São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2006

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Guerra do tráfico mata ao menos 8 no Rio

Disputa interna em morro provoca intenso tiroteio na madrugada de segunda; vítimas foram deixadas em dois carros

Outros cinco corpos foram encontrados nas proximidades da favela, mas, segundo a polícia, três não têm relação com o caso


TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

ITALO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

A guerra entre traficantes do morro do São Carlos, no Estácio, centro do Rio, resultou em oito mortes, entre elas a de um adolescente de 14 anos. Os corpos foram abandonados com muitos tiros de pistola e fuzil dentro de dois carros roubados, no Engenho Novo, na zona norte. Alguns tinham as mãos amarradas e um estava com a calça arriada.
Outros cinco corpos foram encontrados nas proximidades do morro do São Carlos entre a manhã de segunda-feira e a tarde de ontem. Pelo menos três mortes já estão descartadas pela polícia de fazer parte da mesma guerra. Outros dois homens, que foram encontrados em um carro, podem ter ligação com o conflito.
De acordo com o delegado Ronald Hurst, da 25ª DP (Engenho Novo), os oito jovens estavam mortos havia mais de 20 horas, o que confirmaria que foram assassinados durante um intenso tiroteio na madrugada de segunda-feira no São Carlos. A polícia ainda não sabe por que os corpos foram deixados em outro bairro.
Segundo Hurst, pode ser que haja outros mortos, já que vários parentes de moradores da favela estão procurando desaparecidos na delegacia.
Desde a manhã de ontem, a Polícia Militar faz incursões no morro. De acordo com o comandante do 1º BPM, tenente-coronel Álvaro Sérgio de Moura, a PM recebeu denúncia de que haveria sete mortos no morro. Nenhum deles foi encontrado.
O São Carlos é comandado pela facção ADA (Amigo dos Amigos). Desde a morte de Gilson Ramos da Silva, o Aritana, em março, o morro é palco de disputas internas. Aritana era o sucessor do traficante Irapuan David Lopes, o Gangan, um dos maiores líderes da ADA.

Servente
A polícia investiga a hipótese de o ataque ter sido liderado por um traficante identificado apenas como Thiago, também conhecido por Coelho. Ele teria herdado as bocas-de-fumo de Aritana, na parte alta do morro. Por suspeitar que os gerentes das vendas de droga da parte baixa planejavam um golpe, resolveu agir primeiro.
Os mortos foram identificados como Carlos Eduardo Gomes Reinoso, 24, Alexander de Jesus, 19, Willian dos Santos, 22, Washington dos Santos Teixeira, 25, Luiz Cláudio Gonçalves Oliveira, 24, Kleiton de Oliveira Martins, 22, Leandro Correia Gomes de Souza, 20, e Wallace Barbosa, 14.
No IML (Instituto Médico Legal), a irmã de Alexander, que não quis se identificar, afirmou que o rapaz era servente. "Ele saiu para uma festa de rua às 22h. Por volta das 2h, teve um intenso tiroteio no morro. Na hora, ouvi um boato de que teria invasão de traficantes. Foi uma chacina, uma coisa horrível", contou.

Outros mortos
Nas proximidades do São Carlos foram encontrados outros cinco mortos. Dois estavam dentro de um carro no centro. Um deles namorava uma jovem do São Carlos. O outro ainda não foi identificado. A polícia ainda não descarta a hipótese de essas mortes terem ligação com a chacina. A namorada será ouvida hoje.
Outros dois estavam em sacos plásticos dentro do canal do Mangue, na avenida Presidente Vargas, no centro. A suspeita é que seriam vítimas de traficantes da Providência, no centro. O quinto corpo foi encontrado na rua Itapiru, próxima ao morro do São Carlos. A vítima foi espancada e não havia sido identificada até a conclusão desta edição.


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