São Paulo, domingo, 05 de junho de 2005

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SAÚDE

Estudo mostra que, de 657 doentes de câncer que fizeram tratamento, 57% têm medo de ter a fertilidade comprometida

Esterilidade preocupa mulheres jovens

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das questões mais debatidas em relação ao câncer da mama em mulheres jovens é o comprometimento da fertilidade.
Dependendo do estágio do tumor, elas terão de ser submetidas à quimioterapia e/ou radioterapia, que podem levar à esterilidade em metade dos casos.
Estudo publicado em 2004 no "Journal of Clinical Oncology" mostrou que 57% de 657 mulheres jovens com câncer da mama entrevistadas tinham muita preocupação com a chance de se tornarem inférteis e 29% disseram que esse fato influenciou no tipo de tratamento adotado -mesmo que ele implicasse maior chance de reincidência da doença.
A maioria, 72%, discutiu o assunto com seus oncologistas e 17% preferiram consultar um especialista em fertilidade. Entre as mulheres pesquisadas, 26% reclamaram que não foram bem orientadas pelos seus médicos sobre as conseqüências do tratamento nas chances de ter filho no futuro.
"Mulheres jovens com câncer têm pouquíssimas opções para preservar sua fertilidade", diz Antonio Frasson. Para ele, são necessárias pesquisas que ajudem médicos a selecionar terapias eficazes de combate à doença e preservação da fertilidade das pacientes.
Especialistas em reprodução humana sugerem que pacientes congelem óvulos ou tecido ovariano para, no futuro, tentarem a gravidez por meio da fertilização in vitro. O assunto é polêmico.
Segundo Antonio Frasson, 50% dos tumores de mama estão associados ao hormônio estrogênio. Assim, as estimulações ovarianas para a fertilização in vitro, feitas com administração de drogas à base desse hormônio, estimularia o crescimento do tumor. "Pode ser uma estimulação passageira, mas não há segurança de que não vá contribuir para a evolução do tumor", afirma o médico.
Segundo o oncologista Ricardo Marques, do Hospital Sírio Libanês, como há 50% de chances de a mulher entrar na menopausa após a quimioterapia, muitas se submetem à fertilização in vitro e congelam os embriões para serem transferidos após o tratamento. A chance de gravidez com o procedimento é em torno de 30%.
O problema tem sido com as mulheres sem parceiros fixos. Como ainda não há tecnologia eficaz que garanta bom índice de gravidez com óvulo congelado, algumas tentam fecundar seus óvulos com espermatozóides de doador anônimo. "É uma discussão muito difícil. Casos de gravidez com óvulo congelado são raríssimos. É mais factível congelar o embrião."
Muitas mulheres jovens que têm o câncer diagnosticado, diz ele, não abrem mão da maternidade mesmo sabendo que há maior chance de reincidência do câncer no período de cinco anos. Por isso, afirma, o tratamento deve ser muito discutido. (CC)

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