São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004

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SAÚDE

Intolerantes a glicose são tratados com drogas antes dadas apenas aos doentes; medida é polêmica entre os médicos

Exercícios e dieta previnem diabetes

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

A redução de 7% do peso corporal e a prática de exercícios físicos por 30 minutos diários são suficientes para prevenir o diabetes tipo 2 em 58% das pessoas que já apresentam intolerância à glicose, um estágio anterior à diabetes também conhecido por "pré-diabetes". No Brasil, estima-se que pelo menos 8% da população estejam nessa condição.
A eficácia da mudança do estilo de vida na redução dos riscos do diabetes foi demonstrada em dois estudos internacionais, que acompanharam durante três anos 3.756 homens acima de 50 anos. Outros dois trabalhos mostram que o tratamento dos intolerantes à glicose com drogas antidiabéticas também reduzem o risco à doença em 32% e 56%.
A intolerância à glicose significa que o corpo não está reconhecendo adequadamente a ação da insulina (hormônio responsável por retirar o açúcar do sangue e permitir sua entrada nas células). Essa falha leva ao aumento dos níveis de açúcar no sangue.
Embora muitos médicos brasileiros já estejam tratando pacientes pré-diabéticos com remédios, a medida é polêmica em razão da inexistência de estudos científicos que comprovem a segurança da terapia a longo prazo.
Para o endocrinologista Leão Zagury, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, por não se conhecer os efeitos do uso continuado dos antidiabéticos por pessoas com intolerância à glicose, a terapia não é 100% segura.
Ele defende que o médico insista para que o paciente mude o seu estilo de vida, perdendo peso e praticando atividades físicas diárias. "O uso das drogas deve ser o último recurso", afirma o médico.
Já o endocrinologista Freddy Goldberg Eliaschewitz, coordenador do núcleo de terapia celular e molecular do Instituto de Química da USP, avalia que o tratamento dos pré-diabéticos com remédios é "factível e defensável".
Para ele, é mais fácil o paciente tomar medicamentos do que mudar o estilo de vida. "Essa é a parte mais difícil da medicina: fazer com que paciente perca peso e mantenha isso", diz.
Eliaschewitz afirma que a intervenção medicamentosa se justifica pelo fato de os intolerantes à glicose já apresentarem alto risco de sofrer um infarto. "Isso não é pouca coisa", alerta o médico.
Na avaliação do endocrinologista Antonio Roberto Chacra, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), as drogas antidiabéticas devem ser ministradas apenas aos pacientes de risco, ou seja, pessoas acima de 40 anos, obesas, com alto índice de colesterol "ruim", hipertensas, fumantes ou com história familiar de infartos.
Tanto a prática de exercícios e a dieta como o uso de antidiabéticos objetivam prevenir as complicações cardiovasculares causadas pelo diabetes, que matam 70% das pessoas com diabetes tipo 2.
As drogas mais indicadas aos pré-diabéticos são a metmorfina, que aumenta a sensibilidade à insulina no fígado, e a acarbose, que retarda a absorção de carboidratos. Ambas causam efeitos colaterais, como desconforto abdominal, flatulência e diarréia.

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