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FUTURA ADMINISTRAÇÃO
Eventual aumento de arrecadação já está comprometido em programas do Orçamento de 2001
Falta de recursos ameaça projetos do PT
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
A prefeita eleita de São Paulo,
Marta Suplicy (PT), terá de cortar
despesas do já apertado Orçamento de 2001 da prefeitura para
poder implementar, em seu primeiro ano de mandato, as principais promessas de campanha que
ajudaram a elegê-la, como renda
mínima, alfabetização de adultos,
bolsa-trabalho, "Banco do Povo"
e "Começar de Novo".
O engenheiro Amir Khair, secretário de Finanças na gestão de
Luiza Erundina e coordenador financeiro da campanha de Marta,
disse à Folha que a prefeitura "terá de estudar cortes no Orçamento definido pelo prefeito Celso Pitta". As áreas de corte, porém, ainda não foram definidas.
O petista Rui Falcão, responsável pela equipe de transição de governo, afirmou que ainda é muito
cedo para qualquer análise (leia
texto nesta página).
Com custos estimados em cerca
de R$ 260 milhões, os projetos sociais do PT não estão contemplados no Orçamento encaminhado
à Câmara. Portanto, não há previsão de recursos para eles.
O aumento de despesas com pagamento de dívidas dificulta o remanejamento de verbas no próximo ano. A parcela destinada ao
pagamento da dívida com a
União, por exemplo, saltou de R$
581 milhões para R$ 913 milhões.
Na CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), só a folha de
pagamento atinge R$ 160 milhões, mas o Orçamento do próximo ano prevê apenas R$ 140 milhões -ou seja, uma suplementação de pelo menos R$ 20 milhões
para esse item será inevitável.
Embora o PT acredite num aumento de 7,6% da receita, um percentual aproximado já está contabilizado no Orçamento de 2001.
Este ano, a prefeitura prevê que
obterá R$ 7 bilhões de receitas
correntes (arrecadação própria e
transferências). Para o próximo
ano, a expectativa é que esse valor
chegue a R$ 7,495 bilhões (7,1%
de aumento).
Já o PT faz os cálculos tomando
como base uma receita de R$
7,044 bilhões este ano e uma projeção de R$ 7,577 bilhões para o
ano que vem. O Orçamento total
de 2001 é de R$ 7,906 bilhões. A
diferença de receita está nas aplicações financeiras.
Como essa previsão de aumento de receita já está embutida no
Orçamento enviado à Câmara, a
"sobra" com a qual o PT planeja
desenvolver seus projetos no primeiro ano não existe.
O PT afirma que pretende economizar 20% nos pagamentos de
contratos ao renegociar com fornecedores e empreiteiros.
Se isso ocorrer -a meta é considerada irrealizável pelo atual secretário de Finanças, Deniz Ferreira Ribeiro-, a economia seria
de cerca de R$ 450 milhões.
Esse dinheiro, porém, equivale
a apenas um quarto das pendências do atual Orçamento que devem ser saldadas pela próxima
administração.
A previsão dos partidos de oposição na Câmara (PT e PSDB) é
que a futura prefeita herde uma
conta de R$ 1,875 bilhão inscrita
numa rubrica chamada restos a
pagar, que são dívidas empenhadas e não pagas no ano.
Empenho é uma espécie de reserva orçamentária. Quando a
prefeitura contrata um serviço,
por exemplo, faz uma previsão
contábil dos valores que devem
ser destinados para pagá-lo. Isso
não quer dizer, contudo, que o dinheiro exista. No fim do ano, os
restos a pagar serão a diferença
entre o que foi empenhado e o
que foi realmente pago.
Essa dívida de R$ 1,875 bilhão
não aparece no Orçamento, o que
é comum. Seu valor exato só será
conhecido no final do ano.
O secretário municipal das Finanças não revela qual é a projeção oficial de restos a pagar para
2001. Ele diz apenas que há R$ 500
milhões de exercícios anteriores e
R$ 1,2 bilhão (dados de agosto) de
empenhos a pagar. Segundo o secretário, ainda não é possível saber quanto desse valor ficará para
o próximo ano.
Como o dinheiro se refere a serviços e obras, a prefeitura terá de
pagá-los. Na prática, o que pode
acontecer é a rolagem da dívida.
Ou seja: paga-se os atrasados e
atrasa-se os novos pagamentos.
No ano passado, por exemplo,
ficou R$ 1,446 bilhão de restos a
pagar, de acordo com o TCM
(Tribunal de Contas do Município). A dívida era com cooperativas do PAS (Plano de Atendimento à Saúde), Eletropaulo, Sabesp e
empresas de lixo.
Um relatório do TCM sobre o
Orçamento do próximo ano destaca que "o crescente estoque da
dívida, não acompanhado pela
arrecadação, compromete cada
vez mais a saúde financeira da cidade e dificulta bastante a realização de novos investimentos".
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