São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2006

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VIOLÊNCIA

Ataque foi após acidente de trânsito em que colega morreu; família da motorista está escondida

Grupo de Motoboys incendeia casa

CARLA MONIQUE BIGATTO
DO "AGORA"

Desde que se envolveu em um acidente de trânsito, a família da dona-de-casa Maria [nome fictício], 39, vive escondida. O acidente causou a morte de um motociclista de 26 anos e, por isso, eles vêm sendo ameaçados por outros motociclistas, que chegaram a incendiar a casa e o carro de Maria.
Segundo a família, a polícia diz não poder garantir a segurança dos ameaçados. A polícia nega.
O acidente aconteceu na noite de 29 de abril, no bairro Casa Grande (zona sul), o mesmo onde mora a dona-de-casa. A família -Maria, o marido, um sobrinho e a namorada- voltava de uma pescaria. A mulher dirigia uma Parati 94 e diz ter encontrado quatro motociclistas e uma van.
Segundo seu depoimento, Maria teria "fechado" acidentalmente um dos motoqueiros, passando a ser perseguida pelo grupo.
A motorista perdeu o controle e bateu na traseira de uma das motos, que bateu em um poste. O condutor da moto, Anderson Silva Rios, 26, morreu na hora.
Segundo o sobrinho L.S.S., 27, Maria fez menção de parar para prestar socorro. "Mas a van veio com tudo, aí sim a gente achou que era assalto. Começaram a parar outras motos e a gente ficou com medo", disse.
A dona-de-casa foi para casa, deixou a Parati e foi de carona ao 25º DP (Parelheiros). Lá, a família recebeu um telefonema de um vizinho avisando que a casa havia sido incendiada por um grupo de pelo menos 30 motociclistas. O tanque de combustível de um dos dois carros que estavam na garagem explodiu. A parte da frente da casa ficou destruída.
Segundo um dos vizinhos de Maria, que preferiu não se identificar, os motociclistas fecharam a rua. "Eles invadiram a casa e depois atearam fogo."
Após o incêndio, o grupo de motociclistas foi até o distrito policial e cercou o local. "O delegado teve de chamar a PM. Eles estavam pressionando muito. Achei que a gente ia ser linchado", disse L.S.S. Segundo ele, o delegado de plantão, Valcir Passeti Junior, aconselhou a família a não voltar para casa. "Ele disse que não poderia garantir nossa segurança."
Passetti Junior não foi encontrado ontem . O delegado Jorge Elias Francisco, titular do DP de Parelheiros, negou, por intermédio da Secretaria da Segurança, que a polícia tenha recomendado à família que mudasse de endereço.
Ele também negou que o delegado plantonista tivesse declarado que não poderia garantir a segurança dos ameaçados ou que tivesse chamado reforço da Polícia Militar. "Deve ter sido um mal-entendido, pois as vítimas estavam abaladas."
Maria foi indiciada por homicídio culposo e liberada por ter se apresentado logo após o acidente. Ela continua escondida.
Mesmo com a mudança da família, moradores do bairro afirmam que motociclistas continuam visitando a rua. "Eles passam por aqui todo dia de um jeito ameaçador", afirma um vizinho.
O pai do motociclista morto, o mecânico Armando Pacheco Rios, disse não concordar com a reação dos colegas de seu filho, que incendiaram a casa de Maria. "Eu não queria isso. Isso não vai trazer ele de volta."
Mesmo assim, para Rios, o ato é uma prova de amizade. "Esse pessoal que trabalha com moto é assim mesmo, mexeu com um, mexeu com todos", afirma.


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