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SAÚDE
Relatório mostra que cientista era pago por fabricante de cigarro para ser consultor da organização
OMS acusa Philip Morris de espionagem
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
A Organização Mundial da Saúde (OMS) está de posse de documentos que, segundo sua avaliação, demonstram que a indústria
de cigarros está empenhada "há
décadas em minar e subverter"
seu trabalho de controlar o consumo de tabaco no mundo.
A Folha teve acesso a um relatório encaminhado à diretora-geral
da OMS, a norueguesa Gro Harlem Brundtland, no qual se afirma que os documentos são "apenas a ponta do iceberg em termos
dos esforços" (dos produtores de
cigarro) contra a organização.
Entre as acusações que constam
do relatório está a de que um cientista recebia dinheiro da indústria
de tabaco enquanto trabalhava
como consultor da OMS.
Embora a Folha saiba o nome
desse cientista, de nacionalidade
italiana, não o revela hoje por não
o ter localizado nas últimas três
semanas na Suíça, na França (onde morou até 1992) ou na Espanha (onde trabalhava em 1998).
O relatório afirma que, no final
dos anos 80, a Philip Morris,
maior produtora de cigarros do
mundo, adotou o "Plano de Ação
de Boca Raton" para "conter,
neutralizar e reorientar" a OMS.
A empresa disse à Folha (veja
texto ao lado) que as decisões que
constam desse plano nunca foram implementadas.
Entre elas, de acordo com o relatório em poder da Folha, estavam a "doação" de um executivo
do ramo de alimentação do grupo
Philip Morris para trabalhar no
escritório de segurança alimentar
da OMS e a deflagração de ataques à organização em meios de
comunicação de massa com o fim
de desacreditá-la.
O documento cita artigos publicados no jornal "The Wall Street
Journal" com críticas contra a burocracia da OMS e suas políticas
de alocação de recursos como
parte da campanha de descrédito.
Inquérito
O relatório para Brundtland recomenda a ela que instale uma
comissão de inquérito internacional, com pelo menos três especialistas em direito, para identificar
conflitos de interesse que possam
ter ocorrido na OMS e aprofundar a investigação sobre o que as
indústrias de cigarro fizeram contra a organização.
O Plano de Boca Raton tem esse
nome por causa da cidade homônima do Estado da Flórida, costa
leste dos EUA, onde se realizou
uma conferência internacional de
executivos de assuntos corporativos da Philip Morris em 1988.
Ele previa esforços da indústria
de tabaco para encorajar países-membros da OMS a questionar o
uso de seus fundos no patrocínio
de programas "com o objetivo de
mudar o comportamento de populações em vez de melhorar o nível de saúde e as condições econômicas" dessas populações.
Entre os programas especificados, estavam campanhas para diminuir o consumo de cigarros entre mulheres e jovens.
O relatório entregue à diretora-geral da OMS transcreve correspondência trocada durante quatro anos entre o cientista italiano e
a indústria de cigarros na qual é
discutida sua participação em estudo sobre pesticidas usados nas
plantações de tabaco.
Também há menções a documentos da Philip Morris em que
um ex-diretor da OMS aparece
como fornecedor de documentos
da organização para a empresa e
como o receptor de discursos preparados por executivos da indústria para ele pronunciar.
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