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URBANIDADE
Rua com grife
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Com suas lojas de grife de
moda masculina e feminina, a
rua Oscar Freire é uma das áreas comerciais mais chiques da cidade.
Prepara-se, agora, para reduzir a
distância entre o requinte estético
das lojas, algumas delas referências
de projetos arquitetônicos, e a indigência urbana de suas calçadas
-disformes, sujas, esburacadas,
com árvores em estágio terminal.
Depois de analisar várias propostas, uma comissão de lojistas, presidida por Renato Kherlakian, dono
da Zoomp, escolheu Héctor Vigliecca, professor de arquitetura do Mackenzie, para tentar transformar a
Oscar Freire num modelo de intervenção comunitária. "Queremos
que as pessoas se sintam tão confortáveis nas ruas como se sentem nas
lojas", diz Kherlakian.
O projeto prevê a plantação de novas árvores -palmeiras (jeribás) e
ipês-rosas-, que substituiriam
muitas das que lá estão, algumas em
fase terminal. A fiação dos postes
iria para debaixo da terra. Sem a
fiação aérea e com os jeribás e ipês-rosas, árvores que, mesmo frondosas, não comprometem a visibilidade, as fachadas das lojas seriam valorizadas.
Atualmente, as folhagens, os fios e
os postes criam uma espécie de muro
e prejudicam a visibilidade das lojas.
"O próprio valor do imóvel é afetado
pela pobreza estética da rua", afirma Héctor. Espaços como a Oscar
Freire sofrem pesada concorrência
de shopping-centers, onde se oferecem lazer e segurança. Por causa
dessa concorrência, as lojas não
abrem aos domingos e vivem o risco
constante de desvalorização, que
afastaria sua seleta clientela.
Para atrair pedestres, as calçadas
seriam alargadas em alguns trechos,
que receberiam minipraças, pontos
de encontro próximos a cafés e a restaurantes. Os pisos não teriam desenhos, adornos; seriam lisos para não
concorrer com as lojas. "Um dos
principais problemas de São Paulo é
que aqui sempre se deu mais atenção ao carro do que ao pedestre. Deu
no que deu", ensina o arquiteto.
No estilo politicamente correto, o
projeto prevê rebaixamentos para
portadores de deficiência e sinais para orientar os cegos, algo inédito em
São Paulo. Kherlakian assegura que
os R$ 5 milhões para a reforma já estão garantidos, bancados por empresas. Aposta que, em breve, a Oscar Freire, numa versão civilizada,
vá entrar no roteiro cultural da cidade.
A idéia é fazer da rua um cenário
para eventos aos domingos, com
desfiles de moda a céu aberto, espetáculos de música e degustação de
vinhos, quando as lojas aproveitariam a movimentação para faturar
-e o paulistano ganharia mais
uma opção de lazer.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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