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São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

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Ordens continuam a sair das prisões

DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, Nagashi Furukawa, disse ontem que é "praticamente impossível impedir a passagem de ordens de dentro dos presídios para criminosos" que estão em liberdade.
"Só se cegar o preso e cortar sua língua, porque outro jeito não tem", disse o secretário, quando questionado se era possível barrar 100% a transmissão de ordens para o exterior das prisões.
Para entender o problema é preciso retornar à megarrebelião organizada pelo PCC em fevereiro de 2001, que atingiu 21 presídios ao mesmo tempo no Estado.
Segundo a polícia e o Ministério Público, o movimento foi articulado por meio de telefones celulares conectados às centrais telefônicas da facção -bases que atuam como PABX do crime, transferindo ligações para prisões, inclusive de fora do Estado.
A primeira onda de atentados planejada pela organização, que aconteceu entre janeiro e maio do ano passado, também teria sido articulada pelas centrais.
Com a criação das três unidades de RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) -Presidente Bernardes, Avaré e o Anexo de Taubaté-, os principais líderes do PCC foram isolados. Nessas prisões especiais, o acesso a celulares é dificultado pelas normas de controle ou o sinal é bloqueado por sistema de interfere na transmissão.
A partir disso, as ordens da cúpula passaram a sair por meio de familiares, que falam com os presos nos dias de visita, e por intermédio de advogados. A polícia acredita que a ordem para a série de atentados dos últimos dias tenha saído no sábado passado do CRP (Centro de Readaptação Penitenciária), dia de visitação.
"O isolamento total é um mito que não existe em nenhum lugar do mundo", afirma o promotor Márcio Sérgio Christino, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).
Há um mês, o advogado Mário Sérgio Mungioli foi preso pela polícia ao sair do CRP de Bernardes.
Ele tinha acabado de conversar com o assaltante Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, atual nš 1 do PCC. No bolso, levava bilhetes com perguntas que havia mostrado a ele pelo vidro do parlatório. As respostas eram repassadas por sinais, em inglês ou com discretos gestos de cabeça para enganar as câmeras e possíveis escutas no ambiente.
De acordo com o Gaeco, o advogado servia como "pombo-correio" de um plano de sequestros, que seriam feitos para libertar lideranças presas, e atentados, a serem executados para pressionar o governo a acabar com o rígido regime nas unidades com RDD.
A prisão do advogado rendeu a Marcola, a Júlio César Guedes de Moraes, o Julinho Carambola, e a Sandro Henrique da Silva Santos, o Gulu, um novo período de internação, de um ano, no CRP de Presidente Bernardes. Essa nova reinternação, para a polícia, teria causado os novos ataques.


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