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"Saio com sentimento de desilusão", diz militar que alertou sobre crise
Exonerado por Lula, Vilarinho fez desabafo na passagem do comando do controle aéreo
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
Na passagem de comando do
Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), na manhã de ontem, o tenente-brigadeiro-do-ar Paulo Roberto Cardoso Vilarinho queixou-se da
sua exoneração: "Não posso negar, saio com forte sentimento
de desilusão e alma entristecida". O desabafo foi presenciado
pela Folha na solenidade fechada, no estabelecimento militar, no centro do Rio. Segundos depois, militares pediram
para a repórter se retirar.
Quem assumiu o comando
do Decea foi o major-brigadeiro Paulo Hortênsio Albuquerque e Silva, que tem três estrelas, uma a menos que seu antecessor. Vilarinho foi exonerado
no dia 24 pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Trabalhava no Decea desde sua criação,
nos anos 70, e agora será diretor-geral do Departamento de
Ensino da Aeronáutica.
Dias depois da exoneração, a
TV Globo mostrou reportagem
que mostra que ele, por meio
de documentos assinados e endereçados ao Comando da Aeronáutica, havia prevenido o
governo sobre uma possível
crise aérea. Num dos textos, de
14 de fevereiro, Vilarinho afirma que "ao longo dos últimos
dez anos" houve muita "dificuldade de dotar de recursos humanos" o controle do espaço
aéreo. Informa que, para este
ano, estava prevista a contratação de 65 controladores, embora fossem necessários 180.
O outro documento apresentado na reportagem data de 30
de março. Nele, o brigadeiro
afirma que "a manutenção de
equipamentos" de controle pode estar "prejudicada" pela falta de pessoal capacitado na "aérea do Cindacta-4, o centro que
comanda as aeronaves na região onde houve o acidente entre o Boeing da Gol e o Legacy,
que resultou na morte de 154
pessoas em 29 de setembro.
Desafio
O maior desafio do major-brigadeiro Hortênsio, que era
chefe do 3º Comar (Comando
Aéreo Regional), será contornar a crise aérea provocada pela operação padrão dos controladores de vôos, em protesto
contra as condições de trabalho
e a investigação sobre o acidente entre as aeronaves.
O caos nos aeroportos, com
atrasos nos vôos causando
transtornos a milhares de passageiros, preocupa a Aeronáutica principalmente por causa
da época de festas (Natal, Ano
Novo e posses do Executivo).
Em sua posse, o major-brigadeiro não fez discurso.
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