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EFEITO COLATERAL
Empresas dos EUA se baseavam em estudos sobre riscos de problemas cardiovasculares após uso do medicamento
Plano de saúde rejeita Vioxx desde 2000
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Algumas empresas de saúde dos
EUA assistiram sem surpresa ao
anúncio da farmacêutica americana Merck de retirada de seu antiinflamatório Vioxx do mercado,
feito na última quinta-feira.
Desde 2000, esses grupos já haviam suspendido o uso do medicamento por seus pacientes e segurados com base em informações de que o remédio aumentava
os riscos de problemas cardiovasculares -informações que, dizem os médicos de um dos grupos, não foram levadas a público
pela Merck de forma adequada.
Pelo menos quatro seguradoras
americanas proeminentes adotavam essa prática, segundo o jornal "USA Today": Kaiser Permanente, Group Health, Premera
Blue Cross e Veterans Administration. Nos EUA, as seguradoras
costumam cobrir também a medicação -e o Vioxx foi excluído
das listas dessas firmas.
Para o Health Group -que
atua como seguradora e centro
médico no Estado de Washington
e atende cerca de 540 mil pessoas-, os riscos apontados em
um estudo de 2000 já eram suficientes para suspender a medicação. Outro fator que pode ter contado para a decisão das empresas
de saúde é o preço: o Vioxx, assim
como o Celebra, da concorrente
Pfizer, pode custar dez vezes mais
do que os antiinflamatórios tradicionais no mercado.
"[Esse estudo anterior] dizia
que tinha um aumento significativo de risco de obstrução dos vasos
sangüíneos para paciente usando
Vioxx. Sabíamos desde o começo
que havia motivo para nos preocuparmos", disse à Folha Jim
Carlson, diretor de serviços farmacêuticos clínicos do grupo.
O estudo ao qual Carlson se refere chama-se Vigor e foi feito para avaliar a proteção que Vioxx
dava ao estômago em relação aos
antiinflamatórios tradicionais.
Durante o estudo, que acabou em
2000 e envolveu mais de 6.000 pacientes, surgiram casos de efeitos
colaterais sobre o sistema cardiovascular, e a Merck notificou a
FDA (agência do governo dos
EUA que regula os mercados de
medicamentos e alimentos).
Entretanto, segundo Carlson, o
grupo não divulgou as informações por meio de publicações médicas. "É uma questão de quanta
informação uma farmacêutica dá
à comunidade médica para que
essa avalie os remédios na hora de
receitá-los", disse Carlson. "Ninguém fica no site do FDA buscando informações perdidas."
Outro lado
João Sanches, diretor de comunicações da Merck, Sharp & Dohme, a subsidiária brasileira da
Merck, confirmou que o efeito colateral apareceu, mas disse que ele
não pode ser imediatamente atribuído ao uso de Vioxx. "Saiu um
efeito colateral cardiovascular
num grupo controlado, mas era
um pouco diferente: um grupo tomava naproxeno [antiinflamatórios do tipo da aspirina] e outro
não", afirmou. "A hipótese levantada na época era que que o naproxeno podia proteger contra
eventos cardiovasculares, pois os
efeitos apareceram nas pessoas
que não estavam tomando."
Depois dos resultados, a bula do
Vioxx foi mudada para acrescer
que "acidentes cardiovasculares,
como entupimentos de vasos sangüíneos, foram registrados em
pacientes" do Vioxx. Para relacioná-los diretamente ao uso de
Vioxx, diz a Merck, eram necessários novos estudos.
O resultado do primeiro desses
estudos, recém-concluído, é que
levou à retirada do anitiinflamatório do mercado.
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