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Mulher fica 5h soterrada e perde 2 filhos
"Tiraram a mim e a meu marido primeiro porque tinha muita coisa em cima das crianças", disse Maria Aparecida de Oliveira
Jardineiro e sua mulher morreram abraçados em Nova Friburgo; moradores lotavam o IML em busca de informações sobre parentes
ITALO NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA FRIBURGO
Estalos, um grande barulho e
gritos de socorro. No momento
seguinte aos deslizamentos, os
vizinhos foram os primeiros a
agir. "Estava passando quando
ouvi o estalo. Depois foi só grito: "Socorro! Socorro!'", contou
o caminhoneiro Dejanilson da
Silva Araújo, 29, que ajudou a
salvar três pessoas logo após o
deslizamento no loteamento
Floresta -entre elas uma
criança de dois anos. "Cavamos
com a mão, tiramos telha, tijolo... A lama ainda estava descendo e a coisa podia piorar."
Maria Aparecida Ferreira de
Oliveira ficou cinco horas soterrada, junto com seu marido.
Ela morava havia poucos meses
no loteamento Floresta, local
um pouco mais afastado do
centro. O seu resgate foi feito
pelos bombeiros, mas ela perdeu dois filhos, de oito e dez
anos -que também estavam
em casa-, e um sobrinho no
mesmo bairro.
"Eu estava em casa quando
escutei o barulho e caiu a barreira. Tiraram a mim e a meu
marido primeiro porque tinha
muita coisa [escombros] em cima das crianças", disse, chorando, próxima ao caixão de
um dos filhos.
No velório dos filhos de Maria Aparecida, Josane Rabelo
chorava a morte das crianças ao
mesmo tempo em que pensava
para onde ir: sua casa fora destruída pelo deslizamento de
terra. "Tivemos que tirar tudo
correndo. Moro lá há 20 anos!
Levamos tudo para a casa da
minha irmã."
Nova Friburgo parou. Por várias ruas da cidade, há deslizamentos de terra obstruindo o
trânsito. Cerca de 80 moradores lotavam a entrada do IML
(Instituto Médico Legal) do
município para obter informações sobre parentes e vizinhos.
Abraçados
Lúcia Mercedes lembrava os
últimos momentos de seu cunhado, o jardineiro Adilson
Martins, uma das vítimas em
São Geraldo. "Ontem ele foi lá
em casa ajudar numa obra. Depois foi na casa da mãe, para ir à
igreja. Parecia que foi se despedir", contou. "Ele era uma pessoa alegre. Vivia reunindo os
amigos. Gostava de uma cervejinha com um churrasquinho."
Martins morreu abraçado a
sua mulher, Lindamar de Souza. Eles haviam descido de um
ônibus, que parara seu trajeto
devido a um deslizamento de
terra na estrada. Ao passarem
pelo quintal de uma casa, foram
soterrados por um segundo
deslizamento. O casal tinha
dois filhos e um neto.
Ilma da Rocha Grandini, 50,
foi a única vítima de Jardinlândia. Em seu velório, Iava Martins Macedo, 50, contou como
ocorreu a morte da amiga. "Ela
estava telefonando quando
escutou o barulho. Foi ver [o
que era] e a barreira caiu em
cima dela."
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