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SP 450
Em 1953, protesto de trabalhadores paralisou a capital durante quase um mês; movimento garantiu aumento de 32% nos salários
GREVE dos 300 mil foi escola de sindicalismo
KIYOMORI MORI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Foi na tarde da
quarta-feira, 18 de
março de 1953, que
chegou o aviso: numa passeata chamada de "Panela Vazia",
60 mil pessoas saíram
pacificamente da
praça da Sé rumo ao
palácio Campos Elíseos (antiga sede do
governo estadual),
exigindo reajustes
nos salários.
Uma semana mais
tarde, eclodiria uma
das mais importantes
greves da história do
sindicalismo, a "Greve dos 300 mil", que
paralisou São Paulo.
"Foi uma verdadeira escola para o movimento sindical",
define Paul Singer,
71, atual secretário
Nacional de Economia Solidária, e que
na época era membro do comitê intersindical da greve e da
comissão de salários
da Elevadores Atlas.
O movimento, que durou quase
um mês, resultou na vitória dos
grevistas, com aumento salarial
de 32% -principal reivindicação
dos trabalhadores.
Segundo dados da Fundação
Getúlio Vargas, no período de
1943 a 1951, o custo de vida em
São Paulo havia aumentado cerca
de 100%, contra apenas 14% do
salário mínimo. "Todos estavam
insatisfeitos com a perda do poder de compra do salário devido à
inflação", explica Singer.
Para recuperar o poder de compra dos salários, os cinco maiores
sindicatos de São Paulo -têxteis,
metalúrgicos, gráficos, vidraceiros e marceneiros- decidiram
organizar uma greve conjunta.
Mesmo sendo ilegal desde o início -todas as greves estavam
proibidas-, os sindicalistas não
tiveram dificuldades de conseguir
a adesão dos trabalhadores e a
simpatia da população.
O sindicato dos médicos, por
exemplo, se prontificou a dar assistência gratuita aos grevistas.
Uma cozinha comunitária foi
criada na Mooca, um dos principais bairros operários, para oferecer refeições para os
grevistas.
"A participação foi
bem maior do que
esperávamos. Muitas mulheres e até
mesmo um grupo de
20 adolescentes se
juntaram às assembléias dos grevistas",
conta Singer, que organizou piquetes na
indústria Atlas.
"Era bastante cansativo. A gente participava de piquetes de
manhã e depois seguia para as reuniões
de avaliação do andamento da greve,
que se arrastavam
pela noite."
Mas o dia-a-dia da
greve não foi pacífico. Confrontos com
a polícia, que sempre
acabavam com dezenas de operários presos ou feridos, se tornaram rotina na praça da Sé. "Para evitar,
a nossa orientação
era não fazer passeatas nas ruas, mas
houve um "racha" no
movimento: o PCB
queria levar os grevistas para as
passeatas de qualquer jeito."
Pressionados pela longa paralisação, os empregadores acabaram aceitando um acordo proposto pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho), pondo fim à
greve no dia 23 de abril, e concedendo o aumento de 32%. Alguns
sindicatos, como o dos tecelões,
ainda mantiveram o movimento
até que todos os sindicalistas presos fossem soltos.
Mas a volta ao trabalho não foi
motivo de comemoração para
muitos. Como represália, cerca de
400 metalúrgicos foram demitidos nos primeiros dias de trabalho. No caso dos tecelões, as demissões chegaram a mil -principalmente os sindicalistas, considerados "persona non grata" nas
fábricas.
"Eu tinha certeza de que seria
demitido", diz Singer. "Mas, para
minha surpresa, os donos da
Atlas entenderam que o que faltava era um elo de comunicação entre a empresa e os empregados, e
resolveram montar uma comissão com os líderes grevistas para
criar esse diálogo."
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