São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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EFEITO COLATERAL

Empresas dos EUA se baseavam em estudos sobre riscos de problemas cardiovasculares após uso do medicamento

Plano de saúde rejeita Vioxx desde 2000

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Algumas empresas de saúde dos EUA assistiram sem surpresa ao anúncio da farmacêutica americana Merck de retirada de seu antiinflamatório Vioxx do mercado, feito na última quinta-feira.
Desde 2000, esses grupos já haviam suspendido o uso do medicamento por seus pacientes e segurados com base em informações de que o remédio aumentava os riscos de problemas cardiovasculares -informações que, dizem os médicos de um dos grupos, não foram levadas a público pela Merck de forma adequada.
Pelo menos quatro seguradoras americanas proeminentes adotavam essa prática, segundo o jornal "USA Today": Kaiser Permanente, Group Health, Premera Blue Cross e Veterans Administration. Nos EUA, as seguradoras costumam cobrir também a medicação -e o Vioxx foi excluído das listas dessas firmas.
Para o Health Group -que atua como seguradora e centro médico no Estado de Washington e atende cerca de 540 mil pessoas-, os riscos apontados em um estudo de 2000 já eram suficientes para suspender a medicação. Outro fator que pode ter contado para a decisão das empresas de saúde é o preço: o Vioxx, assim como o Celebra, da concorrente Pfizer, pode custar dez vezes mais do que os antiinflamatórios tradicionais no mercado.
"[Esse estudo anterior] dizia que tinha um aumento significativo de risco de obstrução dos vasos sangüíneos para paciente usando Vioxx. Sabíamos desde o começo que havia motivo para nos preocuparmos", disse à Folha Jim Carlson, diretor de serviços farmacêuticos clínicos do grupo.
O estudo ao qual Carlson se refere chama-se Vigor e foi feito para avaliar a proteção que Vioxx dava ao estômago em relação aos antiinflamatórios tradicionais. Durante o estudo, que acabou em 2000 e envolveu mais de 6.000 pacientes, surgiram casos de efeitos colaterais sobre o sistema cardiovascular, e a Merck notificou a FDA (agência do governo dos EUA que regula os mercados de medicamentos e alimentos).
Entretanto, segundo Carlson, o grupo não divulgou as informações por meio de publicações médicas. "É uma questão de quanta informação uma farmacêutica dá à comunidade médica para que essa avalie os remédios na hora de receitá-los", disse Carlson. "Ninguém fica no site do FDA buscando informações perdidas."

Outro lado
João Sanches, diretor de comunicações da Merck, Sharp & Dohme, a subsidiária brasileira da Merck, confirmou que o efeito colateral apareceu, mas disse que ele não pode ser imediatamente atribuído ao uso de Vioxx. "Saiu um efeito colateral cardiovascular num grupo controlado, mas era um pouco diferente: um grupo tomava naproxeno [antiinflamatórios do tipo da aspirina] e outro não", afirmou. "A hipótese levantada na época era que que o naproxeno podia proteger contra eventos cardiovasculares, pois os efeitos apareceram nas pessoas que não estavam tomando."
Depois dos resultados, a bula do Vioxx foi mudada para acrescer que "acidentes cardiovasculares, como entupimentos de vasos sangüíneos, foram registrados em pacientes" do Vioxx. Para relacioná-los diretamente ao uso de Vioxx, diz a Merck, eram necessários novos estudos.
O resultado do primeiro desses estudos, recém-concluído, é que levou à retirada do anitiinflamatório do mercado.


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