São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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URBANISMO

Movimento de moradores quer preservar o bairro e evitar que sejam abertos novos bares e restaurantes na área

Vila Madalena tenta conter badalação

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Temendo o avanço de bares e restaurantes que transformaram o bairro em uma das zonas mais badaladas -e barulhentas- de São Paulo, moradores das ruas Delfina, Arapiraca e praça João Francisco Lisboa, na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo), tentam conter a abertura de novos estabelecimentos na vizinhança.
Já funcionam na área o Astor e o Capim Santo, e pelo menos mais quatro outros estabelecimentos tentam se instalar no local. O grupo quer preservar a região, que ainda é um dos raros pontos de tranquilidade do bairro.
"Essa invasão é uma loucura. Queremos evitar o que aconteceu com a rua Mourato Coelho, que, hoje em dia, está totalmente degradada", afirma o artista gráfico Alex Wissenbach, que vive com a mulher, Cristina, em um terreno comprado por seu pai em 1928, na praça João Francisco Lisboa.
Instalado na esquina da praça com a rua Arapiraca, o Capim Santo possui alvará de funcionamento de bar e lanchonete, mas aparece como um dos bons restaurantes da cidade em guias e revistas. "Apesar do registro de bar e lanchonete, o Capim Santo é um grande restaurante", diz Cristina.
"Se for comprovado que o local é um restaurante, ele não poderá funcionar", afirma a administradora regional de Pinheiros, Bia Pardi. Ela encaminhou o caso à Secretaria Municipal de Abastecimento, que fará um parecer definindo a categoria do lugar.
De acordo com a Lei de Zoneamento, as ruas Delfina e Arapiraca e a praça João Francisco Lisboa situam-se em áreas Z9 e Z17, de uso predominantemente residencial, admitindo apenas comércio "eventual" (farmácia, bazar etc.) e de alimentação, o que inclui bar e lanchonete com até 250 m2.
Como a legislação deixa vaga a diferenciação entre restaurante e bar e lanchonete, os estabelecimentos acabam encontrando uma brecha para funcionar.
A organização dos moradores da rua Delfina começou a surgir em abril deste ano, depois que apareceram obras de novos empreendimentos.
"Percebemos a movimentação e verificamos que as quatro obras em andamento não tinham alvará afixado na fachada. Fizemos um pedido para a regional verificar se eram legais ou não", conta a psicóloga Monika von Koss, que vive há dez anos na rua Arapiraca.
O resultado da mobilização foi a autuação e a paralisação das obras. Duas continuam embargadas: uma está em fase inicial e sediaria uma choperia; a outra, praticamente concluída, daria lugar a um sushi-bar. As outras duas -um pub e um estabelecimento com "alvará de uso misto"- foram regularizadas. Só depois de abertas, porém, serão fiscalizadas para saber se se enquadram nos critérios da Lei de Zoneamento.
Segundo a regional de Pinheiros, há pelo menos mais seis grupos de moradores, em outras áreas do bairro, que também começaram a se mobilizar por causa de problemas semelhantes.
"A união dos vizinhos é a melhor forma de ter interlocução em uma cidade tão cheia de problemas como São Paulo", afirma a administradora de Pinheiros.
Em uma estimativa da regional, feita no ano passado, a Vila Madalena tem cerca de 300 bares, que fazem com o movimento do bairro triplique nos finais de semana.
Para os moradores, o Astor e o Capim Santo trouxeram para a área problemas de estacionamento, barulho e violência.
"Nos finais de semana, ficamos no meio de um grande estacionamento", conta Monika.
Os moradores e os proprietários já se reuniram para tentar solucionar os impasses em uma reunião mediada pela regional. Segundo os donos do Astor e do Capim Santo, as providências solicitadas já foram tomadas.
"Criamos um estacionamento para 80 carros e distribuímos um texto redigido em conjunto com os moradores para os clientes", afirma Edgar Costa Bueno, um dos proprietários do Astor.
Reginaldo Tripoli, sócio do Capim Santo, mudou os horários de entrega de mercadorias e afirma que tenta conscientizar seus clientes para não fazer barulho.



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