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POLÍCIA
Assaltante teria se passado por vítima após roubar seu documento de identidade
Manobrista fica 56 dias
na prisão injustamente
DO "AGORA"
Por não ter registrado ocorrência após ter perdido seu documento de identidade, o manobrista Valter Nascimento de Carvalho, 35, passou 56 dias na prisão
mesmo sem ter participado de nenhum crime.
Ele perdeu seu RG em 1993, e o
documento foi usado -provavelmente no mesmo ano- por
um assaltante que, ao ser preso, se
fez passar por Carvalho. O bandido pagou fiança para responder
ao processo em liberdade. Depois
disso, desapareceu.
Em agosto passado, Carvalho
foi preso no lugar do impostor.
O drama começou quando Carvalho foi ao Poupatempo de Santo Amaro, em julho, para providenciar a terceira via de seu RG,
pois perdera a segunda via -que
ele havia tirado depois de extraviar o documento original.
Depois de preencher parte da
documentação exigida para tirar
a carteira de identidade, foi avisado por funcionários de que havia
uma ordem de prisão contra ele.
Ele foi orientado a procurar o serviço de identificação da Polícia Civil, para esclarecer o caso e solicitar o novo RG.
Na polícia, segundo Carvalho,
disseram a ele que deveria ir ao
Fórum de Guarulhos (Grande
SP), de onde partira a ordem de
prisão. Ele diz que compareceu
quatro vezes à 3ª Vara Criminal
da cidade, onde tentou expor o
que estava ocorrendo. Na quinta
visita, acabou preso.
Carvalho foi levado à cadeia do
1º DP de Guarulhos, onde passou
dois dias detido. De lá, foi encaminhado para a cadeia pública de
Santa Isabel (Grande SP), onde ficou preso mais 51 dias.
Antes de ser libertado, Carvalho
foi transferido uma outra vez, para a Penitenciária 2 de Guarulhos,
onde ficou por três dias.
"Na cadeia, ninguém acreditava
na minha história. Só quando [os
detentos" conversaram com meus
parentes, descobriram que era
mesmo verdade", afirma.
Segundo Douglas Oliveira, advogado de Carvalho, se o cliente
tivesse comunicado à polícia a
perda do RG, ele nunca teria sido
preso. Em 1993, quando perdeu o
documento, Carvalho não registrou um boletim de ocorrência.
"Esse procedimento é básico.
Todos que perdem o documento
e não fazem boletim de ocorrência correm o risco de sofrer o que
ele sofreu", afirma Oliveira.
Tatuagem
Além de ter um dedo a menos
em uma das mãos, o verdadeiro
ladrão -cujo nome ainda é desconhecido pela polícia, que possui apenas digitais e fotos dele-
possuía tatuagem e era solteiro.
Já Carvalho tem os cinco dedos
da mão esquerda, não tem tatuagem alguma e é divorciado.
Para a defesa, esses dados juntos
foram essenciais para que o habeas corpus fosse concedido pela
Justiça de Guarulhos e para que o
processo no qual constava o nome de Carvalho fosse arquivado.
A reportagem esteve no Fórum
para consultar o processo, mas os
funcionários do departamento de
arquivo estavam em greve. Funcionários do cartório confirmaram que realmente houve ordem
judicial para que o réu fosse solto.
Carvalho, que mora com a irmã
em Itapecerica da Serra (Grande
SP), acha que será difícil conseguir um novo emprego depois de
ter passado um período na prisão.
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