São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2004

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"Apontam armas para todo mundo"

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em meio à guerra pelo controle de pontos-de-venda de drogas do morro do Adeus, dezenas de pessoas abandonaram suas casas. As cerca de 70 pessoas que, desde a noite de anteontem, se refugiaram na praça das Nações -a 500 m da favela- mostravam medo de não poder voltar para casa.
"Teve gente que fugiu ontem [sábado] mesmo e passou a noite na rua. Eles [os traficantes] estão buscando os homens que moram na favela. Apontam armas para todo mundo, agridem e ameaçam as pessoas", disse um morador de 53 anos. Ele afirmou que vive há 50 anos no morro.
O medo de sofrer represálias ao voltar para a favela fazia com que praticamente todos se recusassem a dizer nomes ou posar para fotos.
A dona-de-casa H.C., 28, mora na rua Aquiri, um dos acessos ao morro do Adeus, desde que nasceu. Ela saiu de casa por volta das 6h, levando os três filhos e uma mochila com poucas roupas.
"Quem mora na favela está acostumado com o tráfico, mas eu nunca tinha visto nada parecido com isso. Os traficantes, com armas apontadas para as pessoas, entravam nas casas e roubavam o que encontravam, além de ameaçar os homens de morte", disse ela, que decidiu ir para a casa da irmã, em Bangu (zona oeste).
M.N., 32, saiu de casa por volta de 23h de anteontem, levando os sete filhos para a casa de parentes em Duque de Caxias (região metropolitana do Rio). Segundo ela, as melhores casas da favela eram invadidas e saqueadas.
"Eles [os traficantes] acham que, se a casa é um pouco melhor, é porque o dono tem ligação com o tráfico. Aí invadem", disse. "Se for jovem, eles dizem logo que é do "movimento" [tráfico], agridem e matam."


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