São Paulo, sábado, 05 de junho de 2004

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SAÚDE

Iniciativa do Hospital do Servidor Público Municipal foi inaugurada ontem

Paciente terminal ganha casa para morrer em SP

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma casa para morrer, que é também uma escola que ensina como lidar com a morte. Essa é a proposta da Casa de Apoio de Cuidados Especiais inaugurada ontem pelo Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo.
Para a Casa de Apoio vão os pacientes terminais que já não respondem aos tratamentos. "Deveriam ir para suas casas, que é o lugar para se morrer. Só vêm para cá aqueles cuja família não tem condições de oferecer cuidados", diz Giovanni de Sarno, diretor do hospital. A ida para a nova área da instituição é decidida entre médico, paciente e família.
Uma antiga residência dos barões do café próxima ao parque da Aclimação (zona sul), alugada por R$ 8.000 mensais, foi reformada para abrigar dez pessoas, com conforto. Nada ali lembra um hospital. Há acomodações para um acompanhante 24 horas, e as visitas, inclusive de crianças, não são limitadas.
Os pacientes que vão para a Casa de Apoio sabem que não voltarão mais. "Esse é um grande desafio para os profissionais da saúde, acostumados a lidar com a cura, não com a morte", diz Sarno.
"Educar os profissionais é talvez a principal função desse espaço", diz Dalva Yukie Matsumoto, médica oncologista e coordenadora do projeto. Ali não há UTIs, não se fazem procedimentos invasivos e ninguém é entubado. Há apenas oxigênio, soro e medicamentos para evitar a dor.
O psicólogo cubano Jorge Grau Abalo, especialista em "vivências de morte", está há uma semana treinando a equipe multidisciplinar que cuidará da Casa de Apoio.
Abalo já esteve 98 vezes em 20 países ensinando profissionais da saúde a lidar com a morte. "A intenção não é curar, mas cuidar, evitar o encarniçamento terapêutico", diz ele, referindo-se aos equipamentos que mantêm os pacientes vivos artificialmente.
A prefeita Marta Suplicy elogiou a beleza do local e beijou a primeira paciente, Silvia Santos, 47. Desde 1998 ela luta contra um câncer de mama, que se espalhou para o fígado e agora paralisou seus braços e suas pernas. Para os médicos, já não há nada mais a fazer, além de medicar suas dores e "humanizar" sua morte.


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