São Paulo, Sexta-feira, 05 de Novembro de 1999
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Atirador diz que disparou por ver seus perseguidores na platéia

da Reportagem Local



O estudante Mateus da Costa Meira disse à polícia que atirou contra a platéia do cinema do Morumbi Shopping por julgar que as pessoas que assistiam o filme o estivessem perseguindo.
Na realidade, Meira tem a sensação de estar sendo seguido há anos. "Ele disse que ouve vozes, que as paredes cochicham no seu ouvido, que se sente observado e que está sendo perseguido", disse o delegado Olavo Reino Francisco, que ouviu o depoimento do estudante. A sensação de que está sendo perseguido e observado começou quando o estudante tinha 16 anos, segundo seu relato.
Foi por conta dessa sensação de perseguição que Meira diz ter comprado a metralhadora usada anteontem. "Ele disse que era para se defender da tal perseguição imaginária", contou o delegado.
Meira relatou detalhadamente à polícia seus movimentos antes do crime. Na terça-feira, deixou seu apartamento de dois dormitórios em Santa Cecília e se hospedou no hotel Príncipe, na avenida São João -ambos no centro de São Paulo.
Na tarde de anteontem, recebeu da pessoa apontada pela polícia como seu fornecedor de drogas a metralhadora usada no crime. A troca foi feita no hotel. Em seguida, Meira saiu sem destino, pegou um táxi e rumou para a zona sul da capital paulista.
No caminho, afirmou, decidiu parar no MorumbiShopping. "Ele disse que escolheu descer no shopping porque o local é distante de sua casa. Sua lógica era que, se acontecesse alguma coisa, ninguém o reconheceria", narrou o delegado.
Meira pagou R$ 30 pela corrida. Eram cerca de 19h de quarta, quando ele entrou no shopping. Ele contou que ficou andando a esmo pelos corredores até que, por volta das 21h15, decidiu ir ao cinema.
"Ele diz que escolheu o filme porque sabia que o enredo falava de um personagem com esquizofrenia", disse o delegado.
Meira contou que ficou cerca de 15 minutos sentado em uma das poltronas da primeira fileira. Então, começou a ouvir suas vozes. Levantou, foi ao banheiro e achou que estava sendo seguido.
No banheiro, Meira atirou em um espelho de parede, aparentemente contra a própria imagem. Em seguida, voltou à sala.
Nesse momento, segundo o relato do estudante à polícia, ele teve a sensação de que as vozes que ouvia vinham da platéia.
Começou então a disparar contra as pessoas na platéia.

Tiros intermitentes
Meira afirmou que não sabia operar a arma e que, por isso, ela estava no modo intermitente (onde os tiros saem isoladamente, sem rajadas). De acordo com as informações que deu à polícia, o estudante tinha também uma pistola 380, ainda desaparecida.
Testemunhas relatam que, entre uma série de tiros e outra, Meira caminhou pelo cinema, olhou para a platéia e chegou a ver algumas cenas do filme.
Disseram também que ele chegou a trocar o pente da metralhadora (recarregado a arma), mas ele negou à polícia tê-lo feito.
Após uma das séries de tiros, Meira foi jogado no chão por um homem descrito como baixo, que estava sentado em uma das primeiras fileiras, mas que não compareceu à polícia. Outras pessoas da platéia pularam sobre ele, que foi dominado e detido pela segurança do shopping.

Defesa
Meira apresentou alguns lapsos de memória durante seu depoimento. Disse, por exemplo, que não lembra de ter sido rendido pela platéia nem do que aconteceu depois dos disparos.
Para o delegado Olavo Francisco, porém, o estudante está tentando facilitar a própria defesa.
"Ele é muito inteligente e está tentando dar uma roupagem adequada ao que imagina que será a tese de sua defesa. Por isso não diz coisa com coisa", afirma.
O estudante admitiu ser usuário de drogas, mas negou estar sob efeito de entorpecentes no momento do crime.
"Ele estava tranquilo durante o depoimento. Falou devagar e não chorou nem se disse arrependido", disse o delegado.
O estudante era mantido até as 21h de ontem no 26º Distrito Policial, de onde deveria ser transferido ainda ontem. (OTÁVIO CABRAL e SÍLVIA CORRÊA)



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