São Paulo, Domingo, 05 de Dezembro de 1999


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10.000.000 em 2000


São Paulo foi a megacidade que mais cresceu no século 20
Reprodução
Rua Direita, tradicional ponto comercial paulistano, em 1916


JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

A cidade de São Paulo chegará a 10 milhões de habitantes no ano 2000. É o que indicam projeções tanto do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) quanto da Fundação Seade, do governo paulista. Mais do que uma coincidência, será o símbolo do maior crescimento de uma megacidade no século 20. Nesses cem anos, o tamanho de São Paulo terá aumentado 42 vezes.
Dos 240 mil habitantes que tinha em 1900, a cidade passará a 10,009 milhões de moradores no ano 2000, segundo o IBGE.
Outras metrópoles do século 20, como a Cidade do México, também tiveram crescimento acelerado, mas não chegaram a tanto.
No caso da capital mexicana, a população saltou de 541 mil pessoas em 1900 para 8,236 milhões em 1990 (aumento de 15 vezes), quando o núcleo urbano central já apresentava uma tendência de desaceleração após o terremoto de 1985. Tóquio saiu de cerca de 1,5 milhão de habitantes em 1900 para 8 milhões em 1994. Nos três casos, a comparação leva em conta a população só da cidade.
Considerando-se as regiões metropolitanas -ou seja, incluindo-se as cidades do entorno-, o crescimento da capital japonesa é bem maior: passa de 2,5 milhões para 27,2 milhões de habitantes em 1996. A Cidade do México chega a 16,9 milhões e a Grande São Paulo, a 16,8 milhões.
Mesmo assim o crescimento da capital paulista é proporcionalmente maior, porque parte de uma base populacional menor em 1900. Se recuarmos mais dez anos, percebe-se quão dramático foi o desenvolvimento paulistano: em 1890 eram apenas 65 mil paulistanos -e, mesmo assim, era o dobro do que havia em 1880.
A história da explosão populacional paulistana começa no final do século passado, quando uma série de fatores coincidiram para transformar uma aldeia provinciana em uma das três maiores cidades do mundo.
Em 1868, um estudante baiano da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco definia assim a cidade: "São Paulo não é Brasil, é um trapo do pólo pregado a goma arábica na falda da América."
O estudante era Castro Alves e, por mais exagerado que pareça, ele de fato não tinha motivos para se impressionar. Gelada e encarapitada na colina onde havia sido fundada pelos jesuítas, São Paulo pouco mudara em 300 anos.
A iluminação era à base de óleo de rícino, pois a luz elétrica só chegaria em 1891. Água, só em um dos três chafarizes, e, mesmo assim, de pouca qualidade por causa da proximidade do matadouro.
Pelo menos de longe a cidade exibia um perfil agradável e harmônico -nas palavras de Richard Morse em seu "De Comunidade a Metrópole"-, com fachadas rosa ou cor de creme, do qual só se destacavam as silhuetas das igrejas e dos conventos.
As ruas não iam além dos vales dos rios Tamanduateí e Anhangabaú. Tudo era tão perto que a primeira linha de bonde, puxado por animais, só seria inaugurada em 1872. Mas o primeiro passo para tirar São Paulo do destino periférico havia sido dado no ano anterior.
A inauguração da ferrovia Santos-Jundiaí, em 1867, iria ajudar a canalizar para a cidade a riqueza do café, que se expandia pelo oeste do Estado. E, no sentido contrário, iria trazer milhares de imigrantes estrangeiros.


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