São Paulo, quarta-feira, 06 de março de 2002

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SEGURANÇA

Cem policiais interceptam comboio da facção em rodovia de SP; objetivo do grupo seria roubar R$ 28 mi de avião em Sorocaba

PM frustra ação criminosa e mata 12 do PCC

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
Policiais observam ônibus utilizado pelo PCC no comboio que faria assalto no aeroporto de Sorocaba


SÍLVIA CORRÊA
ALESSANDRO SILVA
ENVIADOS ESPECIAIS A SOROCABA

A Polícia Militar de São Paulo matou ontem 12 integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) em um tiroteio de cerca de cinco minutos no meio da rodovia senador José Ermírio de Moraes, a Castelinho, que dá acesso a Sorocaba (100 km da capital). Um soldado ficou levemente ferido.
A ação ocorreu às 7h30 na altura do pedágio do quilômetro 12,5, por onde passam 500 veículos entre 7h e 8h. Ela envolveu cem policiais, interditou a rodovia por 14 minutos, causou três quilômetros de congestionamento e provocou pânico nos motoristas que estavam no local, que fugiram das balas a pé e de ré. Estimativas da própria polícia indicam que mais de 700 tiros foram disparados.
Os homens do PCC seguiam em um comboio de seis veículos no sentido capital-interior -três deles foram roubados entre sábado e segunda e entre eles estava um ônibus de turismo. Segundo a polícia, os homens iam em direção ao aeroporto de Sorocaba -a 16 km do pedágio-, onde planejavam roubar R$ 28 milhões de um avião. O aeroporto negou que a carga estivesse aterrissando.
A ação criminosa foi descoberta após dez dias de escuta de uma das centrais telefônicas ainda utilizadas pelo PCC. A ordem para o assalto partiu de um dos líderes presos da facção, segundo o comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), coronel José Roberto Marques, 45.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) e os comandantes das forças policiais com mais homens na ação -a Rota e a Polícia Rodoviária Estadual- classificaram a operação como "mais uma vitória da polícia" e as mortes como "inevitáveis". "Estamos em guerra contra o crime, e a polícia venceu mais uma batalha", afirmou o governador em Brasília.
Nas palavras das testemunhas, o que elas viram na rodovia foi de fato "uma verdadeira guerra". De um lado, cem homens e mais de 150 armas. De outro, 17 homens -12 que entraram em confronto com a polícia morreram e cinco que fugiram- e 17 armas.
Apesar das mortes em um só dos lados, a Polícia Civil não investigará a ação da PM. "A ação foi legal. Em ação legal não tem nada o que apurar", resumiu o delegado Ivaney Caires de Souza, diretor do Deinter-7 (Departamento de Polícia do Interior).
No começo da ação, às 4h30, a polícia ordenou o fechamento de 8 das 10 cabines, afunilando o fluxo. Em cada uma delas foi colocado um policial à paisana. Outros 90 PMs se dividiram em três grupos -de abordagem, de fechamento e de apoio (veja quadro).
Além de policiais disfarçados, a ação incluiu a simulação de um acidente, a colocação de furadores de pneus no asfalto e a utilização de três caminhões, que circulavam normalmente pela rodovia, como escudo para ocultar carros de polícia que estavam em um prédio da Viaoeste -concessionária da rodovia (veja quadro).
No tiroteio, os carros usados pelo bando ficaram praticamente destruídos, e o ônibus chegou a ser invadido pelos policiais. Na invasão, três pessoas ainda estariam vivas, segundo a polícia.
Todos os baleados carregavam celulares e usavam coletes à prova de bala. Eles foram levados a dois hospitais de Sorocaba -o Regional e a Santa Casa-, mas morreram. Não se sabe se chegaram com vida aos hospitais.
Até o final da tarde de ontem, os nomes de apenas 5 dos 12 mortos havia sido divulgado, mas podem ser falsos. São eles: José Aílton Honorato, Pedro Inácio Francisco da Silva, Luciano da Silva Barroso, Vágner da Silva e Laércio Antônio. Alguns dos mortos, conhecidos como Esquerdinha e Massa, teriam participado de um resgate de 13 presos na Castello Branco, também na altura de Sorocaba, em maio passado. Nessa ação, um PM morreu.



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