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URBANISMO
Movimento de moradores quer preservar o bairro e evitar que sejam abertos novos bares e restaurantes na área
Vila Madalena tenta conter badalação
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Temendo o avanço de bares e
restaurantes que transformaram
o bairro em uma das zonas mais
badaladas -e barulhentas- de
São Paulo, moradores das ruas
Delfina, Arapiraca e praça João
Francisco Lisboa, na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo), tentam conter a abertura de novos
estabelecimentos na vizinhança.
Já funcionam na área o Astor e o
Capim Santo, e pelo menos mais
quatro outros estabelecimentos
tentam se instalar no local. O grupo quer preservar a região, que
ainda é um dos raros pontos de
tranquilidade do bairro.
"Essa invasão é uma loucura.
Queremos evitar o que aconteceu
com a rua Mourato Coelho, que,
hoje em dia, está totalmente degradada", afirma o artista gráfico
Alex Wissenbach, que vive com a
mulher, Cristina, em um terreno
comprado por seu pai em 1928, na
praça João Francisco Lisboa.
Instalado na esquina da praça
com a rua Arapiraca, o Capim
Santo possui alvará de funcionamento de bar e lanchonete, mas
aparece como um dos bons restaurantes da cidade em guias e revistas. "Apesar do registro de bar
e lanchonete, o Capim Santo é um
grande restaurante", diz Cristina.
"Se for comprovado que o local
é um restaurante, ele não poderá
funcionar", afirma a administradora regional de Pinheiros, Bia
Pardi. Ela encaminhou o caso à
Secretaria Municipal de Abastecimento, que fará um parecer definindo a categoria do lugar.
De acordo com a Lei de Zoneamento, as ruas Delfina e Arapiraca e a praça João Francisco Lisboa
situam-se em áreas Z9 e Z17, de
uso predominantemente residencial, admitindo apenas comércio
"eventual" (farmácia, bazar etc.) e
de alimentação, o que inclui bar e
lanchonete com até 250 m2.
Como a legislação deixa vaga a
diferenciação entre restaurante e
bar e lanchonete, os estabelecimentos acabam encontrando
uma brecha para funcionar.
A organização dos moradores
da rua Delfina começou a surgir
em abril deste ano, depois que
apareceram obras de novos empreendimentos.
"Percebemos a movimentação e
verificamos que as quatro obras
em andamento não tinham alvará
afixado na fachada. Fizemos um
pedido para a regional verificar se
eram legais ou não", conta a psicóloga Monika von Koss, que vive
há dez anos na rua Arapiraca.
O resultado da mobilização foi a
autuação e a paralisação das
obras. Duas continuam embargadas: uma está em fase inicial e sediaria uma choperia; a outra, praticamente concluída, daria lugar a
um sushi-bar. As outras duas
-um pub e um estabelecimento
com "alvará de uso misto"- foram regularizadas. Só depois de
abertas, porém, serão fiscalizadas
para saber se se enquadram nos
critérios da Lei de Zoneamento.
Segundo a regional de Pinheiros, há pelo menos mais seis grupos de moradores, em outras
áreas do bairro, que também começaram a se mobilizar por causa
de problemas semelhantes.
"A união dos vizinhos é a melhor forma de ter interlocução em
uma cidade tão cheia de problemas como São Paulo", afirma a
administradora de Pinheiros.
Em uma estimativa da regional,
feita no ano passado, a Vila Madalena tem cerca de 300 bares, que
fazem com o movimento do bairro triplique nos finais de semana.
Para os moradores, o Astor e o
Capim Santo trouxeram para a
área problemas de estacionamento, barulho e violência.
"Nos finais de semana, ficamos
no meio de um grande estacionamento", conta Monika.
Os moradores e os proprietários
já se reuniram para tentar solucionar os impasses em uma reunião mediada pela regional. Segundo os donos do Astor e do Capim Santo, as providências solicitadas já foram tomadas.
"Criamos um estacionamento
para 80 carros e distribuímos um
texto redigido em conjunto com
os moradores para os clientes",
afirma Edgar Costa Bueno, um
dos proprietários do Astor.
Reginaldo Tripoli, sócio do Capim Santo, mudou os horários de
entrega de mercadorias e afirma
que tenta conscientizar seus clientes para não fazer barulho.
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