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CERCO AÉREO
Quadrilhas trazem armamentos por terra ou pelo Nordeste para evitar ter aviões derrubados na fronteira
Lei do Abate muda rota do tráfico de armas
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Com a entrada em vigor da Lei
do Abate, contrabandistas que
atuam no Brasil criaram pelo menos duas rotas alternativas para
trazer armamentos para o país.
O diagnóstico foi feito por parlamentares que participam da
CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) da Câmara dos Deputados que investiga o tráfico de armas no Brasil. Uma pesquisa feita
pela ONG Viva Rio estima que haja no país cerca de 4 milhões de
armas nas mãos do crime organizado -são 17,3 milhões no país.
Sancionada em 1998 pelo então
presidente Fernando Henrique
Cardoso e regulamentada em julho de 2004 pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, a Lei do Abate autoriza, desde outubro passado, a derrubada de aeronaves
consideradas suspeitas que entram no território brasileiro.
Pela lei, são consideradas suspeitas as aeronaves que não têm
plano de vôo aprovado e que são
oriundas de regiões reconhecidamente fontes de produção e distribuição de drogas ilícitas, como
os vizinhos Paraguai, Bolívia, Peru e Colômbia. Até agora, nenhum avião foi derrubado.
A partir da informação dos depoentes da CPI, os deputados
conseguiram identificar o que seriam as novas rotas. Uma delas,
também utilizadas pelos traficantes de drogas, mudou a forma de
entrada das armas que chegam
pela Bolívia e pelo Paraguai.
Segundo o presidente da CPI,
Moroni Torgan (PFL-CE), com o
risco de terem seus aviões interceptados na fronteira, os contrabandistas trazem armas do Paraguai e da Bolívia em picapes ou
veículos de pequeno porte.
Os veículos percorrem a região
de fronteira seca dos Estados do
Mato Grosso do Sul, Mato Grosso
e Rondônia e param em campos
de pouso de grande movimentação de cidades fronteiriças, como
Ponta-Porã (MS), que teria, segundo Torgan, representantes
dos 20 maiores produtores de armas do mundo.
Dali, usam aviões para levar a
carga para o Rio e São Paulo. Assim, ficam livres da fiscalização.
A segunda nova rota identificada é pelo Suriname. Em vez de entrar por via aérea pela fronteira
com o Brasil, os traficantes seguem de avião até o oceano Atlântico. Dali percorrem o litoral do
Nordeste e entram no país por algum ponto da região. Esses locais
estão sendo investigados.
Em seguida, param em pontos
estratégicos normalmente a 200
km da costa e organizam a distribuição em grandes centros.
"Essa rota facilita a entrada porque o Brasil não tem poder sobre
o espaço aéreo do Atlântico, considerado internacional. Além disso, as aeronaves que entram no
Nordeste não são consideradas
suspeitas", afirmou Torgan.
O chefe da Divisão de Combate
ao Tráfico Ilícito de Armas da Polícia Federal, delegado Vantuil
Cordeiro, confirmou a mudança
de estratégia dos traficantes.
Embora não tenha revelado dados, ele disse que as armas estão
entrando no país por via terrestre,
mas no chamado tráfico "formiguinha" -em pequenas cargas.
Segundo Cordeiro, um dos indícios da mudança de rota foi a
apreensão de um arsenal da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em abril, em
Osasco (SP).
Havia cerca de 20 armas, entre
pistolas e escopetas, mais de mil
munições de calibres variados e
uma mira telescópica. Todo o material, segundo Cordeiro, veio do
Paraguai por via terrestre.
A PRF (Polícia Rodoviária Federal) tem uma outra visão sobre
o assunto. Segundo dados da corporação, as apreensões de armas
em rodovias federais entre janeiro
e maio deste ano não aumentou
em relação a 2004. A média de
apreensões permaneceu em três
por dia. Para a PRF, os grandes
carregamentos chegam pelo mar.
O delegado Cordeiro afirmou
que, pela ordem, as armas entram
no Brasil com maior frequência
pelo Paraguai, Uruguai (principalmente pelas cidades fronteiriças de Chuí e Guaraí, no RS), Argentina e, em quarto, Bolívia.
Sobre a rota do Suriname, Cordeiro afirmou que não é só de entrada, mas também de saída de
armas. Segundo ele, traficantes
brasileiros vão até o país sul-americano trocar armamentos por
drogas com colombianos.
Segundo Torgan, pelo Suriname chegariam preferencialmente
as armas produzidas na Europa,
como o fuzil russo AK-47 e metralhadoras antiaéreas da Ásia.
Já o fuzil AR-15, norte-americano, estaria vindo de Miami (EUA)
em aviões comerciais.
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