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VIOLÊNCIA
Ataque foi após acidente de trânsito em que colega morreu; família da motorista está escondida
Grupo de Motoboys incendeia casa
CARLA MONIQUE BIGATTO
DO "AGORA"
Desde que se envolveu em um
acidente de trânsito, a família da
dona-de-casa Maria [nome fictício], 39, vive escondida. O acidente causou a morte de um motociclista de 26 anos e, por isso, eles
vêm sendo ameaçados por outros
motociclistas, que chegaram a incendiar a casa e o carro de Maria.
Segundo a família, a polícia diz
não poder garantir a segurança
dos ameaçados. A polícia nega.
O acidente aconteceu na noite
de 29 de abril, no bairro Casa
Grande (zona sul), o mesmo onde
mora a dona-de-casa. A família
-Maria, o marido, um sobrinho
e a namorada- voltava de uma
pescaria. A mulher dirigia uma
Parati 94 e diz ter encontrado
quatro motociclistas e uma van.
Segundo seu depoimento, Maria teria "fechado" acidentalmente um dos motoqueiros, passando
a ser perseguida pelo grupo.
A motorista perdeu o controle e
bateu na traseira de uma das motos, que bateu em um poste. O
condutor da moto, Anderson Silva Rios, 26, morreu na hora.
Segundo o sobrinho L.S.S., 27,
Maria fez menção de parar para
prestar socorro. "Mas a van veio
com tudo, aí sim a gente achou
que era assalto. Começaram a parar outras motos e a gente ficou
com medo", disse.
A dona-de-casa foi para casa,
deixou a Parati e foi de carona ao
25º DP (Parelheiros). Lá, a família
recebeu um telefonema de um vizinho avisando que a casa havia
sido incendiada por um grupo de
pelo menos 30 motociclistas. O
tanque de combustível de um dos
dois carros que estavam na garagem explodiu. A parte da frente
da casa ficou destruída.
Segundo um dos vizinhos de
Maria, que preferiu não se identificar, os motociclistas fecharam a
rua. "Eles invadiram a casa e depois atearam fogo."
Após o incêndio, o grupo de
motociclistas foi até o distrito policial e cercou o local. "O delegado
teve de chamar a PM. Eles estavam pressionando muito. Achei
que a gente ia ser linchado", disse
L.S.S. Segundo ele, o delegado de
plantão, Valcir Passeti Junior,
aconselhou a família a não voltar
para casa. "Ele disse que não poderia garantir nossa segurança."
Passetti Junior não foi encontrado ontem . O delegado Jorge Elias
Francisco, titular do DP de Parelheiros, negou, por intermédio da
Secretaria da Segurança, que a polícia tenha recomendado à família
que mudasse de endereço.
Ele também negou que o delegado plantonista tivesse declarado que não poderia garantir a segurança dos ameaçados ou que tivesse chamado reforço da Polícia
Militar. "Deve ter sido um mal-entendido, pois as vítimas estavam abaladas."
Maria foi indiciada por homicídio culposo e liberada por ter se
apresentado logo após o acidente.
Ela continua escondida.
Mesmo com a mudança da família, moradores do bairro afirmam que motociclistas continuam visitando a rua. "Eles passam por aqui todo dia de um jeito
ameaçador", afirma um vizinho.
O pai do motociclista morto, o
mecânico Armando Pacheco
Rios, disse não concordar com a
reação dos colegas de seu filho,
que incendiaram a casa de Maria.
"Eu não queria isso. Isso não vai
trazer ele de volta."
Mesmo assim, para Rios, o ato é
uma prova de amizade. "Esse pessoal que trabalha com moto é assim mesmo, mexeu com um, mexeu com todos", afirma.
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