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PASQUALE CIPRO NETO
Linguagem telegráfica (ou "PT saudações")
Dizem que um dos indicadores da chegada da velhice
é a morte dos ídolos, das pessoas
que marcaram fortemente a nossa infância ou a formação do nosso caráter.
Não foi um desses fatos, no entanto, o que nesta semana me fez
sentir de perto a inexorável chegada da vetustez. O "toque" me
foi dado pela mensagem do leitor
Graziano L. de Melo, que quer saber se a expressão "PT saudações"
(que alguns grafam "PT, saudações", diz ele) tem alguma relação
com a chegada do Partido dos
Trabalhadores ao poder. "É meio
intuitivo o significado, mas donde
surgiu isso?", pergunta o leitor.
Caro Graziano, o PT já foi culpado de tudo neste país, mas o
partido de Lula nada tem que ver
com "PT saudações". É claro que
muitas vezes essa expressão é usada no jornalismo político com dupla intenção, mas a origem da
frase passa longe do ABC paulista, berço do partido. Seu uso remonta ao tempo do telegrama,
meio de comunicação em franco
desuso hoje em dia. Foi justamente isso o que me fez sentir a "velhice". Em tempos de satélite, celular
e correio eletrônico, o telegrama é
um brontossauro. Seu uso tem se
limitado a mensagens solenes,
quase sempre fúnebres.
O telegrama (palavra formada
pelos elementos gregos "tele-",
que significa "ao longe", e "-grama", que significa "letra", "texto
escrito") não comporta ponto final, vírgula, ponto-e-vírgula,
acento, til etc. No lugar do acento
agudo, coloca-se um "h" (para
que não se confunda "e" com "é",
por exemplo, "é" vira "eh"). No
lugar de uma vírgula, coloca-se
"vg"; no lugar de um ponto, "pt".
E paga-se por isso, porque o telegrama é cobrado pelo número de
palavras que constituem a mensagem, a começar pelo nome e endereço do destinatário.
Quem precisa ser claro num telegrama emprega "vg", "pt" etc. (e
gasta mais, já que por "vg" se paga uma palavra, por "pt", mais
uma e assim por diante).
É famosa a história de um soldado que recebeu um telegrama
logo depois de ter sido convocado
para a guerra. Era este o texto:
IRAS VOLTARAS NAO MORRERAS". Percebe-se que quem o
enviou preferiu economizar a ser
claro. O soldado fez a leitura que
lhe convinha: "Irás. Voltarás. Não
morrerás!" (ou "Irás, voltarás,
não morrerás"). Mal sabia ele que
a mensagem original era esta:
"Irás. Voltarás? Não! Morrerás!".
Descobriu de onde vem a expressão "PT saudações", caro
Graziano? Vem de onde vem a
expressão "linguagem telegráfica", usada para caracterizar textos escritos com frases curtas,
muitas vezes mal articuladas. Nos
telegramas, a economia impunha
a pura e simples exclusão de preposições e conjunções ("Saio Itália domingo passo Portugal chego
Brasil sexta pt saudações").
O telegrama talvez tenha morrido, mas a linguagem telegráfica... Nos jornais, por exemplo,
não faltam exemplos de seu emprego. A ânsia pela frase curta é
tanta que gera uma construção
como esta, lida num telejornal:
"Disputado no Ibirapuera, Guga
enfrentou o argentino X pelo Torneio Y...". Não, caro leitor. Guga
não foi disputado por ninguém.
Nem preciso explicar. Você certamente já entendeu. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br
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