São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2006

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"Saio com sentimento de desilusão", diz militar que alertou sobre crise

Exonerado por Lula, Vilarinho fez desabafo na passagem do comando do controle aéreo

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Na passagem de comando do Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), na manhã de ontem, o tenente-brigadeiro-do-ar Paulo Roberto Cardoso Vilarinho queixou-se da sua exoneração: "Não posso negar, saio com forte sentimento de desilusão e alma entristecida". O desabafo foi presenciado pela Folha na solenidade fechada, no estabelecimento militar, no centro do Rio. Segundos depois, militares pediram para a repórter se retirar.
Quem assumiu o comando do Decea foi o major-brigadeiro Paulo Hortênsio Albuquerque e Silva, que tem três estrelas, uma a menos que seu antecessor. Vilarinho foi exonerado no dia 24 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trabalhava no Decea desde sua criação, nos anos 70, e agora será diretor-geral do Departamento de Ensino da Aeronáutica.
Dias depois da exoneração, a TV Globo mostrou reportagem que mostra que ele, por meio de documentos assinados e endereçados ao Comando da Aeronáutica, havia prevenido o governo sobre uma possível crise aérea. Num dos textos, de 14 de fevereiro, Vilarinho afirma que "ao longo dos últimos dez anos" houve muita "dificuldade de dotar de recursos humanos" o controle do espaço aéreo. Informa que, para este ano, estava prevista a contratação de 65 controladores, embora fossem necessários 180.
O outro documento apresentado na reportagem data de 30 de março. Nele, o brigadeiro afirma que "a manutenção de equipamentos" de controle pode estar "prejudicada" pela falta de pessoal capacitado na "aérea do Cindacta-4, o centro que comanda as aeronaves na região onde houve o acidente entre o Boeing da Gol e o Legacy, que resultou na morte de 154 pessoas em 29 de setembro.

Desafio
O maior desafio do major-brigadeiro Hortênsio, que era chefe do 3º Comar (Comando Aéreo Regional), será contornar a crise aérea provocada pela operação padrão dos controladores de vôos, em protesto contra as condições de trabalho e a investigação sobre o acidente entre as aeronaves.
O caos nos aeroportos, com atrasos nos vôos causando transtornos a milhares de passageiros, preocupa a Aeronáutica principalmente por causa da época de festas (Natal, Ano Novo e posses do Executivo).
Em sua posse, o major-brigadeiro não fez discurso.


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