São Paulo, sábado, 06 de janeiro de 2007

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Mulher fica 5h soterrada e perde 2 filhos

"Tiraram a mim e a meu marido primeiro porque tinha muita coisa em cima das crianças", disse Maria Aparecida de Oliveira

Jardineiro e sua mulher morreram abraçados em Nova Friburgo; moradores lotavam o IML em busca de informações sobre parentes

ITALO NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA FRIBURGO

Estalos, um grande barulho e gritos de socorro. No momento seguinte aos deslizamentos, os vizinhos foram os primeiros a agir. "Estava passando quando ouvi o estalo. Depois foi só grito: "Socorro! Socorro!'", contou o caminhoneiro Dejanilson da Silva Araújo, 29, que ajudou a salvar três pessoas logo após o deslizamento no loteamento Floresta -entre elas uma criança de dois anos. "Cavamos com a mão, tiramos telha, tijolo... A lama ainda estava descendo e a coisa podia piorar."
Maria Aparecida Ferreira de Oliveira ficou cinco horas soterrada, junto com seu marido. Ela morava havia poucos meses no loteamento Floresta, local um pouco mais afastado do centro. O seu resgate foi feito pelos bombeiros, mas ela perdeu dois filhos, de oito e dez anos -que também estavam em casa-, e um sobrinho no mesmo bairro.
"Eu estava em casa quando escutei o barulho e caiu a barreira. Tiraram a mim e a meu marido primeiro porque tinha muita coisa [escombros] em cima das crianças", disse, chorando, próxima ao caixão de um dos filhos.
No velório dos filhos de Maria Aparecida, Josane Rabelo chorava a morte das crianças ao mesmo tempo em que pensava para onde ir: sua casa fora destruída pelo deslizamento de terra. "Tivemos que tirar tudo correndo. Moro lá há 20 anos! Levamos tudo para a casa da minha irmã."
Nova Friburgo parou. Por várias ruas da cidade, há deslizamentos de terra obstruindo o trânsito. Cerca de 80 moradores lotavam a entrada do IML (Instituto Médico Legal) do município para obter informações sobre parentes e vizinhos.

Abraçados
Lúcia Mercedes lembrava os últimos momentos de seu cunhado, o jardineiro Adilson Martins, uma das vítimas em São Geraldo. "Ontem ele foi lá em casa ajudar numa obra. Depois foi na casa da mãe, para ir à igreja. Parecia que foi se despedir", contou. "Ele era uma pessoa alegre. Vivia reunindo os amigos. Gostava de uma cervejinha com um churrasquinho."
Martins morreu abraçado a sua mulher, Lindamar de Souza. Eles haviam descido de um ônibus, que parara seu trajeto devido a um deslizamento de terra na estrada. Ao passarem pelo quintal de uma casa, foram soterrados por um segundo deslizamento. O casal tinha dois filhos e um neto.
Ilma da Rocha Grandini, 50, foi a única vítima de Jardinlândia. Em seu velório, Iava Martins Macedo, 50, contou como ocorreu a morte da amiga. "Ela estava telefonando quando escutou o barulho. Foi ver [o que era] e a barreira caiu em cima dela."


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