro registrou o estímulo sonoro de acordo com a intensidade do som, assim como
ocorre com pessoas que ouvem
normalmente", explicou.
Para Bugalho, a confirmação da
atividade cerebral nos surdos foi
fundamental para o desenvolvimento de novas estratégias de
atuação entre o musicoterapeuta
e o surdo. "Além de ser eficiente, a
música eleva a auto-estima e faz
com que o deficiente auditivo perca o medo de se expressar."
A musicoterapeuta Cristiane
Amorosino, professora da FMU e
especialista em surdez, diz que a
música também faz com que os
surdos aprendam a perceber o
próprio corpo. "Eles aprendem a
identificar o som do batimento
cardíaco, por exemplo." Além
disso, o deficiente auditivo aprende a distinguir a intensidade, a
freqüência e os timbres.
Cristiane exemplifica: "Como
tem dificuldade para se expressar,
o surdo chega a ter episódios de
grito por causa da falta de controle e percepção. A musicoterapia
ensina o surdo a entender as intensidades. Com isso, é possível
melhorar a comunicação".
A musicoterapeuta Mirian Moritz trabalhou a técnica em uma
surda oralizada que realizou cirurgia de implante coclear (aparelho colocado no ouvido que faz a
pessoa voltar a ouvir). "O papel da
musicoterapia é integrar esse paciente ao mundo sonoro. Utilizamos os instrumentos musicais como objetos intermediários entre o
surdo e o mundo sonoro", disse.
O paciente recém-introduzido
no mundo sonoro pode ter problemas psicológicos e emocionais
se não for reabilitado corretamente. "Quando o surdo começa
a ouvir, não tem parâmetros de
sons. É necessário ambientar essa
pessoa. A musicoterapia faz isso."
Cada sessão custa cerca de R$ 80.
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