São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2001

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POLÍCIA

Assaltante teria se passado por vítima após roubar seu documento de identidade

Manobrista fica 56 dias na prisão injustamente

DO "AGORA"

Por não ter registrado ocorrência após ter perdido seu documento de identidade, o manobrista Valter Nascimento de Carvalho, 35, passou 56 dias na prisão mesmo sem ter participado de nenhum crime.
Ele perdeu seu RG em 1993, e o documento foi usado -provavelmente no mesmo ano- por um assaltante que, ao ser preso, se fez passar por Carvalho. O bandido pagou fiança para responder ao processo em liberdade. Depois disso, desapareceu.
Em agosto passado, Carvalho foi preso no lugar do impostor.
O drama começou quando Carvalho foi ao Poupatempo de Santo Amaro, em julho, para providenciar a terceira via de seu RG, pois perdera a segunda via -que ele havia tirado depois de extraviar o documento original.
Depois de preencher parte da documentação exigida para tirar a carteira de identidade, foi avisado por funcionários de que havia uma ordem de prisão contra ele. Ele foi orientado a procurar o serviço de identificação da Polícia Civil, para esclarecer o caso e solicitar o novo RG.
Na polícia, segundo Carvalho, disseram a ele que deveria ir ao Fórum de Guarulhos (Grande SP), de onde partira a ordem de prisão. Ele diz que compareceu quatro vezes à 3ª Vara Criminal da cidade, onde tentou expor o que estava ocorrendo. Na quinta visita, acabou preso.
Carvalho foi levado à cadeia do 1º DP de Guarulhos, onde passou dois dias detido. De lá, foi encaminhado para a cadeia pública de Santa Isabel (Grande SP), onde ficou preso mais 51 dias.
Antes de ser libertado, Carvalho foi transferido uma outra vez, para a Penitenciária 2 de Guarulhos, onde ficou por três dias.
"Na cadeia, ninguém acreditava na minha história. Só quando [os detentos" conversaram com meus parentes, descobriram que era mesmo verdade", afirma.
Segundo Douglas Oliveira, advogado de Carvalho, se o cliente tivesse comunicado à polícia a perda do RG, ele nunca teria sido preso. Em 1993, quando perdeu o documento, Carvalho não registrou um boletim de ocorrência.
"Esse procedimento é básico. Todos que perdem o documento e não fazem boletim de ocorrência correm o risco de sofrer o que ele sofreu", afirma Oliveira.

Tatuagem
Além de ter um dedo a menos em uma das mãos, o verdadeiro ladrão -cujo nome ainda é desconhecido pela polícia, que possui apenas digitais e fotos dele- possuía tatuagem e era solteiro.
Já Carvalho tem os cinco dedos da mão esquerda, não tem tatuagem alguma e é divorciado.
Para a defesa, esses dados juntos foram essenciais para que o habeas corpus fosse concedido pela Justiça de Guarulhos e para que o processo no qual constava o nome de Carvalho fosse arquivado.
A reportagem esteve no Fórum para consultar o processo, mas os funcionários do departamento de arquivo estavam em greve. Funcionários do cartório confirmaram que realmente houve ordem judicial para que o réu fosse solto.
Carvalho, que mora com a irmã em Itapecerica da Serra (Grande SP), acha que será difícil conseguir um novo emprego depois de ter passado um período na prisão.



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