São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2001

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PRESÍDIOS

Detentos pedem agilidade no julgamento de processos e fim de maus-tratos; preso é decapitado por colegas

Rebelião deixa 4 mortos e 13 feridos em AL

Marco Antonio/"A Tribuna"
Detentos do presídio São Leonardo, em Maceió, onde rebelião terminou com quatro pessoas mortas


ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

Uma rebelião sem reféns iniciada às 11h30 de ontem no Presídio São Leonardo, na zona norte de Maceió (AL), deixou quatro presos mortos e outros 13 feridos. O motim terminou às 18h30.
Os detentos lançaram para fora do presídio a cabeça e um dos braços do preso Sérgio Tavares, condenado por estrangular a sogra para herdar a casa dela. Também foram mortos pelos companheiros Edson da Silva, André Barros e Reginaldo da Silva.
Os rebelados reivindicavam, principalmente, agilidade da Justiça no julgamento de seus processos. Dos 441 detentos do São Leonardo, 80% aguardam julgamento. Eles também denunciaram maus-tratos por parte de três guardas penitenciários.
Os rebelados destruíram toda a parte administrativa do presídio e as celas. Também atearam fogo nos 500 colchões novos que receberam havia menos de 30 dias.
Às 17h30, os presos decidiram entregar os seis revólveres que conseguiram na casa de armas do presídio. O secretário da Justiça e Cidadania de Alagoas, Tutimés Airan, e outras cinco autoridades entraram no presídio sem acompanhamento de nenhum policial. Eles estavam desarmados.
O objetivo de colocar fim ao motim foi conseguido meia hora mais tarde. A tropa de choque da Polícia Militar, segundo Airan, só entraria no presídio quando fosse restabelecida a energia.
Os presos só concordaram em suspender o movimento após o secretário ter se comprometido a agilizar os julgamentos. Ele anunciou o afastamento dos três guardas carcerários -para a investigação das denúncias de tortura.
Airan afirmou que a rebelião aconteceu por causa de uma disputa interna entre dois grupos de detentos. Um grupo quer as regalias conquistadas pelos detentos de bom comportamento que ajudam na administração. A disputa entre os grupos era tão intensa que às 13h oito presos da comissão de detentos foram transferidos para o Presídio Baldomero Cavalcante para não serem mortos. Os rebelados acusavam os integrantes da comissão de serem coniventes com supostos maus-tratos cometidos no presídio.
"Essa comissão é pelega e responsável pela situação que estamos vivendo", disse Elisiel Rufino à Agência Folha, enquanto recebia atendimento médico. Ele teve ferimentos na mão e no braço.
A comissão de detentos é responsável, entre outras tarefas, por levar presos infratores à direção do presídio. Os integrantes circulam com liberdade na área de funcionários da instituição.
A rebelião não tinha líderes e nem foi planejada, segundo o secretário. O descontrole teve início após a briga de dois detentos. O presos não concordaram com a punição dada a José Cícero Silva, o Tria, que havia sido enviado para uma solitária.
O secretário Airan, ligado ao PT e defensor dos direitos humanos, substituiu Rubens Quintela, um policial de 71 anos conhecido por ser da chamada "linha dura".
Até as 19 horas de ontem, 48 presos haviam sido transferidos. Outros 81 também seriam levados para o Baldomero Cavalcante, que fica a menos de um quilômetro do São Leonardo.
No Presídio São Leonardo não existe superlotação comum a outras penitenciárias do país. Ontem, havia 15 presos a mais do que o número de vagas. A cadeia foi construída há 30 anos e não registrava uma rebelião desde 1986.


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