São Paulo, terça-feira, 05 de abril de 2005

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MASSACRE NA BAIXADA

Testemunha relata que o assassino chegou a discutir com os PMs que registravam a ocorrência; 18 pessoas pediram proteção

Matador voltou à cena do crime, diz morador

TALITA FIGUEIREDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um dos autores da chacina da última quinta-feira que deixou 30 mortos na Baixada Fluminense voltou a um dos locais das mortes, em Queimados, 40 minutos após o crime. Ali, discutiu com os policiais militares que registravam os cinco assassinatos ocorridos no local e depois foi embora.
A cena foi descrita por uma testemunha da chacina ao deputado Geraldo Moreira (PSB), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Assembléia Legislativa do Estado do Rio).
Essa testemunha e mais 17 moradores de Queimados -ao todo, quatro adultos e 14 crianças e adolescentes entre 4 e 16 anos- pediram proteção ao governo do Estado e estão abrigadas na sede da Fundação de Amparo à Infância e à Adolescência (FIA), no centro do Rio. Elas deixariam o local ainda ontem.
As testemunhas pertencem a quatro famílias. O deputado informou que dois adultos e algumas crianças (ele não soube precisar o número) conseguem identificar e ajudar na confecção do retrato falado de pelo menos um dos quatro criminosos que estavam no Gol prata sem placa usado pelos autores da chacina.
Segundo o relato dos moradores, o matador retornou ao local, no bairro de Campo da Banha, em Queimados, no mesmo veículo e com a mesma roupa que usava na hora dos disparos.
Para o deputado, o fato de o homem ter deixado o local sem ser detido pelos policiais que registravam o crime é mais um indício da participação de PMs no caso.
Na rua Carlos Sampaio, no Campo da Banha, foram mortos três homens e dois adolescentes de 15 e 16 anos que conversaram na mureta de um bar desativado.

Aviso prévio
Os moradores de Queimados também disseram ao deputado que três ou quatro dias antes da chacina foram avisados de que "algo ruim" aconteceria no local e que deveriam sair dali.
Depois do crime, relatam, foram aconselhados a abandonar suas casas. Moreira disse que as testemunhas não disseram quem era o autor das ameaças, feitas também por telefone.
Com medo da reação dos assassinos, supostamente policiais militares do 24º Batalhão de Polícia Militar (Queimados), as testemunhas não procuraram a polícia, mas estavam dispostas a prestar depoimento depois de obterem garantia de proteção.
"Eles querem proteção, mas temem que sua segurança seja feita por policiais do Rio. Vou analisar os programas de proteção à testemunha do Estado e do Ministério Público e decidir para qual vou encaminhá-los. Eles estão muito assustados", disse o deputado.
À tarde, o deputado se encontrou com subprocurador de Direitos Humanos do Ministério Público, Leonardo Chaves, que deverá ouvir as testemunhas ainda esta semana. À noite, os quatro adultos prestaram depoimento ao subchefe de Planejamento Operacional da Secretaria de Segurança Pública, delegado Paulo Souto, na Chefia de Polícia Civil. Apesar de não ter revelado detalhes do depoimento, Souto disse que eles foram "muito produtivos".


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