São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2008

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Bala perdida mata menino de 8 anos em favela no Rio

Morte aconteceu a 4 km do complexo do Alemão, onde Lula discursava a favor de uma polícia "mais companheira"

Família acusa PM de ter matado criança; presidente defende nova forma de atuação das polícias em áreas carentes da cidade

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO

No momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciava ontem no complexo de favelas do Alemão a adoção de um novo modelo de atitude policial, "mais companheira", moradores do complexo da Maré, a 4 km dali, queimavam um carro e interditavam uma via expressa em protesto contra a morte, pouco antes, de um menino de oito anos, em tiroteio entre PMs e criminosos.
A família acusa policiais de terem matado o estudante Mateus Rodrigues Carvalho. Além de negar, a PM divulgou que moradores da Maré (zona norte) e parentes da vítimas a impediram de prestar socorro.
Ao lançar no Alemão (zona norte) o projeto Território de Paz, Lula defendeu a necessidade de as polícias mudarem o modo de atuação em áreas carentes.
Em referência ao Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), do Ministério da Justiça e do qual o Território de Paz faz parte, Lula disse que quer "estabelecer uma ação harmônica entre a sociedade e a polícia".
"A polícia que vai atuar aqui vai ser mais companheira. (...) Não queremos mais aquela polícia que aparece de quando em quando, sem saber tratar quem é bom e quem não é, achando que todo mundo é inimigo", discursou Lula para 2.000 pessoas reunidas em um depósito desativado na favela Nova Brasília, que integra o complexo.
A cinco minutos de carro do local da solenidade, moradores do complexo de 22 favelas na Maré fechavam uma pista de acesso à Linha Vermelha e incendiaram um carro.
O menino, duas horas antes, havia sido baleado na nuca quando saía para comprar pão. Morreu no local. De manhã, o 22º Batalhão da PM, responsável pelo patrulhamento na Maré, divulgou que um grupo de traficantes atacara a tiros uma patrulha na favela Baixa do Sapateiro, iniciando o tiroteio.
À tarde, a corporação apresentou uma versão diferente: a patrulha teria ido à favela por causa de um confronto entre traficantes, mas, quando os policiais chegaram ao local, o confronto já teria terminado.
Presente ao evento, o ministro da Justiça, Tarso Genro, em discurso, prometeu "que em três, quatro, cinco anos toda a cidade, toda a comunidade do Rio será território da paz".
"Não queremos mais o velho modelo do policial que entra, atira e sai", discursou Tarso.
Lula procurou também enaltecer a atividade policial.
"É importante lembrar que a polícia é composta por seres humanos, que têm pais, filhos, e, como nós, têm medo da violência. Vocês não podem ver a polícia como inimiga nem ela ver vocês como bandidos."
O programa faz parte do investimento de R$ 133,6 milhões do Pronasci no Rio. As mulheres selecionadas receberão R$ 190 mensais para prevenir conflitos e afastar jovens da criminalidade. O programa será implementado em sete comunidades cariocas.


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