|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ordens continuam a sair das prisões
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário da Administração
Penitenciária de São Paulo, Nagashi Furukawa, disse ontem que
é "praticamente impossível impedir a passagem de ordens de dentro dos presídios para criminosos" que estão em liberdade.
"Só se cegar o preso e cortar sua
língua, porque outro jeito não
tem", disse o secretário, quando
questionado se era possível barrar
100% a transmissão de ordens para o exterior das prisões.
Para entender o problema é preciso retornar à megarrebelião organizada pelo PCC em fevereiro
de 2001, que atingiu 21 presídios
ao mesmo tempo no Estado.
Segundo a polícia e o Ministério
Público, o movimento foi articulado por meio de telefones celulares conectados às centrais telefônicas da facção -bases que
atuam como PABX do crime,
transferindo ligações para prisões, inclusive de fora do Estado.
A primeira onda de atentados
planejada pela organização, que
aconteceu entre janeiro e maio do
ano passado, também teria sido
articulada pelas centrais.
Com a criação das três unidades
de RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) -Presidente Bernardes, Avaré e o Anexo de Taubaté-, os principais líderes do PCC
foram isolados. Nessas prisões especiais, o acesso a celulares é dificultado pelas normas de controle
ou o sinal é bloqueado por sistema de interfere na transmissão.
A partir disso, as ordens da cúpula passaram a sair por meio de
familiares, que falam com os presos nos dias de visita, e por intermédio de advogados. A polícia
acredita que a ordem para a série
de atentados dos últimos dias tenha saído no sábado passado do
CRP (Centro de Readaptação Penitenciária), dia de visitação.
"O isolamento total é um mito
que não existe em nenhum lugar
do mundo", afirma o promotor
Márcio Sérgio Christino, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de
Repressão ao Crime Organizado).
Há um mês, o advogado Mário
Sérgio Mungioli foi preso pela polícia ao sair do CRP de Bernardes.
Ele tinha acabado de conversar
com o assaltante Marcos Willians
Herbas Camacho, o Marcola,
atual nš 1 do PCC. No bolso, levava bilhetes com perguntas que havia mostrado a ele pelo vidro do
parlatório. As respostas eram repassadas por sinais, em inglês ou
com discretos gestos de cabeça
para enganar as câmeras e possíveis escutas no ambiente.
De acordo com o Gaeco, o advogado servia como "pombo-correio" de um plano de sequestros,
que seriam feitos para libertar lideranças presas, e atentados, a serem executados para pressionar o
governo a acabar com o rígido regime nas unidades com RDD.
A prisão do advogado rendeu a
Marcola, a Júlio César Guedes de
Moraes, o Julinho Carambola, e a
Sandro Henrique da Silva Santos,
o Gulu, um novo período de internação, de um ano, no CRP de
Presidente Bernardes. Essa nova
reinternação, para a polícia, teria
causado os novos ataques.
Texto Anterior: Atentados deixam policiais militares tensos Próximo Texto: Urbanidade: Retrato em preto-e-branco Índice
|