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Atirador diz que disparou por ver seus perseguidores na platéia
da Reportagem Local
O estudante Mateus da Costa Meira
disse à polícia que
atirou contra a platéia do cinema do
Morumbi Shopping por julgar que as pessoas que
assistiam o filme o estivessem
perseguindo.
Na realidade, Meira tem a sensação de estar sendo seguido há
anos. "Ele disse que ouve vozes,
que as paredes cochicham no seu
ouvido, que se sente observado e
que está sendo perseguido", disse
o delegado Olavo Reino Francisco, que ouviu o depoimento do
estudante. A sensação de que está
sendo perseguido e observado começou quando o estudante tinha
16 anos, segundo seu relato.
Foi por conta dessa sensação de
perseguição que Meira diz ter
comprado a metralhadora usada
anteontem. "Ele disse que era para se defender da tal perseguição
imaginária", contou o delegado.
Meira relatou detalhadamente à
polícia seus movimentos antes do
crime. Na terça-feira, deixou seu
apartamento de dois dormitórios
em Santa Cecília e se hospedou no
hotel Príncipe, na avenida São
João -ambos no centro de São
Paulo.
Na tarde de anteontem, recebeu
da pessoa apontada pela polícia
como seu fornecedor de drogas a
metralhadora usada no crime. A
troca foi feita no hotel. Em seguida, Meira saiu sem destino, pegou
um táxi e rumou para a zona sul
da capital paulista.
No caminho, afirmou, decidiu
parar no MorumbiShopping. "Ele
disse que escolheu descer no
shopping porque o local é distante de sua casa. Sua lógica era que,
se acontecesse alguma coisa, ninguém o reconheceria", narrou o
delegado.
Meira pagou R$ 30 pela corrida.
Eram cerca de 19h de quarta,
quando ele entrou no shopping.
Ele contou que ficou andando a
esmo pelos corredores até que,
por volta das 21h15, decidiu ir ao
cinema.
"Ele diz que escolheu o filme
porque sabia que o enredo falava
de um personagem com esquizofrenia", disse o delegado.
Meira contou que ficou cerca de
15 minutos sentado em uma das
poltronas da primeira fileira. Então, começou a ouvir suas vozes.
Levantou, foi ao banheiro e achou
que estava sendo seguido.
No banheiro, Meira atirou em
um espelho de parede, aparentemente contra a própria imagem.
Em seguida, voltou à sala.
Nesse momento, segundo o relato do estudante à polícia, ele teve a sensação de que as vozes que
ouvia vinham da platéia.
Começou então a disparar contra as pessoas na platéia.
Tiros intermitentes
Meira afirmou que não sabia
operar a arma e que, por isso, ela
estava no modo intermitente (onde os tiros saem isoladamente,
sem rajadas). De acordo com as
informações que deu à polícia, o
estudante tinha também uma pistola 380, ainda desaparecida.
Testemunhas relatam que, entre uma série de tiros e outra, Meira caminhou pelo cinema, olhou
para a platéia e chegou a ver algumas cenas do filme.
Disseram também que ele chegou a trocar o pente da metralhadora (recarregado a arma), mas
ele negou à polícia tê-lo feito.
Após uma das séries de tiros,
Meira foi jogado no chão por um
homem descrito como baixo, que
estava sentado em uma das primeiras fileiras, mas que não compareceu à polícia. Outras pessoas
da platéia pularam sobre ele, que
foi dominado e detido pela segurança do shopping.
Defesa
Meira apresentou alguns lapsos
de memória durante seu depoimento. Disse, por exemplo, que
não lembra de ter sido rendido
pela platéia nem do que aconteceu depois dos disparos.
Para o delegado Olavo Francisco, porém, o estudante está tentando facilitar a própria defesa.
"Ele é muito inteligente e está
tentando dar uma roupagem adequada ao que imagina que será a
tese de sua defesa. Por isso não diz
coisa com coisa", afirma.
O estudante admitiu ser usuário
de drogas, mas negou estar sob
efeito de entorpecentes no momento do crime.
"Ele estava tranquilo durante o
depoimento. Falou devagar e não
chorou nem se disse arrependido", disse o delegado.
O estudante era mantido até as
21h de ontem no 26º Distrito Policial, de onde deveria ser transferido ainda ontem.
(OTÁVIO CABRAL e SÍLVIA CORRÊA)
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