São Paulo, domingo, 05 de dezembro de 2010

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"Fiquei exposta, mas nunca tive medo", diz atriz

Annamaria conta como manteve grupo reunido na oficina enquanto rebelião estourava na Febem

Adolescentes que participaram de uma série de agressões na av. Paulista precisam "tomar cuidado", afirma

DE SÃO PAULO

Os quatro adolescentes que participaram de uma série de agressões na avenida Paulista e em uma casa noturna em São Paulo, no último dia 14, "têm que tomar cuidado", avalia Annamaria Dias. Eles estão hoje em uma unidade da Fundação Casa.
Também fala, na entrevista, dos arriscados exercícios teatrais em que internos e monitores trocavam de papeis. (MARCOS FLAMÍNIO PERES)

 

Folha - Como deve estar sendo a recepção, na Fundação Casa, aos jovens envolvidos em agressões na Paulista?
Annamaria Dias -
Deve ser péssima. Lá dentro sempre houve alguns códigos. Por exemplo, os menores não gostavam de quem matava pai de família.

E o que faziam?
Eles os matavam. Respeitavam quem "desandava" -isto é, virava mulher. Mas não respeitavam quem desandava para ter favorecimento lá dentro. Certa vez, fiz um exercício em que interpretavam juízes e julgavam severamente quem desrespeitasse a lei!

O limite entre ficção e realidade era tênue para eles?
Demais.

E você não tinha medo?
Nunca. Às vezes até me expunha, ao entrar sozinha no pátio. Os monitores ficavam loucos, mas os menores percebiam que eu não tinha nenhum tipo de prevenção contra eles. Também chamava a atenção, se necessário.

Como foi ter presenciado uma rebelião lá dentro?
Quando uma unidade se rebelava, todas as outras iam atrás, e o que aconteceu foi que eu estava com o grupo de teatro na unidade mais próxima de onde ocorria a rebelião. E, claro, não podiam saber disso! Foi uma loucura, mas consegui segurá-los lá dentro fazendo teatro.

O uso de drogas era comum?
À época ainda não havia o crack, só cola. Maconha só de vez em quando; cocaína era raro ver. E também não havia crime organizado como hoje.

O diálogo era a base de tudo?
Sim. Os próprios internos começaram a chamar os colegas que faziam teatro de "grupo de elite".

Qual foi a experiência mais marcante?
A estreia de "Menino de Rua" em Ribeirão Preto. Quando a cortina se abriu e os internos apareceram dançando... Acho que nunca chorei tanto na vida.

ME LEVA NOS BRAÇOS, ME LEVA NOS OLHOS
AUTORA
Annamaria Dias
EDITORA Vida & Consciência
QUANTO R$ 49 (528 págs.)


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