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TRANSPORTE
SPTrans diz ter suspendido pagamento de R$ 5.600 após assumir empresa; suposta carta de Niquini comprovaria ligações
Sindicalista é acusado de ser pago por patrão
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um diretor de garagem do sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo recebia
R$ 5.600 mensais do empresário
Romero Teixeira Niquini, valor
incompatível com as suas funções
dentro da viação Santa Bárbara,
segundo informações da SPTrans
(São Paulo Transporte, órgão da
prefeitura que cuida do setor).
O "salário" foi suspenso em setembro de 2002, quando as empresas de Niquini tiveram seus
contratos rompidos e passaram a
ser administradas por equipes da
SPTrans. O diretor do sindicato
que seria beneficiado, Edvaldo
Gomes de Oliveira, conhecido por
Dentinho, nega a acusação e diz
que ela é uma "armação".
As informações da SPTrans foram passadas após a Folha obter
uma carta, supostamente assinada por Niquini, que poderia comprovar as ligações entre patrão e
sindicalista -setores acusados
pela prefeitura e pelo Ministério
Público do Trabalho de terem articulado uma greve de ônibus de
dois dias nesta semana.
Na carta, que foi entregue em
outubro passado a Wagner Ramos, funcionário da SPTrans que
administra a viação Santa Bárbara, Niquini informa ter pago R$
5.600 mensais a Dentinho "para
fazer frente aos gastos para o bom
desempenho de suas funções de
representante sindical".
A assinatura de Niquini na carta
é semelhante à de outro documento assinado pelo empresário,
referente às mudanças em uma
empresa de lixo adquirida por ele
em Belém (PA). Niquini está na
Espanha. Funcionários de seu escritório disseram não ser possível
localizá-lo e não souberam dizer
se a carta é verdadeira.
Segundo a SPTrans, os funcionários públicos que assumiram a
viação Santa Bárbara detectaram
esse pagamento, que foi suspenso
imediatamente por ser incompatível com as funções de Dentinho.
No mês seguinte, a suspensão
da "ajuda de custo de representante sindical" teria sido contestada por Dentinho, que teria obtido
a suposta carta de Niquini para
tentar garantir esse pagamento.
A carta foi desconsiderada pela
SPTrans, que avaliou não haver
sustentação jurídica nem administrativa para manter esse desembolso ao sindicalista.
Fraude
Dentinho é diretor do sindicato
na garagem da viação Santa Bárbara há sete anos. O empresário
Niquini controlava mais de 10%
da frota de ônibus paulistana, mas
teve seus contratos rompidos em
setembro de 2002 sob a acusação
de ter cometido fraude na prestação de contas da arrecadação
-teria informado à SPTrans
uma quantidade de vales-transporte arrecadados inferior à contagem oficial dos trabalhadores.
Desde então, os veículos e as
viações dele estão sob controle da
administração Marta Suplicy.
O militante do PT William Ali
Chaim, presidente do grupo Niquini na época, disse à Folha não
ter conhecimento da suposta carta nem de algum pagamento a
Dentinho a cargo de "ajuda sindical". "Não sei de nada", afirmou.
O grupo Niquini era conhecido
pelos constantes atrasos no pagamento de salários a motoristas e
cobradores.
Para exercer as funções de diretor do sindicato na garagem da
Santa Bárbara, Dentinho diz receber um salário mensal de R$
1.000. Ele é responsável pelas negociações com os patrões e pela
mobilização dos motoristas e cobradores nessa viação.
Além da remuneração paga pela
entidade, Dentinho afirma receber seu salário de motorista na
Santa Bárbara. Com as duas rendas, diz ganhar R$ 2.500 por mês.
O piso salarial dos motoristas está
hoje em torno de R$ 1.000.
Ontem à tarde, ao ser abordado
pela Folha na garagem da Santa
Bárbara, ele dirigia um Gol vermelho, ano 2001.
Dentinho disse que, além do
carro, tem como patrimônio só
mais uma casa. "Se eu recebesse
esse valor [R$ 5.600", meu carro
teria ar-condicionado", afirmou.
A reportagem também abordou
Wagner Ramos, funcionário da
SPTrans que recebeu a suposta
carta de Niquini, para saber detalhes do pagamento, mas ele afirmou não poder se manifestar.
Segundo a Folha apurou, funcionários da SPTrans preferiram
não divulgar os pagamentos a
Dentinho feitos em 2002 por ter
receio da reação do sindicato dos
condutores. A empresa informou
ontem apenas que "não interfere
nas relações de trabalho" entre
patrões e empregados.
O Transurb (sindicato das viações) e diretores do sindicato dos
motoristas foram procurados no
final da tarde de ontem para comentar a situação de Dentinho,
mas não houve resposta. Foram
deixados recados nos celulares de
Edivaldo Santiago e Geraldo Diniz, presidente e diretor do sindicato, respectivamente.
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