UOL


São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

Próximo Texto | Índice

SEGURANÇA SOB AMEAÇA

Polícia fez blitze nas ruas e revista em presídios, mas nova onda de ações deixou mais dois feridos; à noite, três suspeitos foram presos

Reforço policial não barra ataques do PCC

Keiny Andrade/Folha Imagem
Carro da Polícia Militar atingido por disparos feitos contra o 47º DP, no Capão Redondo, enquanto era registrado o ataque a dois policiais


DA REPORTAGEM LOCAL

Menos de 24 horas depois de ser abalado por uma onda de ataques que deixou dois policiais militares mortos, cinco feridos, além de outros dois guardas-civis, São Paulo voltou a ser sacudido por tiros e bombas. Os alvos foram carros da Polícia Militar, da Polícia Civil e da Guarda Civil de Embu, na Grande São Paulo, além de uma delegacia na zona sul da capital.
Nos atentados registrados a partir das 21h de anteontem, um soldado e um guarda-civil ficaram feridos. Doze carros foram danificados. Ninguém foi preso. Desde a madrugada de domingo até ontem, 15 ações desse tipo contra alvos policiais foram registradas em São Paulo, Santo André (ABC paulista), São Vicente e Guarujá (Baixada Santista) e Embu. Por trás, segundo a polícia, está o PCC (Primeiro Comando da Capital).
Ontem, governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que não descarta a possibilidade de novos atentados. "Não é a primeira reação e, certamente, não vai ser a última", afirmou.
Segundo o diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), Godofredo Bittencourt, a polícia identificou dois homens, ligados ao PCC, que participaram da série de atentados dos últimos dias. Eles estão sendo procurados.
Outros dois presos do CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes (589 km de SP) seriam os mandantes do ataque. A Folha apurou que são os detentos Júlio César Guedes de Moraes, o Julinho Carambola, e Sandro Henrique da Silva Santos, o Gulu, líderes do PCC, que na última quarta-feira entregaram uma lista de reivindicações contra o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), ao qual estão submetidos como castigo.
"Não sendo atendidos, eles começaram os atentados", afirmou o delegado. Segundo Bittencourt, apesar de a polícia ter sido avisada antes que as ações poderiam ocorrer, não seria possível evitá-las. "Não se sabia o que iriam fazer e quem iria agir", disse.
Após os ataques, as polícias Civil e Militar reforçou o patrulhamento das ruas e a segurança em delegacias. Das 19h de anteontem à 1h de ontem, a PM realizou 630 blitze na região metropolitana.
Em nota, a Polícia Militar informou que "sempre trabalha com situações de gerenciamento de crises e emergências", que "os PMs estão sendo orientados a redobrarem a atenção" e que o policiamento foi intensificado, sem revelar número de efetivo.

Rajadas
Os ataques de anteontem tiveram início às 21h. Quatro homens em duas motocicletas dispararam contra um carro da PM que fazia a ronda escolar na estrada de Itapecerica, em Capão Redondo (zona sul). O soldado Gerson Moraes, 42, foi atingido no braço. Projéteis ricochetearam em seu colete à prova de bala, ferindo-o de novo. O sargento Celso Kitadani, 45, que estava a seu lado, nada sofreu.
Enquanto à 0h30 os PMs registravam o caso no 47º DP (Capão Redondo), a delegacia foi alvo de um ataque. Desconhecidos em um Santana preto dispararam com metralhadora e pistolas contra o distrito policial. Ninguém ficou ferido. Onze carros, sendo quatro da Polícia Civil, um da Polícia Militar e os demais de funcionários, ficaram danificados.
Na hora dos disparos havia sete policiais na delegacia, dois a mais do que o normal. O delegado plantonista Miguel Gomes da Rocha Neto contou que o ataque já havia sido anunciado. Três horas antes, o Cepol (Centro de Operações da Polícia Civil) informou o delegado que havia recebido um telefonema anônimo dando conta de que a delegacia seria alvo.
Às 23h de anteontem, no Jardim dos Ipês (zona leste), bandidos atiraram uma bomba contra um Kadett da Polícia Civil que estava na garagem da casa do policial Luís da Costa Lima. O artefato danificou a parte traseira do veículo e estourou as janelas da residência do policial. Ninguém se feriu.
O último atentado aconteceu em Embu (Grande SP). Dois guardas-civis foram atacados a tiros por três homens que saíram de trás de um muro. O guarda Manuel Donizete Coca Norberto, 48, foi baleado nos dois pés.
A tensão se espalhou entre os policiais e guardas. Plantonistas do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) receberam uma denúncia anônima de que o prédio onde estavam, no Butantã (zona oeste), seria atacado e solicitaram à CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) que interditasse a rua.
O mesmo aconteceu na rua dom Luiz Lasagna, onde fica o 17º DP (Ipiranga). A delegacia recebeu uma outra ameaça.
Ontem à noite, a polícia prendeu três suspeitos de participar dos atentados. Dois irmãos são acusados de roubar um Palio cinza que teria sido usado na ação contra uma base na PM.
Em outra operação, um homem teria sido reconhecido por um dos policiais feridos no ataque. (CHICO DE GOIS e ALESSANDRO SILVA)

Colaborou o "Agora"


Próximo Texto: Para Alckmin, reação "não vai ser a última"
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.