São Paulo, quinta, 5 de março de 1998

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MEIO AMBIENTE
Cerca de 120 índios no oeste de Roraima podem passar fome devido ao incêndio
Fogo destrói aldeias ianomâmis

ALTINO MACHADO
da Agência Folha, em Manaus

As florestas onde ficam três aldeias indígenas ianomâmis, na região dos municípios de Alto Alegre, Mucajaí e Ajarani, no oeste de Roraima, estão sendo devastadas por um enorme incêndio originado provavelmente nas fazendas ao lado da perimetral Norte, que corta as áreas indígenas.
A existência de diversos focos de incêndio na área foi relatada ontem ao administrador da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Boa Vista, Walter Blos, pelo diretor da CCPY (Comissão Pró-Ianomâmi), Carlos Zacquini, e pelo técnico agrícola Renato Lang, assessor estadual da CPT (Comissão Pastoral da Terra).

Tragédia
"Estamos enfrentando uma tragédia e tenho a impressão de que as pessoas não estão se dando conta", declarou Zacquini.
Ele afirmou que as tribos indígenas da região deverão passar fome por causa da estiagem.
As três aldeias, onde vivem cerca de 120 ianomâmis, serão inspecionadas a partir de segunda-feira por uma equipe da Funai.
"Teremos um diagnóstico da situação tão logo nosso pessoal percorra a região", disse Blos.
Zacquini declarou que os índios macuxis, por exemplo, estão comendo antes do tempo a mandioca que plantaram. A maniva, usada no replantio da mandioca, está se perdendo por causa da seca.
Há focos de incêndio em todo o Estado, sendo que a região de floresta mais atingida é a de Apiaú, onde o governo estadual e o Incra assentaram cerca de 1.500 famílias de pequenos produtores rurais.
Sobrevôo
O piloto Francisco Mesquita, 45, dono da Meta táxi aéreo, disse que a vegetação das montanhas da região do Surumu, no norte do Estado, estão sendo destruídas pelo fogo. As condições de vôo na região estão péssimas por causa da fumaça.
Segundo Mesquita, a serra do Araí, habitada por índios macuxis e colonos, está queimando há mais de duas semanas.
"Nasci na região, mas nunca vi tanto fogo e fumaça. O pior é que daqui a dois meses poderá começar a chover", disse o piloto.
A ilha Maracá, uma estação ambiental do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) com 101 mil hectares (a 130 km de Boa Vista), também está cercada por focos de incêndios que ocorrem nas fazendas e aldeias indígenas vizinhas. "A ilha está muito seca e tememos que uma faísca, trazida pelo vento, atravesse o rio e cause um incêndio que não teremos condições de controlar", disse Iran das Chagas Almeida, 29, funcionário do Ibama na estação.
O diretor de fiscalização do Ibama em Roraima, Valdir Ribeiro da Cruz, disse que foram montadas equipes para orientar a população a se defender dos incêndios. "Essa situação é consequência do fenômeno El Niño."

Há cerca de 120 índios ianomâmis em três aldeias no Estado de Roraima onde há incêndios; eles podem passar fome


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